De acordo com o estudo, o biomarcador está localizado no líquido cefalorraquidiano (LCR). A constatação surgiu após os cientistas identificarem um baixo teor de DNA mitocondrial no LCR de pacientes com a doença. “Quando iniciamos o estudo, esperávamos encontrar o contrário: um alto teor de DNA mitocondrial no LCR de pacientes com a doença. Isso porque achávamos que esse DNA seria maior devido à quantidade de neurônios mortos”, explicou ao Correio Ramon Trullas, professor de pesquisa do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona e um dos autores do estudo.
Segundo Trullas, a carência de mitocôndrias pode ser a grande responsável pelo Alzheimer. “O número de cópias do DNA mitocondrial está associado com a quantidade de energia das células. São as mitocôndrias que fornecem a maior parte da energia para os neurônios. Quando eles não têm energia suficiente, reduzem a atividade e começam a degenerar. Assim, quanto menor a energia, maior a probabilidade de neurodegeneração”, destaca.
A descoberta é importante, já que os biomarcadores relacionados à doença ainda são pouco conhecidos pelos cientistas, o que dificulta o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento no período pré-clínico. Trullas adianta que a descoberta pode ajudar em futuras terapias da doença degenerativa. “Mas acho que a contribuição mais importante dessa descoberta é que, quando validada, ela poderá ajudar a identificar novos tratamentos terapêuticos”, aposta o pesquisador.
Agora, a equipe de cientistas busca encontrar resultados semelhantes em outros pacientes e, assim, seguir em busca de tratamentos que possam bloquear a degeneração dos neurônios. “O próximo passo é ter certeza de que esse achado é reproduzido em outros hospitais e com outros grupos de pessoas. Se a verificação for reproduzida, o próximo passo será identificar tratamentos terapêuticos que aumentem a quantidade de DNA mitocondrial em neurônios“, adianta Trullas.
Chance de mudar a evolução da doença
“Os biomarcadores são substâncias que podem ser dosadas e que espelham a fisiopatologia da doença, ou seja, como ela acontece e se é possível identificá-la em uma fase precoce. Isso já é de grande ajuda para uma terapia. Com os tratamentos que temos disponíveis, tratamos os sintomas do Alzheimer. A vantagem de identificar esses biomarcadores é para as drogas, que podem ser criadas para mudar a evolução da doença. Hoje, notamos um grande investimento de países como os EUA e a França em pesquisa e tratamento do Alzheimer, já que essa doença possui um custo social e econômico muito grande. São investimentos que valem muito a pena pois trarão enormes benefícios ”
Sônia Brucki, neurologista da Academia Brasileira de Neurologistas