Com o encerramento da primeira fase do levantamento, o grupo pesquisado foi reduzido para seis plantas. “São as que apresentaram características mais promissoras”, pontua Vilegas. Uma é a Bauhinia holophylla, “parente” da Bauhinia foticata, a árvore conhecida como pata-de-vaca, cujas folhas são utilizadas no tratamento da diabetes. A doença surge da incapacidade do pâncreas de produzir insulina, o que provoca a elevação das taxas de açúcar no sangue. A pata-de-vaca é comum na Mata Atlântica, e seu tronco espinhoso chega a medir entre 8m e 9m de altura.
A Solanum paniculatum, popularmente conhecida como jurubeba, também está no grupo sob análise. A planta apresentou resultados animadores para o tratamento de úlceras e alguns tipos de inflamação. Comum em todo o território brasileiro, é usada como digestivo e para o tratamento de doenças do fígado. O estudo também levou para o laboratório a Terminalia catappa, ou chapéu-de-sol, que poderia ser usada contra doenças do estômago. No entanto, os estudos acusaram a existência de substâncias capazes de provocar mutação nas células.
“Induzimos uma úlcera, por exemplo, em camundongos e aplicamos as plantas como tratamento”, relata o professor. A próxima fase do estudo prevê a utilização de cobaias humanas. Conforme Vilegas, um dos objetivos do estudo é tentar reproduzir, em laboratório, as substâncias terapêuticas encontradas nas plantas, o que possibilitaria a produção em larga escala de medicamentos e, ao mesmo tempo, contribuiria para a preservação do meio ambiente.
O professor admite a possibilidade de novas plantas serem introduzidas no levantamento. Depois de conduzir a pesquisa a partir de Araraquara (SP), Vilegas foi transferido para o câmpus da faculdade em São Vicente, no litoral do estado. “A pesquisa agora envolverá animais invertebrados e algas marinhas”, acrescenta. O estudo conduzido por Vilegas recebe recursos dos governos federal e estadual. O custo é estimado entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. A pesquisa deverá ser concluída em 2020.
Economia
De acordo com Alex Botsaris, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia, a estratégia de coletar dados nas comunidades para encontrar plantas que possam ser transformadas em remédios é a mais eficiente no mundo. “Tentaram coletar aleatoriamente, nos Estados Unidos, ativos na natureza que pudessem ser utilizados no tratamento do câncer. Cerca de 7 mil amostras foram levadas para o laboratório e apenas seis tinham potencial para uso, o que significa, entre outros pontos, que esse tipo de busca causa redução de investimentos para se encontrar uma molécula ativa”, defende Botsaris.
Ele cita como exemplo um dos remédios mais usados no mundo, o ácido acetilsalicílico, empregado no combate a dores e à febre. A droga é produzida a partir da casca do salgueiro-branco. A árvore, encontrada em regiões de clima temperado (como o centro e sul da Europa, norte da África e oeste da Ásia), era usada por indígenas para o tratamento dos mesmos sintomas. O controle das pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos a partir de substâncias encontradas em plantas e animais é feito no Brasil pelo Conselho de Gestão de Patrimônio Genético (Cgen), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, do qual participam representantes de outras pastas, como Ciência e Tecnologia; Saúde; Justiça; Agricultura; Pecuária e Abastecimento; Defesa; e Cultura. Integrantes da Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia, e de ONGs também têm assento no conselho.