O primeiro passo é buscar uma academia com estrutura adequada e professores qualificados, para garantir todos os benefícios que a prática oferece: emagrecimento, concionamento cardiorrespiratório, enrijecimento muscular e melhoria da coordenação motora fina, por um lado; e também força, concentração, autoconfiança, técnicas de defesa pessoal e controle dos impulsos, de outro. “Há outras duas coisas muito interessantes no nosso método de ensinar o kickboxing: a ambidestria – ou seja, se você for destro, amplia sua capacidade de usar os membros do lado esquerdo e vice-versa; e também aprende a controlar mais as emoções e agir no momento certo”, define Ely Pereira e Silva, o Mestre Ely, como é conhecido entre os praticantes.
Entusiasta dos aspectos lúdicos e de bem-estar da luta, Ely é vice-presidente da Federação Mineira de Kickboxing (FMK), atua como técnico em eventos da Confederação Brasileira (CBKB) e dirige a academia que leva seu nome há 19 anos. Flexível, a luta permite que você faça aulas coletivas – ótimas para conhecer gente nova e ter contato com atletas - ou ainda optar pelo personal, que permite atingir objetivos bem mais específicos. “A aluna que quiser afinar o braço ou a coxa, por exemplo, pode trabalhar movimentos precisamente para essa meta”, explica Ely.
Interesse crescente
O professor Thiago Michel Pereira da Silva, 29 anos, é tricampeão da Copa do Mundo e do Pan-Americano de Kickboxing. Além disso, é detentor de títulos de MMA (sigla para Mixed Martial Arts) e filho do Mestre Ely. Ele começou a treinar Tae-Kwon-Do aos 6 anos e nunca deixou o tatami. Agora, está vendo o perfil dos interessados nas lutas mudar. “O esporte tem crescido muito como alternativa às atividades físicas que são mais monótonas. Mais de 90% dos praticantes não têm intenção de competir, mas simplesmente não conseguem parar de treinar porque a aula é muito dinâmica”, explica.
Para o atleta, o kickboxing tem conseguido reverter a visão de atividade masculina. “Logo depois da 1ª aula, as meninas percebem que o corpo todo foi trabalhado e já têm aquela sensação boa de descarregar a energia represada. Extravasar por meio da luta não é mais só coisa de homem”, define Thiago. Outro diferencial é que os alunos não são obrigados a encarar o combate. “Você aprende os golpes, aprende a não se machucar, ganha mais segurança, mas ninguém é obrigado a lutar”, aponta Thiago.
Ely completa que esse ‘dever’ era muito comum nas academias, logo no primeiro dia. “Quem não lutava era expulso. Eu tive a sorte de ser habilidoso desde muito novinho, mas algumas pessoas precisam de mais tempo para decidir pelo combate. Hoje o cenário mudou, ainda bem. No final dos anos 70, para você ter uma ideia, mulher nem entrava em uma academia para treinar”, conta o mestre, aos 53 anos, 36 deles dedicados às artes marciais e à luta.
Outro fator que contribuiu para aumentar a procura foi o interesse crescente pelo MMA. “O kickboxing combina o boxe inglês com chutes de outras modalidades, como o muay thai. Isso acelera a evolução no conjunto de técnicas do MMA”, explica Thiago. “Hoje, o público não é leigo. Todo mundo assiste a lutas e vídeos de mestres do mundo inteiro e quando chegam aqui, perguntam sobre os golpes, questionam as técnicas. Só é enganado quem quer”, brinca Ely.
Campeão Sulamericano, Pan-americano e da Copa do Mundo, o professor Alisson de Angellis (33) chegou ao kickboxing há oito anos, atraído pelo estilo dinâmico e pela intensa movimentação da luta. “As aulas podem ser coletivas ou individuais, dependendo do objetivo e de como o aluno fica mais à vontade. É possível atender a um público variado – homens, mulheres, pessoas de todas as idades”, explica o atleta, que agora busca patrocínio para ir ao Campeonato Mundial de Kickboxing, na Turquia, que acontecerá em novembro deste ano (clique aqui e saiba mais).
Boa forma e superação
A advogada Natália Elias Utsch de Castro, de 25 anos, pratica o esporte há um mês. “Sempre procurei uma atividade mais dinâmica para complementar a musculação e buscava uma luta que atendesse a essa necessidade. No kickboxing, uma aula é sempre diferente da outra – os movimentos mudam, a ordem muda. O ciclo de chutes, socos, abdominais faz com que você não perceba a aula passando. Quer dizer, a não ser pelo suor, né?”, aponta ela.
A aluna já percebeu que a coordenação motora – “eu era péssima” - melhorou e o bom humor também – “falo o que o mestre mandou e penso em algumas pessoas específica quando estou socando o saco de pancada”. E ela tira de letra brincadeirinhas do tipo: 'nossa, você faz luta? Seu namorado tem que ficar esperto, então!'. “Minhas luvas são cor-de-rosa, tenho o maior orgulho de treinar. E já indiquei para as minhas amigas: além de dar uma enxugada no corpo, é ótimo para desestressar”, conta a advogada.
Já Clarissa Maria de Campos Freitas, de 20 anos, é estudante de arquitetura e tinha tentado vários esportes. Nenhum deles conseguiu prendê-la. Competitiva, descobriu a luta pela internet e hoje é atleta amadora de kickboxing. Já participou dos campeonatos mineiro e brasileiro e treina cinco vezes por semana. “Além disso, o kickboxing me ajuda a enfrentar o lúpus*. Como a doença é autoimune, quanto melhor eu estiver comigo mesma, menos problemas vou ter. Gasto tanta energia aqui que fico com preguiça de ficar brava com qualquer coisa. O resultado é que meus exames já melhoraram muito, a medicação foi reduzida e meu médico já colocou o filho dele para fazer aulas de luta também”, comemora.
A estudante diz que a vida melhorou em vários aspectos, porque parou de ingerir bebidas alcoólicas, passou a cuidar mais da alimentação e regular o sono. “Todo mundo diz que eu não tenho cara de lutadora, mas é isso mesmo – não existe mais cara para isso. Só que ainda são poucas as meninas que competem, então tenho que treinar com os homens. Isso exige muito mais de mim, por mais que eles tentem me acompanhar. Cada luta é um esforço sobrenatural, uma meta cumprida”, conta Clarissa.
Outro fator muito importante, para ela, é o respeito. “Não gosto só do kickboxing, gosto das pessoas que praticam, e esse ambiente eu nunca havia encontrado em outros esportes. A minha meta é a saúde, mas conquistei também uma família. Os professores e atletas são mestres no que fazem e sempre me tratam com respeito, dentro de uma relação que considera a hierarquia, mas ao mesmo tempo é aberta”, afirma Clarissa.
A família dela também entrou no ritmo e a mãe, empresária, sempre tenta ajudar os atletas com os custos das competições. “A batalha por patrocínio é dura e acabei envolvendo a família toda na causa”, brinca a estudante.
*O lúpus é uma doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres do que nos homens, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico
Na real
Com dezenas de títulos no currículo de lutador e técnico, Mestre Ely reforça que é fundamental procurar uma academia credenciada e defende uma postura ética dentro e fora do tatami. “O aluno ganha confiança, mas aprende também a controlar seus impulsos e percebe que não é super-herói. Ninguém deve sair brigando por aí, em nome da ‘legítima defesa’. A melhor defesa é, em muitos casos, sair da festa, da boate. Aqui na academia, o colega é um parceiro de treino, não um inimigo”, pondera.
E para quem não quer competir, Ely também é muito firme e realista. “Ninguém ganha um corpo novo em um mês. Isso vai depender do empenho, da adaptação aos exercícios, dos fatores genéticos. Mas posso garantir que os resultados são rápidos para quem se dedica”, resume Ely, que se orgulha de ter sido o primeiro personal trainer do estilo na capital mineira.
Fui para a aula com medo. Gente, kickboxing, chutar a galera, socar a galera, acho que não vou conseguir (lembram que eu falei de uma certa dificuldade em ‘bater’ nos outros?). Cheguei adiantada e o filho do Mestre Ely, Thiago, já me explicou de cara que a luta não era uma obrigação. Ufa, pensei, então há esperança.
Sem cumprimentos e saudações, típicos de outras formas de luta, a aula começa já em ritmo alucinante - e, como todos os entrevistados fizeram questão de destacar, dinâmico. Pulos, socos e chutes no ar, abdominais. Acabou? Não. Socos e chutes no saco de pancada. Mais abdominais. Como diz o Mestre Ely, é aquela velha máxima: enquanto descansa, carrega pedra.
Na aula coletiva, muitos exercícios são feitos em dupla. Os golpes não são aplicados no parceiro: ele fica a uma distância segura e serve como referênciapara a altura do soco e do chute. E também para você lembrar que deve manter sua guarda sempre posicionada. Um aspecto muito positivo da turma é o clima de colaboração e respeito.
O professor desta turma de segunda-feira à noite, Alisson, é atencioso e corrige os movimentos dos iniciantes. Mas não dá moleza. Volta pro chão! Mais 20 abdominais. Mais socos! Com a mão direita. Com a mão esquerda. Com o pé direito. Com o pé esquerdo. De tempos em tempos, um intervalinho para beber água. E ele é necessário, viu?
Óutra coisa que o professor é: fera. Poxa, meus golpinhos tímidos ficam muito a dever aos movimentos de um campeão. Mas, assim como aconteceu no balé, o exemplo é motivo para tentar se aproximar, e não uma forma de intimidação.
Ah, e aposto que há muita gente por aí lendo e se perguntando: sim, sim, é muito bom socar e chutar o saco de pancada. Principalmente quando você vai se soltando ao longo da aula e percebe que pode descarregar mais força nos golpes.
Variação
Essa ‘experiência do repórter’ foi dupla: pude experimentar também como é a aula individual, com o Mestre Ely. Cuidadosamente, ele me ensinou como colocar a bandagem e calçar as luvas. Com voz tranquila, mas absolutamente firme, ensinou como melhorar minha base – posicionamento dos pés – e também o encaixe dos golpes.
Ao mesmo tempo em que me estimula a desferir os golpes – desta vez não usamos o saco de pancadas, e sim as mãos do mestre, protegidas por equipamentos de espuma próprios – Ely ensina os jargões próprios. E lá vou eu com meus jabs - golpe frontal com o punho que está à frente na guarda; e diretos - golpe frontal com o punho que está atrás na guarda. É tudo muito rápido e logo já estou praticando também os chutes.
O mestre não pede, exige ou cobra: ele simplesmente determina, com o ritmo e tom de voz, que eu tenha agilidade. É quase como mágica. Em minutos, já estava fazendo sequências de socos com as duas mãos, uma após a outra; e de chutes com as duas pernas. Equerda e direita. Direita e esquerda. E depois ainda tinha que tomar o cuidado de retornar ao posicionamento correto dos pés. Mais um, mais um!
Aquele papinho todo de humildade e respeito? Tudo verdade. O clima da aula, tanto coletiva quanto individual, é de trabalho intenso, mas ao mesmo tempo não há agressividade. Com sua postura de mestre – no sentido de professor; e não no sentido de ídolo inatingível – Ely deixa claro que meu ritmo na aula também pode ser intenso e, ao mesmo tempo, prazeroso e divertido. É como se, de repente, eu tivesse certeza de que posso melhora minha postura, meu condicionamento físico, meu posicionamento, meus golpes.
Entre entrevistas, fotos e aula, fiquei três horas na academia. Fui para a casa com a cabeça vazia de preocupações e tive uma noite de sono bem pesado. Com sonhos leves.
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O quê? Kickboxing
Onde? Ely Kickboxing MMA – São duas unidades: O estúdio, mais focado em aulas individuais, fica na Rua Sergipe, 1062 – Funcionários. O Centro de Treinamento, onde essa matéria foi realizada, foi recém-inaugurado e fica na Rua Padre Eustáquio, 920 – Bairro Carlos Prates. Agendamento de aulas coletivas e com personal: Mestre Ely Pereira (31) 9105-5895 e Thiago Michel (31) 9821-5895 www.elykickboxing.com.br e facebook.com/ElyKickboxingMMA
Preço?
-Aulas coletivas, no Centro de Treinamento: 1x por semana, R$90/mês; 2x por semana, R$120/mês; 3x por semana, R$150/mês. Os preços são diferente na Unidade Funcionários (Estúdio): 1x por semana, R$100/mês; 2x por semana, R$140/mês; 3x por semana, R$160/mês
-Aulas individuais, em qualquer unidade: 1x por semana, R$60/hora-aula; 2x por semana, R$54/hora-aula; 3x por semana, R$50/hora-aula
-Aula em dupla, em qualquer unidade: 1x por semana, R$46/hora-aula por pessoa; 2x por semana, R$40/hora-aula por pessoa; 3x por semana, R$38/hora-aula por pessoa.
Investimento em equipamentos? Um bom par de luvas custa entre R$100 e R$150 reais e dura, em média, um ano. O aluno vai precisar adquirir ainda o protetor de canela, por R$100, o protetor bucal, por R$30; e a bandagem, que protege a mão como se fosse uma meia e pode ser adquirida em qualquer loja de materiais esportivos, por R$30 em média.
Pré-requisitos: É necessário fazer uma avaliação física prévia. Para quem está se achando velho para começar, saiba que não há restrição de idade máxima.
Contraindicações: Portadores de algumas cardiopatias podem sofrer restrições.
Dicas: Quando me preparei para a aula, escolhi um figurino que julgava apropriado: blusa com capuz, brinco bem pequeno, tênis de corrida. Achei que ia ganhar estrelinha, mas foi bomba direto. Brinco nem pensar. Aquelas cordinhas que geralmente acompanham o capuz também atrapalham. A aula é feita de meia ou descalço. Calça ou bermuda tanto faz, mas percebe-se que os atletas profissionais preferem a bermuda, característica do boxe. Ou seja: roupa simples e confortável. Nada de firula. Outra dica é sempre lavar cuidadosamente a bandagem e fazer a assepsia da luva. Como o Mestre Ely ressaltou, tem gente que sai da academia, coloca a bolsa com o equipamento no porta-malas e só tira na aula seguinte. Meus amigos, o ‘chulé’ que fica nesse negócio, vou te contar...bora largar mão de ser preguiçoso.
Avaliação final: Lá se foi o medo de não gostar de uma aula de luta...O kickboxing foi, ao lado do circo, a aula que exigiu mais do corpo e mostrou mais potencial para emagrecimento e definição da musculatura. De quebra, saí de lá convencida a experimentar o jiu jitsu. Será?
A série Manual do Iniciante faz um 'test drive' de atividades ligadas à saúde e ao bem-estar. Se você quiser sugerir um tema, mande uma mensagem para saudeplenauai@gmail.com