Recordar algo nunca ocorrido é comum e pode acontecer com pessoas de qualquer idade. Muitos indivíduos nem sequer percebem que determinadas lembranças foram criadas, pois as cenas e até os sons evocados pelo cérebro surgem com a mesma nitidez e grau de detalhamento das memórias reais. Agora, pesquisadores do Centro de Circuitos Genéticos Neurais Riken-MIT, uma parceria entre cientistas japoneses e americanos, demonstraram como o processo de implantar falsas recordações se dá no nível neuronal. Para isso, eles utilizaram uma tecnologia de ponta, a optogenética, que usa pulsos de luz para identificar e estimular redes dentro do cérebro. O resultado do estudo foi publicado na edição desta semana da revista Science.
De acordo com os neurocientistas, as memórias são armazenadas em sistemas celulares comparados a pecinhas de Lego. Quando a pessoa se recorda de uma sequência de eventos, o cérebro reconstrói o passado juntando os “tijolos” de dados, mas somente o ato de acessar as lembranças já modifica e distorce a realidade. Juntando uma fonte externa ao processo — no caso de Piaget, foi a babá —, a probabilidade de haver confusões é ainda maior. “A memória é algo extremamente não confiável”, comenta Susumu Tonegawa, diretor do Centro de Circuitos Genéticos Neurais Riken-MIT e professor do Instituto de Ciências Cerebrais Riken, no Japão.