Tamanho é documento sim. Pelo menos para as mulheres. Pelo menos em relação aos seus seios. Redondos... empinados... fartos... Elas querem o melhor para a parte do corpo que consideram a essência da feminilidade. Afinal, para 94% delas, seios maiores são sinônimo de autoestima elevada. E não é papo de clube. Nem de rodinha de amigas. Os dados são de uma pesquisa que ouviu 400 mulheres das classes A e B, com idades entre 18 e 45 anos, nas principais capitais do país: Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro.
Belo-horizontinas estão em vantagem. São as mais satisfeitas com o corpo: 78,6%, contra 58,2% das paulistas, as segundas mais desencanadas. De forma geral, entretanto, a maioria das entrevistadas tem muita ou alguma preocupação com a estética, sendo as da faixa de 35 a 39 anos as mais contentes com o corpo. Barriga tanquinho, o principal sonho delas, demanda um esforço, às vezes, sobrenatural. Peitos fartos, por outro lado, o segundo maior desejo, estão a um piscar de olhos, certo investimento e uma dose de coragem: é preciso “ter peito”.
O Brasil é hoje o segundo país em número de cirurgias para aumento das mamas, com quase 149 mil implantes de silicone por ano de acordo com a International Society for Aesthetic Plastic Surgery (Isaps). Os Estados Unidos, terra dos seios enormes, têm quase o dobro. E mesmo assim pode ser um tabu dizer, a quem interessar, que se faz parte das estatísticas. A advogada M.F, de 33 anos, prefere não se identificar. Mas tem hoje os seios com que sempre sonhou.
A desproporcionalidade do corpo a incomodava desde a adolescência. Como a maioria das brasileiras, tinha o bumbum grande, mas os seios muito pequenos. Teve que esperar se tornar adulta para, já com o corpo formado, recorrer à protese, nove anos atrás. “Era um sonho, capaz de superar até meu receio por cirurgias. Os seios são, para mim, a característica feminina mais expressiva. Após a cirurgia, minha autoestima aumentou, fiquei mais segura para me vestir e até mesmo agir”, acredita. Para a psicóloga Ana Canosa, diretora da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, como parte que nos diferencia do corpo masculino, os seios são fonte de atratividade sexual e adquiriram ‘status’ de poder e sensualidade. “O corpo da mulher brasileira é modelo de sensualidade para o mundo todo e o aspecto cultural do ‘corpo modelo’ também influencia a autoestima feminina. E são os seios o símbolo máximo da feminilidade, tanto no aspecto da sensualidade quanto da maternidade”, defende.
SINÔNIMO DE AUTOESTIMA
Metade das mulheres usa sutiã com enchimento e, quanto mais novas, mais recorrem ao recurso. O estudo do Instituto de Pesquisas Ideafix com mulheres de cinco capitais brasileiras revela como elas valorizam o tamanho dos seios e sonham com volumes maiores: três em cada dez pensam em aumentá-los. Esse despontar dos seios não é novo. Já para os evolucionistas, as mamas se projetaram na fêmea do Homo sapiens para amamentar, mas também como meio de chamar a atenção dos homens, sexualmente. Elas são a representação do feminino, em seu aspecto erótico e materno. São também fonte de excitação, uma importante zona erógena do corpo feminino.
Segundo a psicóloga Ana Canosa, desde que os implantes de prótese mamária ficaram populares, as mulheres começaram a prestar atenção no formato, no tamanho e na harmonização das mamas com o corpo. Para ela, seios grandes chamam mais atenção porque deixam o colo mais definido e preenchem decotes. Além disso, existe a ‘cultura americana’ dos seios fartos, modelo que seguimos por algum tempo. “Atualmente, mesmo que as mulheres achem os cheios fartos mais sexies, a maioria espera que o resultado da cirurgia seja o mais natural possível, revelando que a mulher brasileira está buscando encontrar o seu jeito, sem seguir padrões preestabelecidos.”
A assistente judiciário Deborah Brum, de 24 anos, considerava seus seios pequenos desde quando o corpo de mulher começou a se desenvolver. Inicialmente, Deborah se comparava à mãe e à irmã, mas como elas tinham seios de tamanho razoável, o seu, pequeno, começou a chamar mais atenção. “Vestia um decote e não me sentia bem. Não me sentia bonita. Isso me incomodava. Sentia que não ficava com o colo tão bonito.” A constatação de que muitas roupas não caíam bem fez o incômodo crescer gradativamente, até que veio a vontade de fazer uma cirurgia de implante.
Deborah não queria nada extravagante. Pelo contrário. Pediu ao médico um aspecto natural, que deixasse o colo bonito e que o tamanho fosse compatível com seu corpo. A cirurgia foi há quatro anos e Deborah se sente completamente realizada. “Depois da mudança me senti maravilhosa. Ficou como eu queria, com um aspecto bem natural. Tanto que muitas pessoas nem sequer percebem.” Para ela, a colocação da prótese significa algo infinitamente além de usar um sutiã de manequim maior. “Ressaltou minha feminilidade. Eu me sentia menos feminina por ter o seio pequeno. Observava outras garotas e isso ia me dando alguns complexos.”
Inibidor do desejo
Muitas mulheres relatam diminuição no desejo sexual após a gravidez. Geralmente, isso é ação da prolactina, hormônio que estimula a lactação e é um grande inibidor do desejo. Mas há também o cansaço, a preocupação com o recém-nascido, o corpo diferente. Com frequência, não só as mulheres, mas também os homens, ficam sem saber o que fazer com os seios durante o sexo, quando a mulher ainda está amamentando, por medo de estimular e sair leite. Isso pode provocar uma rejeição ao sexo, principalmente quando as mamas são um órgão importante de excitação no jogo sexual.
TERCEIRA NO RANKING
A cirurgia de aumento da mama perde apenas para a lipoaspiração e para a abdominoplastia na classificação de intervenções mais solicitadas pelas brasileiras
Elas querem seios grandes, mas pouco sabem da cirurgia capaz de tornar esse sonho possível. Quase 90% das mulheres ouvidas pela pesquisa sobre satisfação com o corpo não conhecem nenhuma marca de silicone, mais de 60% não têm informação sobre tamanhos e 58% desconhecem preço. Mesmo assim, a cirurgia de aumento de mama é a terceira mais desejada pelas brasileiras, perdendo apenas para lipoaspiração e abdominoplastia.
Segundo o cirurgião plástico Marcelo Versiani, secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Minas Gerais, a procura se torna maior a cada ano. Os volumes desejados também crescem. “Os implantes hoje considerados pequenos, no passado, eram tidos como de grandes dimensões. Essa proporção cresce paulatinamente e os motivos são multifatoriais”, defende.
Uma das causas do boom é a aceitação dos implantes de silicone no mercado americano, em 2005, quando foram liberados pelo Foods and Drugs Administration (FDA), o correspondente à nossa Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Isso trouxe um impacto muito grande na aceitação do silicone. Como se ele tivesse sido desmitificado.” Outras causas são a busca pela estética e aceitação social, assim como maior acesso à cirurgia.
A servidora pública federal Karina Medeiros de Abreu, de 34 anos, prometeu juntar dinheiro para mudar o que lhe incomodava desde a adolescência. “Desde que me entendo por gente estava insatisfeita com meus seios. ‘Como pode uma pessoa de 25 anos ter os seios caídos?’, me perguntava. Não gostava do formato. Aquilo me incomodava demais”, conta ela, que fez a cirurgia há três anos.
A cirurgia de Karina durou 11 horas, porque combinou outros procedimentos. Segundo Marcelo Versiani, o tempo de uma cirurgia de implante mamário é bem variado, mas em média leva duas horas. O pós-operatório também varia de paciente a paciente, conforme a sensibilidade individual de cada um. “Em geral, requer alguns cuidados especiais e algumas restrições com movimentação, atividades físicas, cuidados com traumatismo, carregar peso e posicionamento para dormir”, explica.
PROPORCIONAL
Nada muito complicado, segundo a biomédica Adriana Cipriano, de 26 anos, que há seis meses passou pela experiência. Seus seios, na verdade, nunca foram um incômodo. Mas ela achava que ficaria bonito se fossem proporcionais ao corpo. “Quando colocava vestido, sempre queria dar uma proporcionalidade. Desde a adolescência pensava em colocar, mas, como o corpo é inconstante, esperei um pouco.”
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A cirurgia foi algo bem doloroso para Adriana. “Nos primeiros dias é muito dolorido. Quase me arrependi. Doeu e incomodou muito. Não conseguia me mexer, mexer o braço. Tive que esperar dois meses para voltar às atividades físicas. Mas gostei do resultado. Aumentou minha confiança e a satisfação com meu corpo”, acredita.
MITOS E VERDADES
» Implante de silicone mamário interfere na atividade física.
MITO. O único momento em que a mulher deve tomar cuidado em relação à atividade física é no pós-operatório. Exercícios físicos que utilizem os braços de forma intensa, como musculação, corrida ou atletismo, só são permitidos após 60 dias da realização da cirurgia.
» O corpo pode rejeitar o implante de silicone.
MITO. O que pode acontecer é a formação de uma contratura capsular. O organismo sempre
produz uma cápsula ao redor de um corpo estranho introduzido. Esta cápsula pode se contrair, comprimindo o implante, causando desconforto, dor, deformação do formato do implante e, em alguns casos extremos, até a ruptura.
» A cirurgia plástica só pode ser realizada em hospital.
MITO. De acordo com uma legislação do Ministério da Saúde, tanto as clínicas de cirurgia quanto os hospitais estão habilitados para executar o procedimento operatório e também para prestar o pronto-atendimento de urgência no caso de complicações. No caso das clínicas cirúrgicas, é necessário haver uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
» Os implantes podem se romper.
VERDADE. Isso é muito raro de acontecer (menos de 1% dos casos, segundo estudos internacionais). Nos implantes mais modernos e de fabricantes certificados pelas agências reguladoras, é muito difícil ocorrer o rompimento, pois as membranas são reforçadas.
» Implantes mamários dificultam a mamografia.
MITO. A mamografia pode ser feita em pacientes com implantes de silicone tanto abaixo da glândula como abaixo do músculo, sem prejuízo ao implante e à visualização de lesões. É importante informar no momento do exame sobre a existência do implante de silicone.
» Há uma idade certa para colocar o implante mamário.
VERDADE. A cirurgia plástica só pode ser feita depois que a paciente tiver completado o desenvolvimento das mamas, o que normalmente ocorre entre 16 e 18 anos. A cirurgia pode ser recomendada para menores de 18 anos, desde que o caso seja avaliado individualmente pelo médico.
» Implante de silicone atrapalha a amamentação.
MITO. Habitualmente, o implante mamário não causa nenhum dano às glândulas mamárias, pois sua colocação é feita num plano abaixo do tecido mamário, não afetando a inervação do mamilo nem os canalículos, responsáveis pelo transporte do leite.
» Implantes de silicone aumentam o risco de câncer de mama.
MITO. Não há evidências científicas que relacionem implantes mamários e câncer de mama. Um grande estudo com mulheres que fizeram aumento mamário e foram seguidas por 15 anos mostrou que os implantes de mama preenchidos por gel de silicone não estão relacionados com aumento de risco.