O preparo cardiorrespiratório é outro que deve estar em dia. Em uma partida, o coração passa de uma frequência de 50 a 60 batimentos por minuto em situação de repouso para 100 ou até mesmo 120 logo no início da disputa e ao pico de 150 a 160 no auge da competição. Mas não são raros os casos em que ultrapassam a casa dos 200 batimentos por minuto. O resultado é uma frequência cardíaca com intensidade média de 85%, com máxima de 100% em momentos mais decisivos, explica Emerson Silami, diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para suportar todas essas exigências, o corpo de um jogador de alta performance deve estar em plena sintonia e preparo. E para isso, os músculos são a grande prioridade. “Entre os grupamentos musculares da coxa e das pernas mais utilizados, destacam-se os compartimentos anterior, medial e posterior”, afirma Marconi Gomes da Silva, médico do esporte e presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte (Smexe).
Na parte anterior da coxa, o quadríceps femoral está entre os mais demandados. “Ele é responsável pela flexão do quadril e extensão do joelho e por isso é muito desenvolvido em jogadores de futebol”, observa. Quanto aos músculos posteriores da coxa, o destaque fica com o bíceps femoral, o semitendinoso e o semimembranoso, todos eles responsáveis por movimentos como extensão e rotações laterais e mediais da perna. Vale lembrar ainda dos músculos estabilizadores do joelho, frequentemente requisitados.
E não para por aí. “Na parte medial da coxa temos os músculos adutores, com função de adução, flexão e rotação lateral da coxa”, acrescenta Marconi. Até os glúteos ajudam no bom desempenho do atleta, lembra Emerson Silami, que durante 22 anos foi fisiologista do Cruzeiro Esporte Clube.
CORPO NO LIMITE
- Durante os 90 minutos de uma partida de futebol, o organismo vai ao extremo: os batimentos cardíacos podem chegar a 200 batimentos por minuto, há perda de peso e o pulmão trabalha como louco.
- Entre 2kg e 3kg por partida é o quanto um jogador de futebol pode perder de peso, em sua maioria devido a transpiração.
- VO2 máximo é o volume limite de oxigênio em um minuto que uma pessoa é capaz de absorver. É um dos referenciais da capacidade do atleta de se manter em exercício aeróbico por mais tempo, (praticar atividades físicas de longa duração). A média do VO2 máxima de uma pessoa sedentária é 40ml/kg/min. A de um atleta de alto nível pode passar de 70 ml/kg/min.
- Cuidados como o coração exigem atenção especial dos médicos do esporte para evitar problemas cardíacos ou, até mesmo, morte súbita do jogador durante as partidas. A frequência cardíaca média de um atleta durante um jogo é de cerca de 85%.
- Percentual de gordura de um atleta de elite: de 7% a 11%
A musculatura também precisa de cuidados especiais para garantir força, resistência e capacidade de explosão. Entre os músculos da coxa e das pernas mais utilizados destacam-se o quadríceps femoral, responsável pela flexão do quadril e extensão do joelho,muito desenvolvidos em jogadores de futebol. Existem também os músculos posteriores, responsáveis por movimentos de extensão da coxa e rotações laterais e mediais da perna, além de músculos estabilizadores do joelho. Na parte medial da coxa temos os músculos adutores, com função de adução, flexão e rotação lateral da coxa.
CORRIDA
O especialista lembra que a capacidade cardiorrespiratória e pulmonar de um jogador de futebol deve se assemelhar à de um corredor de longa distância, para encarar o desafio de percorrer vários quilômetros. “Jogadores como os alas e meio-campistas podem chegar a correr acima de 10 quilômetros ao final do jogo. Em um sprint curto, têm que estar preparados para atingir até 30 quilômetros por hora”, observa Silami. Não é por acaso que os atletas devem agregar características de vários outros esportes, como corredor de longa distância, velocista e até saltador. “Sem contar que ainda devem ser ágeis, com grande equilíbrio e coordenação motora, ter visão excepcional e capacidade de raciocínio acima da média”, acrescenta Silami. Todo esse preparo pode variar de acordo com a posição que o jogador ocupa. “Os laterais costumam ser mais velozes e terem melhor condicionamento físico para suportar muitos minutos indo e voltando, atacando e ajudando na marcação”, explica Marconi. Ele ainda acrescenta que esses atletas geralmente apresentam características semelhantes às de velocistas do atletismo. “E podem ser tão resistentes quanto os fundistas, os corredores de meia distância e longa distância”, compara.
Lesões podem atingir peladeiros
Mesmo jogando apenas nos finais de semana, os atletas amadores trabalham os mesmos músculos que seus ídolos profissionais. A grande diferença, na avaliação de Marconi Gomes da Silva, médico do esporte e presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte, está no preparo físico dos peladeiros. “Embora a intensidade do exercício empregada seja menor, o risco de lesões pode ser alto devido ao menor treinamento, resistência e flexibilidade”, explica.
Os músculos menos preparados e desenvolvidos podem não ser suficientes para controlar os movimentos realizados. “Com isso, a pessoa fica submetida a um alongamento forçado quando em contração, propiciando o surgimento de lesões”, observa Marconi. Musculaturas menos desenvolvidas também facilitam uma menor tolerância a contato físico. “Jogadores mais fracos do ponto de vista muscular são mais vulneráveis a lesões secundárias provenientes de choque direto com o adversário e por quedas frequentes”, lembra o especialista.
Os ligamentos também ficam sujeitos a problemas. “Músculos menos preparados nos quesitos força e flexibilidade, assim como gestos esportivos inadequados, colocam as articulações em uma situação de maior vulnerabilidade e passível de rupturas ligamentares totais ou parciais”, explica. Diante dos riscos, o certo é moderar e prestar atenção nos sinais enviados pelo corpo.
A dor é o primeiro alerta e exige atenção. “É muito comum pessoas que se exercitam apenas uma vez por semana queiram ‘compensar’ a falta de regularidade tentando se exercitar ao máximo durante uma pelada. Essa é a combinação perfeita para que as lesões surjam: pouco treino, alta intensidade e duração prolongada”, alerta Marconi.