Saúde

Casamento homoafetivo avança enquanto terapias de 'cura gay' recuam

Depois da Califórnia e de Nova Jersey, Nova York e Massachusetts estudam adotar a proibição das terapias nos Estados Unidos

AFP / Relaxnews

Ativistas celebram o primeiro casamento gay na Colômbia
Os tratamentos para gays, muito polêmicos e denunciados há anos pela comunidade médica, têm perdido terreno nos Estados Unidos. Enquanto isso, a aprovação do casamento homossexual avança. Depois da Califórnia e de Nova Jersey, Nova York e Massachusetts estudam adotar a proibição das terapias de "cura gay".


Apesar disso, os tratamentos de "conversão" ainda existem, muitas vezes ligados a grupos cristãos conservadores que os realizam com a ajuda de terapeutas. Ryan Kendall, um estudante de 30 anos que cursa Ciência Política na Universidade de Columbia, em Nova York, não consegue encontrar palavras duras o suficiente para condenar essas práticas. Aos 14 anos, seus pais - cristãos conservadores - descobriram através do seu diário pessoal que Kendall era homossexual.

Embora já soubesse que não iria mudar sua orientação, entre os 14 e os 16 anos Ryan foi obrigado a se consultar com vários terapeutas. "Eles me disseram que menos de 1% da população mundial era gay, que eu iria morrer de Aids antes dos 30 anos, que Deus, minha família e a sociedade não gostavam de mim como eu era", explica.

Ryan ficou dois anos nessa situação, em um período marcado por desejos de suicício e por uma ruptura completa com a família. "Eu perdi tudo: minha família, minha fé, minha casa, minhas oportunidades de estudar e, durante os dez anos seguintes, estive deprimido, às vezes sem-teto, e acabei abusando das drogas", conta.

Kendall conseguiu superar a situação, decidiu continuar a faculdade de Direito na Universidade de Yale e se tornou um símbolo da luta contra este tipo de tratamento, que, a seu ver, deixa graves sequelas. "Você desenvolve sintomas pós-traumáticos com os quais deverá conviver por toda sua vida", argumenta.

"É doloroso"
Em junho deste ano, foi anunciado o fechamento da organização mais antiga na defesa de que os gays podem mudar de orientação sexual através da terapia e da oração. A Exodus International, fundada em 1976, tinha cerca de 150 escritórios nos Estados Unidos e no Canadá. Antes do encerramento, seu presidente, Alan Chambers, pediu desculpas pela "dor e sofrimento" causados. No ano passado, ele reconheceu que 99,99% dos tratamentos de "cura gay" não são capazes de mudar a orientação sexual.

No entanto, alguns terapeutas persistem. Em Nova Jersey, a doutora Tara King teme a possibilidade de que o estado proíba a terapia de "conversão" até os 18 anos. "Se a lei passar, vou parar", disse ela em seu escritório na cidade de Brick, sentada ao lado de uma Bíblia enorme. Para esta "ex-lésbica" cristã, de 49 anos, trata-se de um ataque à liberdade religiosa e à liberdade de expressão. Na sua opinião, o Estado não deve dizer aos pais como criar seus filhos.

Ela mesma se diz "convertida" graças a nove longos anos de tratamento porque, aos 24 anos, não conseguia mais conciliar sua fé com a homossexualidade. "Dava muito trabalho, é doloroso. É como o que acontece com os alcoólatras: alguns podem sentir vontade de beber anos depois", confessa.

Em muitos casos, seus pacientes são mandados pelos pais. "Só falamos do que o paciente quer falar. Não questionamos seu modo de pensar; oferecemos soluções. Não acho que o diálogo cause dano", acrescenta, admitindo que, se o jovem não quiser mudar, ela não poderá fazer muito. King continua acreditando que um trabalho pessoal permite fazer que os gays se tornem heterossexuais. "Esse não é o caminho que Deus prefere para eles", afirma.


Papa Francisco
O líder da Igreja Católica se pronunciou sobre o assunto nesta segunda-feira. No avião que o levava do Brasil a Roma, após a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco ressaltou que não pretende julgar os homossexuais. O Papa considerou que "não se deve marginalizar pessoas que precisam ser integradas à sociedade".

"Se uma pessoa é gay e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?", ressaltou. Esta foi a primeira coletiva de imprensa concedida por Francisco desde que foi eleito para o trono de Pedro, em março.