Ao contrário dos idosos, os mais jovens não estão acostumados a prestar tanta atenção à saúde. Sérgio Vêncio explica que o organismo vai se adaptando aos sintomas, que aparecem discretamente. “Os dois tipos de diabetes são complicados, porque se o paciente com diabetes tipo 1 fica mais tempo com a doença; o tipo 2 geralmente vem acompanhado de outras complicações, como hipertensão, pois se relaciona ao sobrepeso e ao sedentarismo.” Murilo Lins, 20 anos, só descobriu que era diabético ano passado. Exercícios físicos não faziam parte da sua rotina e sua alimentação era recheada de “besteiras”, como ele mesmo define. Consumia frituras, sanduíches e fast-food pelo menos um vez por semana. O intervalo das aulas na faculdade era sempre acompanhado de salgados fritos e refrigerantes.
Até que um dia, os sintomas clássicos da doença apareceram: sede incontrolável e urina em excesso. Sua avó, também diabética, observou os sintomas e não teve dúvidas. Pegou seu aparelho medidor de glicose, o glicosímetro, e fez o teste no neto. O resultado indicou 200 mg/dL, indicativo de diabetes tipo 2, no caso de Murilo. Os dois foram ao médico e o estudante começou a seguir as recomendações mais emergenciais. “Minha avó me explicou que aquilo não era o fim, que eu poderia viver normalmente”, relembra. O padrão alimentar mudou completamente: agora, Murilo se alimenta de três em três horas, sempre em quantidades pequenas e com o acompanhamento de um nutricionista.
Hoje, ele jura que comer salada virou rotina. “Quase nem sinto que estou comendo”, reforça. Com uma tabela de calorias e orientação, seu peso também diminuiu. Antigamente, uma caminhada de meia hora já era suficiente para deixá-lo exausto. Hoje, ele conta que é capaz de andar por até duas horas com tranquilidade. “Meu condicionamento físico melhorou muito. Eu era preguiçoso e não tinha disposição para nada.” O começo, porém, não foi muito fácil. “Fiquei um pouco desesperado, mas minha mãe já cuidava da minha avó há cinco anos. Desde que descobrimos, meus pais me confortam.”
Eliziane Brandão Leite, endocrinologista da clínica Diabetes Brasília, diz que descobrir a doença tardiamente não é prerrogativa dos mais jovens. Segundo ela, quase metade dos adultos não sabem que estão diabéticos. Só descobrem quando a doença se manifesta com características clínicas mais severas. “Existe a pré-diabetes, em que a pessoa tem alto nível de glicose em jejum ou por sobrecarga, mas o exame só é solicitado quando há suspeita”, completa. Como nem sempre dá para saber de antemão a pré-disposição para a doença, nem sempre é possível evitar que ela apareça. Algumas orientações básicas (e que deveriam ser seguidas por todos, saudáveis ou não) são potentes aliados contra a enfermidade. A receita é velha e todo mundo sabe, mas poucos seguem: alimentação balanceada e exercícios físicos.
Mesmo um olhar apurado, entretanto, pode deixar escapar alguns sintomas não muito comuns. Por ser uma doença complexa e multifacetada, a diabetes nem sempre se mostra da mesma maneira. “Às vezes, ela não causa sintomas ou desconfortos, mas, quando o paciente chega, já está em um estado gritante”, exemplifica a Eliziane Leite. O problema é que isso pode levar anos. Os sintomas acabam fazendo parte da rotina — algo como “estou cansado por estar trabalhando demais”. Héber Filipe da Mata, 26 anos, passou por isso. Há seis anos, ele sentia muita sede e urinava constantemente, mas não achou que havia algo errado. “A gente nunca imagina que isso seja doença”, justifica.
Até que, uma noite, começou a vomitar sem parar e resolveu ir ao hospital. Chegando lá, o assistente de chancelaria descobriu a doença. “Devia ter dois ou três meses que eu estava com a glicose alta”, relembra. Durante esse tempo, nada o incomodou: não sentiu nenhuma dor ou desconforto. “Sempre digo que não nasci para ser diabético, porque meu perfil é totalmente o oposto”, brinca. “Eu não gosto de atividade física, sempre fui sedentário, comia de tudo, principalmente massas e doces e tenho aversão a agulhas.” Gostando ou não, Héber teve que se adaptar.
E o processo de aceitação demorou. A falta de horários no trabalho atrapalhou o tratamento. Uma vez por ano, Héber precisa viajar para fora do país. A alimentação desregulada e a falta de disciplina praticamente anularam o efeito da insulina. “Fui ‘desleixando’ e fiquei descontrolado. Minha glicose chegou a 400, 500 e HI, que é quando passa de 600”, conta. Mesmo sofrendo com a saúde debilitada, ele conta que passou seis meses assim. “Não digo que desisti do tratamento, porque ainda fazia metade dele. Mas ou se adere de vez ou você está só se enrolando”, reconhece. “Hoje, tenho consciência, porque já brinquei demais. Tive muita sorte de não ter ficado cego ou de ter tido outra complicação. Está na hora de levar a sério. É uma mudança de vida.”
Há três semanas, Héber procurou ajuda em um posto de saúde. Lá, se convenceu a dar tudo de si pela própria saúde. Hoje, faz exercícios e se alimenta corretamente. “Estou sendo muito bem treinado. A equipe me prescreveu novas insulinas, de efeito mais rápido, e minha glicose hoje está na faixa dos 100, 200”, orgulha-se. Apesar de ainda não estar com o nível de glicose considerado seguro, ele conta que está mais confiante. A meta é melhorar o suficiente para começar um novo tratamento, com a bomba de insulina. “Isso vai diminuir a quantidade de injeções, que é uma dificuldade que eu tenho”, completa. Em vez de sete agulhadas por dia, Héber precisará de uma a cada três dias. “É meu sonho.”
Até que um dia, os sintomas clássicos da doença apareceram: sede incontrolável e urina em excesso. Sua avó, também diabética, observou os sintomas e não teve dúvidas. Pegou seu aparelho medidor de glicose, o glicosímetro, e fez o teste no neto. O resultado indicou 200 mg/dL, indicativo de diabetes tipo 2, no caso de Murilo. Os dois foram ao médico e o estudante começou a seguir as recomendações mais emergenciais. “Minha avó me explicou que aquilo não era o fim, que eu poderia viver normalmente”, relembra. O padrão alimentar mudou completamente: agora, Murilo se alimenta de três em três horas, sempre em quantidades pequenas e com o acompanhamento de um nutricionista.
Hoje, ele jura que comer salada virou rotina. “Quase nem sinto que estou comendo”, reforça. Com uma tabela de calorias e orientação, seu peso também diminuiu. Antigamente, uma caminhada de meia hora já era suficiente para deixá-lo exausto. Hoje, ele conta que é capaz de andar por até duas horas com tranquilidade. “Meu condicionamento físico melhorou muito. Eu era preguiçoso e não tinha disposição para nada.” O começo, porém, não foi muito fácil. “Fiquei um pouco desesperado, mas minha mãe já cuidava da minha avó há cinco anos. Desde que descobrimos, meus pais me confortam.”
saiba mais
-
Diabetes: 13 milhões de brasileiros têm a doença; você pode ser um deles e nem saber
-
Incidência de diabetes tipo 1 aumenta 3% ao ano
-
Apesar de não ser uma doença nova, diabetes é rodeada de mitos
-
Ação de prevenção do diabetes será realizada na Rodoviária de Belo Horizonte
-
Crianças e adolescentes diabéticos se encontram na Grande BH para aprender a manter o tratamento sozinhos
Mesmo um olhar apurado, entretanto, pode deixar escapar alguns sintomas não muito comuns. Por ser uma doença complexa e multifacetada, a diabetes nem sempre se mostra da mesma maneira. “Às vezes, ela não causa sintomas ou desconfortos, mas, quando o paciente chega, já está em um estado gritante”, exemplifica a Eliziane Leite. O problema é que isso pode levar anos. Os sintomas acabam fazendo parte da rotina — algo como “estou cansado por estar trabalhando demais”. Héber Filipe da Mata, 26 anos, passou por isso. Há seis anos, ele sentia muita sede e urinava constantemente, mas não achou que havia algo errado. “A gente nunca imagina que isso seja doença”, justifica.
Até que, uma noite, começou a vomitar sem parar e resolveu ir ao hospital. Chegando lá, o assistente de chancelaria descobriu a doença. “Devia ter dois ou três meses que eu estava com a glicose alta”, relembra. Durante esse tempo, nada o incomodou: não sentiu nenhuma dor ou desconforto. “Sempre digo que não nasci para ser diabético, porque meu perfil é totalmente o oposto”, brinca. “Eu não gosto de atividade física, sempre fui sedentário, comia de tudo, principalmente massas e doces e tenho aversão a agulhas.” Gostando ou não, Héber teve que se adaptar.
E o processo de aceitação demorou. A falta de horários no trabalho atrapalhou o tratamento. Uma vez por ano, Héber precisa viajar para fora do país. A alimentação desregulada e a falta de disciplina praticamente anularam o efeito da insulina. “Fui ‘desleixando’ e fiquei descontrolado. Minha glicose chegou a 400, 500 e HI, que é quando passa de 600”, conta. Mesmo sofrendo com a saúde debilitada, ele conta que passou seis meses assim. “Não digo que desisti do tratamento, porque ainda fazia metade dele. Mas ou se adere de vez ou você está só se enrolando”, reconhece. “Hoje, tenho consciência, porque já brinquei demais. Tive muita sorte de não ter ficado cego ou de ter tido outra complicação. Está na hora de levar a sério. É uma mudança de vida.”
Há três semanas, Héber procurou ajuda em um posto de saúde. Lá, se convenceu a dar tudo de si pela própria saúde. Hoje, faz exercícios e se alimenta corretamente. “Estou sendo muito bem treinado. A equipe me prescreveu novas insulinas, de efeito mais rápido, e minha glicose hoje está na faixa dos 100, 200”, orgulha-se. Apesar de ainda não estar com o nível de glicose considerado seguro, ele conta que está mais confiante. A meta é melhorar o suficiente para começar um novo tratamento, com a bomba de insulina. “Isso vai diminuir a quantidade de injeções, que é uma dificuldade que eu tenho”, completa. Em vez de sete agulhadas por dia, Héber precisará de uma a cada três dias. “É meu sonho.”