

Há 15 anos, segundo Tamara, mães modernas de países como Estados Unidos e Alemanha começaram a se questionar sobre a dependência da fralda e qual a maneira de voltar atrás. O movimento cresce lentamente e as informações na internet já trazem experiências descritas em português. A higiene natural consiste em ler os sinais que o bebê dá antes de fazer xixi e cocô e oferecer um penico, balde ou até o vaso sanitário para a criança antes que o ato aconteça. No caso dos recém-nascidos, é importante apoiar as costas deles. As mães e os pais também podem se orientar pelos padrões dos filhos. Alguns bebês, por exemplo, sempre fazem xixi quando acordam ou cocô depois da mamada.
Na higiene natural o bebê pode ficar sem fraldas inclusive à noite. Clique aqui e leia a entrevista completa com Tamara Hiller

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Gabriel gosta de lembrar que os acidentes acontecem. “Não é uma preocupação de pegar todos os xixis, também não é prova de nada – de que a criança é inteligente ou os pais maravilhosos. Tem idas e vindas. Há dias que a gente não pega nenhum xixi. O importante é não focar no resultado, mas focar na relação”. Na época em que Nara Rosa nasceu, ele e a esposa moravam em Florianópolis, uma cidade mais fria, e muitas vezes os pais não conseguiam tirar as roupas a tempo. “Aqui na Bahia o Ravi já fica pelado e foi mais fácil. Ele não é uma criança cheia de camadas”, brinca. Para ele, o foco é comunicação e não o comportamento. “Em muitas vezes não percebemos sinal algum”, relata.

A forma como Gabriel relata a experiência dele e da esposa, a psicóloga Renata, é resultado de uma escolha de vida, a começar pelo parto domiciliar. A família vive em uma região rural de Itacaré, na Bahia, e a mãe conseguiu ficar um ano e meio ao lado da filha. Em seguida, foi a vez de Gabriel passar mais um ano e meio na companhia de Nara Rosa. Ambos se revezam na atenção integral aos filhos e conseguem trabalhar de casa.
Esse é um outro ponto de questionamento e preconceito com o método. Muitas famílias acreditam ser impossível realizar a higiene natural e conciliá-la com a rotina de trabalho e de casa. Talvez seja, mas Tamara Hiller faz questão de dizer para os desavizados: “a mãe não deixa seu bebê 24 horas em fraldas, mas também não precisa criar sem nenhuma fralda”.

Na tentativa, a pequena Mariah sujou muita roupa, consequência natural do processo, mas Lorena conta que se sentiu estressada e desatenta aos sinais profundos de seu bebê. “Foi pesando”, lembra. Tamara Hiller admite que a sensação de fracasso e pressão pode acontecer e sobrecarregar a mãe. “Mas só se o EC for mal entendido, o que infelizmente é comum. Hoje, nós esperamos regras e uma garantia a sucesso. Na verdade, criar um bebê não funciona assim. Com o EC não tem dar certo ou não dar certo. Um bebê está simplesmente eliminando e nós estamos ajudando da melhor maneira possível. Não deve entrar estresse, objetivos e a noção de sucesso ou fracasso”, afirma.
Lorena acredita que se o homem tivesse uma inserção maior na vida do bebê talvez a mulher não se sentisse tão sobrecarregada. “A finalidade do pai na nossa cultura é muito de apêndice, embora não deva ser e não seja”, reflete.

Mônica Maria de Almeida Vasconcelos é pediatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG
"O desfraldamento é um marco do desenvolvimento da criança e existem poucas pesquisas que abordam o impacto da retirada precoce de fraldas nas primeiras semanas de vida e de como, quando e qual a melhor forma de treinar os esfíncteres. Do ponto de vista maturacional, a partir de 1 ano e meio já se pode começar a retirada, mas não existe receita de bolo. Mas já sabemos que, apesar de não controlar, a criança dá alguns sinais quando quer fazer xixi e cocô. Na higiene natural é isso que a mãe aprende a entender. O que é importante lembrar é que no primeiro ano de vida, o desenvolvimento é tão rápido, que é importante não canalizar a energia para uma coisa só. Não temos elementos para rechaçar esse método, quem trabalha com ciência não pode fechar os olhos para nada.
Precisamos observar se a prática se aplica à nossa realidade. Na Mongólia, por exemplo, os meninos têm um triângulo aberto na fralda desde bem cedo, é cultural. A higiene natural é um processo que exige demais da mãe, que já é cobrada por tanta coisa: a amamentação, a vacinação em dia, um bebê sem assadura".