Pesquisas realizadas nos últimos 40 anos mostram que os adoçantes não têm impacto direto na perda de peso nem efeitos positivos na prevenção de problemas de saúde, como o diabetes tipo 2, a hipertensão e as doenças cardiovasculares. Além disso, a ingestão dele está ligada a mudanças nos mecanismos de resposta do cérebro a sabores doces, o que pode impactar a sensação de saciedade. Um estudo divulgado, neste mês, na revista científica Cell Press, traz um novo complicador ao produto. Ao analisar estudos sobre os edulcorantes feitos nos últimos anos, a professora de neurociência comportamental Susan Swithers concluiu que eles podem até ter um efeito contrário ao esperado.
“Uma vez que os adoçantes não oferecem energia, logo o consumo deles pode induzir as pessoas a procurarem alimentos calóricos que supram a necessidade energética e de satisfação”, explica Swithers. A pesquisadora sugere que o ideal é reduzir o consumo tanto de açúcar quanto de adoçante. “Os dados indicam que a melhor estratégia seria diminuir a totalidade do uso de produtos adoçantes. Simplesmente substituir o açúcar por adoçante artificial não parece ter produzido resultados positivos na saúde”, explica a professora da Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos.
O gosto doce é conhecido por estimular respostas fisiológicas que ajudam a manter o equilíbrio energético no corpo. Ele sinaliza ao organismo a entrada de alimentos com alto valor energético, facilitando a absorção e a utilização da energia. Os adoçantes, por outro lado, têm um gosto doce intenso, mas baixo valor calórico. “O uso de adoçantes pode enfraquecer a ação do sabor doce como um sinal da ingestão de alimentos energéticos”, ressalta Swithers.
A ingestão contínua do produto pode comprometer de vez os mecanismos de absorção de alimentos mais energéticos. “Ao diminuir a habilidade do organismo de prever a chegada de calorias, a ingestão de adoçantes artificiais pode vir a reduzir a eficiência da utilização da energia adquirida em alimentos doces em geral e também prejudicar os mecanismos de saciedade”, explica a autora do artigo.
Especialista em nutrição humana, Fabiana Nalon alerta que há um falso entendimento de que, pelo fato de substituir o açúcar, o edulcorante pode ser usado indiscriminadamente. Ela conta que teve uma paciente que colocava dois sachês de adoçante no copo de suco de laranja dos netos. “É óbvio que problemas vão surgir, já que a criança fica acostumada com o sabor excessivamente doce”, diz a nutricionista.
O indicado é que os produtos adoçantes em geral sejam usados apenas quando houver necessidade. “É uma questão de educar o paladar. O ideal e correto é aprender a gostar do sabor do alimento natural e não mascará-lo com o sabor mais doce”, ressalta Nalon. Se seguir o conselho é impossível, o melhor é usar o adoçante, uma vez que ele tem baixo teor calórico, sugere a especialista.
Efeitos misteriosos
Segundo levantamento da empresa de pesquisas Kantar WorldPanel, os edulcorantes marcam presença em 30,8% dos lares brasileiros. Ao contrário do que se poderia pensar, o consumo do açúcar não diminuiu com a chegada desses produtos às prateleiras. “As pessoas estão acostumadas com alimentos muito doces. E, apesar de toda a disponibilidade de alimentos dietéticos, o fato é que o consumo de açúcar só aumenta”, alerta Fabiana Nalon.
No livro Fat chance: The bitter truth about sugar ( em tradução livre, Sem chance: a amarga verdade sobre o açúcar), lançado neste ano, Robert Lustig fala sobre os prejuízos que o açúcar causa à saúde e dá dicas de como controlar a fome e melhorar a saúde. Apesar de ser um ativista antiaçúcar, Lustig não defende o uso de adoçantes em razão da falta de estudos realmente conclusivos sobre os efeitos desses produtos.
“Ainda não se sabe se os compostos presentes no adoçante afetam as funções cerebrais ou os hormônios e se há efeitos sobre o resto do organismo, que é ‘enganado’ ao se preparar para receber uma quantidade de açúcar que nunca chega”, alerta o endocrinologista da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Todos os adoçantes permitidos no Brasil fazem parte da lista de alimentos considerados seguros, a chamada GRAS (generally recognized as safe). “Todos os compostos presentes na lista passaram por uma série de pesquisas e podem ser usado dentro das quantidades indicadas”, explica Nalon.
Benefícios
Apesar da indefinição entre os cientistas, o adoçante é importante para dietas especiais, como as destinadas a pessoas com diabetes ou as com grau elevado de obesidade. “Sem dúvida nenhuma, ele é um recurso positivo para quem precisa”, afirma a pesquisadora Helena Bolini, doutora em tecnologia de alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Bolini estuda os edulcorantes há 20 anos e afirma que eles podem ajudar a prevenir doenças quando são usados corretamente e dentro de uma dieta saudável. “Eu só vejo coisas positivas no uso dos adoçantes. Eles podem ajudar a retardar o aparecimento do diabetes e a controlar o peso, com o benefício de que eles não dão cáries”, explica a pesquisadora.
O que não pode acontecer, alerta Bolini, é uma certa “indulgência”, ou seja, um efeito psicológico de que usar o adoçante permite estripulias alimentares. “Nessa prática, a pessoa pode acabar consumindo alimentos muito mais calóricos do que gostaria.”
A nutricionista Fabiana Nolan reforça que os edulcorantes não são remédios contra a obesidade. “Estar acima do peso ou com peso saudável não é uma questão resolvida em usar ou não os adoçantes. A alimentação é muito mais abrangente, e esses produtos são ferramentas que podem ajudar no cardápio de várias dietas”, afirma.
Substitutos químicos
É o outro nome para os adoçantes, compostos químicos de origem sintética ou natural usados para adoçar alimentos no lugar da sacarose e de outros açúcares. Aspartame, sucralose e sacarina são algumas das composições utilizadas.
PARA SABER MAIS
Risco de diabetes
Um estudo divulgado em maio pela Washington University School of Medicine (EUA) também indicou efeitos adversos dos adoçantes. De acordo com a pesquisa, publicada na revista Diabetes Care, o substituto do açúcar pode aumentar a produção de insulina no corpo em 20% e causar diabetes. Para chegar à conclusão, os cientistas liderados por Yanina Pepino recrutaram obesos, que ingeriram água ou sucralose antes de serem submetidos a um teste de glicose.
“Quando os participantes do estudo beberam sucralose, o açúcar no sangue chegou a um nível superior do que quando beberam apenas água. Os níveis de insulina também subiram cerca de 20%. Assim, o edulcorante artificial foi relacionado com níveis mais altos de insulina no sangue e maior resposta da glicose”, observou Pepino.
A resposta elevada de insulina sinaliza que a pessoa tem condições de produzir o hormônio para lidar com níveis altos de glicose, mas, quando descontrolada, pode desencadear o diabetes. “Nossos resultados indicam que o adoçante artificial não é inerte, tem um efeito”, avalia Pepino. A pesquisadora pondera que são necessários novos estudos para avaliar os efeitos do produto a longo prazo.
“Uma vez que os adoçantes não oferecem energia, logo o consumo deles pode induzir as pessoas a procurarem alimentos calóricos que supram a necessidade energética e de satisfação”, explica Swithers. A pesquisadora sugere que o ideal é reduzir o consumo tanto de açúcar quanto de adoçante. “Os dados indicam que a melhor estratégia seria diminuir a totalidade do uso de produtos adoçantes. Simplesmente substituir o açúcar por adoçante artificial não parece ter produzido resultados positivos na saúde”, explica a professora da Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos.
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Adoçante artificial estimula fome e aumenta consumo de calorias
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Adoçantes podem causar diabetes
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Ingestão de adoçantes artificiais pode aumentar o apetite por alimentos doces
A ingestão contínua do produto pode comprometer de vez os mecanismos de absorção de alimentos mais energéticos. “Ao diminuir a habilidade do organismo de prever a chegada de calorias, a ingestão de adoçantes artificiais pode vir a reduzir a eficiência da utilização da energia adquirida em alimentos doces em geral e também prejudicar os mecanismos de saciedade”, explica a autora do artigo.
Especialista em nutrição humana, Fabiana Nalon alerta que há um falso entendimento de que, pelo fato de substituir o açúcar, o edulcorante pode ser usado indiscriminadamente. Ela conta que teve uma paciente que colocava dois sachês de adoçante no copo de suco de laranja dos netos. “É óbvio que problemas vão surgir, já que a criança fica acostumada com o sabor excessivamente doce”, diz a nutricionista.
O indicado é que os produtos adoçantes em geral sejam usados apenas quando houver necessidade. “É uma questão de educar o paladar. O ideal e correto é aprender a gostar do sabor do alimento natural e não mascará-lo com o sabor mais doce”, ressalta Nalon. Se seguir o conselho é impossível, o melhor é usar o adoçante, uma vez que ele tem baixo teor calórico, sugere a especialista.
Efeitos misteriosos
Segundo levantamento da empresa de pesquisas Kantar WorldPanel, os edulcorantes marcam presença em 30,8% dos lares brasileiros. Ao contrário do que se poderia pensar, o consumo do açúcar não diminuiu com a chegada desses produtos às prateleiras. “As pessoas estão acostumadas com alimentos muito doces. E, apesar de toda a disponibilidade de alimentos dietéticos, o fato é que o consumo de açúcar só aumenta”, alerta Fabiana Nalon.
No livro Fat chance: The bitter truth about sugar ( em tradução livre, Sem chance: a amarga verdade sobre o açúcar), lançado neste ano, Robert Lustig fala sobre os prejuízos que o açúcar causa à saúde e dá dicas de como controlar a fome e melhorar a saúde. Apesar de ser um ativista antiaçúcar, Lustig não defende o uso de adoçantes em razão da falta de estudos realmente conclusivos sobre os efeitos desses produtos.
“Ainda não se sabe se os compostos presentes no adoçante afetam as funções cerebrais ou os hormônios e se há efeitos sobre o resto do organismo, que é ‘enganado’ ao se preparar para receber uma quantidade de açúcar que nunca chega”, alerta o endocrinologista da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Todos os adoçantes permitidos no Brasil fazem parte da lista de alimentos considerados seguros, a chamada GRAS (generally recognized as safe). “Todos os compostos presentes na lista passaram por uma série de pesquisas e podem ser usado dentro das quantidades indicadas”, explica Nalon.
Benefícios
Apesar da indefinição entre os cientistas, o adoçante é importante para dietas especiais, como as destinadas a pessoas com diabetes ou as com grau elevado de obesidade. “Sem dúvida nenhuma, ele é um recurso positivo para quem precisa”, afirma a pesquisadora Helena Bolini, doutora em tecnologia de alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Bolini estuda os edulcorantes há 20 anos e afirma que eles podem ajudar a prevenir doenças quando são usados corretamente e dentro de uma dieta saudável. “Eu só vejo coisas positivas no uso dos adoçantes. Eles podem ajudar a retardar o aparecimento do diabetes e a controlar o peso, com o benefício de que eles não dão cáries”, explica a pesquisadora.
O que não pode acontecer, alerta Bolini, é uma certa “indulgência”, ou seja, um efeito psicológico de que usar o adoçante permite estripulias alimentares. “Nessa prática, a pessoa pode acabar consumindo alimentos muito mais calóricos do que gostaria.”
A nutricionista Fabiana Nolan reforça que os edulcorantes não são remédios contra a obesidade. “Estar acima do peso ou com peso saudável não é uma questão resolvida em usar ou não os adoçantes. A alimentação é muito mais abrangente, e esses produtos são ferramentas que podem ajudar no cardápio de várias dietas”, afirma.
Substitutos químicos
É o outro nome para os adoçantes, compostos químicos de origem sintética ou natural usados para adoçar alimentos no lugar da sacarose e de outros açúcares. Aspartame, sucralose e sacarina são algumas das composições utilizadas.
PARA SABER MAIS
Risco de diabetes
Um estudo divulgado em maio pela Washington University School of Medicine (EUA) também indicou efeitos adversos dos adoçantes. De acordo com a pesquisa, publicada na revista Diabetes Care, o substituto do açúcar pode aumentar a produção de insulina no corpo em 20% e causar diabetes. Para chegar à conclusão, os cientistas liderados por Yanina Pepino recrutaram obesos, que ingeriram água ou sucralose antes de serem submetidos a um teste de glicose.
“Quando os participantes do estudo beberam sucralose, o açúcar no sangue chegou a um nível superior do que quando beberam apenas água. Os níveis de insulina também subiram cerca de 20%. Assim, o edulcorante artificial foi relacionado com níveis mais altos de insulina no sangue e maior resposta da glicose”, observou Pepino.
A resposta elevada de insulina sinaliza que a pessoa tem condições de produzir o hormônio para lidar com níveis altos de glicose, mas, quando descontrolada, pode desencadear o diabetes. “Nossos resultados indicam que o adoçante artificial não é inerte, tem um efeito”, avalia Pepino. A pesquisadora pondera que são necessários novos estudos para avaliar os efeitos do produto a longo prazo.