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Klinge esclarece que 98% da saliva é água, e o restante é formado por compostos como eletrólitos, muco, substâncias antibacterianas e diversas enzimas. “Entre as muitas funções da saliva, estão o exágue, a limpeza, a lubrificação dos tecidos moles e a facilitação da mastigação”, enumera. “Muitos estudos têm demonstrado que, nesse material, podemos encontrar indicativos de doenças orais, mas, na saliva, também existem biomarcadores inflamatórios que estão associados a problemas sistêmicos. Cada vez mais se identificam, por exemplo, moléculas específicas de doenças como câncer de mama, males cardiovasculares e HIV na saliva”, diz.
Coleta simples
Björn Klinge conta que, por causa dessa característica, alguns médicos consideram a saliva o espelho do organismo. Para ele, os testes rápidos poderão revolucionar o acesso à medicina diagnóstica, pois a ideia é beneficiar pessoas que moram longe de grandes laboratórios e de clínicas que oferecem exames de imagem. “Além disso, o método pode ser muito mais barato”, diz. Como a produção diária de saliva é grande — de 600ml a até 2l —, o material é fácil de ser coletado, além de seguro, pois dispensa agulhas e seringas.
Outra vantagem, apontada por John T. McDevitt, professor de bioquímica da Universidade do Texas em Austin, é a possibilidade de obter diagnósticos mais precocemente. O cientista ajudou a desenvolver um teste que, pela saliva, detecta infartos em 15 minutos. “Muitas vítimas de ataque cardíaco, especialmente mulheres, têm sintomas não específicos e, quando são atendidas, já é tarde demais”, conta. “As doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo, então, é evidente que precisamos encontrar um meio de diagnosticá-las mais cedo para poder salvar milhares de vidas. Com algumas gotinhas de saliva, seremos capazes de fazer isso”, argumenta.
Em parceria com a Faculdade de Odontologia da Universidade de Kentucky, Devitt criou um método que faz uma varredura no líquido atrás de grupos específicos de proteínas já associadas a danos no tecido cardíaco. O paciente cospe em um tubo e a saliva é transferida para um dispositivo no formato de um cartão de crédito. O médico insere o cartão em um equipamento do tamanho de um smartphone, que vai procurar por 32 proteínas cuja concentração aumenta nos casos de arteriosclerose, trombose e síndrome aguda coronariana. “O que é fantástico é que conseguimos medir os níveis de tantas substâncias em apenas um teste e por meio de uma amostra não invasiva. Encontrar esses biomarcadores costuma ser uma tarefa difícil mesmo para instrumentos maiores e mais caros”, comemora o cientista.
O professor Björn Klinge ressalta, porém, que o único teste do tipo disponível atualmente no mercado é o que procura por anticorpos produzidos quando o organismo está infectado pelo HIV. Embora a saliva seja uma ferramenta extremamente promissora, ele diz é preciso aperfeiçoar os métodos diagnósticos que a utilizam como base antes de eles serem usados em grande escala. “No nosso estudo mesmo, fomos atrás de marcadores inflamatórios em geral. Os testes para detecção de doença precisam procurar por traços específicos de cada doença”, afirma. “Não restam dúvidas, porém, do imenso potencial da saliva para futuro método de diagnóstico.”
Coordenador do setor de estudos da Associação Americana de Pesquisa Dental, David Granger acredita que, em poucos anos, haverá exames para diversos tipos de doenças ao alcance da população. “Apesar de algumas limitações técnicas ainda existentes, essa é uma área na qual estamos investindo muito. Com os avanços da nanotecnologia, está sendo possível desenvolver dispositivos cada vez mais portáteis e seguros que fazem uma ‘leitura’ da saliva na busca de biomarcadores para diversos males. Países mais pobres serão muito beneficiados por esses exames, que serão responsáveis por salvar centenas de milhares de vidas”, acredita.
"Com os avanços da nanotecnologia, está sendo possível desenvolver dispositivos cada vez mais portáteis e seguros que fazem uma ‘leitura’ da saliva na busca de biomarcadores para diversos males. Países mais pobres serão muito beneficiados por esses exames, que serão responsáveis por salvar centenas de milhares de vidas”
David Granger, coordenador do setor de estudos da Associação Americana de Pesquisa Dental