Apresentado durante a plenária do congresso, o estudo Decision incluiu 417 pacientes com câncer de tireoide metastásico divididos em um grupo que tomou placebo e outro com o princípio ativo sorafenibe, já usado no combate ao câncer renal e hepatocelular. As conclusões mostraram que o risco de progressão foi diminuído em 41%, e 24% dos pacientes responderam com diminuição do tumor. Segundo o médico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês Gilberto de Castro, o medicamento pode vir a ser uma importante ferramenta para os pacientes com metástase.
“Já se sabia que as células tumorais são muito dependentes da angiogênese (formação de vasos). Os tumores usam essa capacidade normal do organismo para construir seus próprios vasos de irrigação sanguínea. Esse estudo usa essa molécula para inibir o processo”, explica Castro. Demonstrou ainda uma sobrevida livre de progressão da doença de quase 11 meses. “É uma possível alternativa de tratamento para uma fase do câncer na qual não havia mais alternativas. Aumenta a sobrevida livre de progressão de pacientes com câncer de tireoide refratário a iodo radioativo localmente avançado ou metastático”, revela Marcia Brose, cirurgiã do Hospital da Universidade da Pensilvânia.
A sobrevida livre de progressão foi o end point (objetivo final) primário do estudo, conforme definido pelos Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos (Recist, na sigla em inglês). Os end points secundários incluíram sobrevida global, tempo até a doença voltar a progredir, índice, longevidade de resposta, segurança e a tolerabilidade. Os efeitos colaterais mais notados foram alopecia, fadiga e hipertensão.
No caso do câncer de próstata em homens, quando metastásico, atinge ossos próximos, como a coluna. Os homens com essa doença também vislumbram por uma nova alternativa de enfrentamento da doença. Uma das esperanças para tratar localmente a metástase, sem atingir as células sadias, é o radium 223, um radiofármaco. Segundo Manuela Zereu, oncologista da Santa Casa de Porto Alegre, o medicamento é injetável, de fácil aplicação e demonstrou ser seguro. “Tem menor toxidade e pode ser conciliado com a quimioterapia. O que é bom, pois outros tratamentos diminuíam as defesas do organismo e não permitiam essa interação. Os primeiros resultados demonstram uma sobrevida de 14 meses para os pacientes. Mas o mais importante é que vivem com qualidade, pois melhoram aspectos como dor e mobilidade, que muitas vezes é prejudicada pelo fato de o câncer atingir os ossos”, afirma.
DISFARCE
Ainda segundo Manuela, esse é um medicamento inteligente. “O câncer no osso, precisa de cálcio para crescer. É como se o medicamento se fizesse passar pelo cálcio. A célula o ‘vê’ como cálcio, mas não é. O medicamento entra no mecanismo da doença e, como é radioativo, destrói as células tumorais por dentro. Mas é uma radiação muito baixa, que age somente no local”, detalha.
Para Chris Parker, principal investigador do estudo com o radium 223, batizado de Alsympca, o mais interessante do medicamento é esse novo mecanismo de ação. “É algo completamente novo. É o primeiro medicamento na oncologia que entra no organismo em busca de seu alvo certeiro. É consideravelmente mais efetivo e muito mais bem tolerado pelo organismo. As radiações são pequenas porque são radiações alpha, que são bloqueadas por uma folha de papel. Mas em nível celular é eficaz”, garante. O tratamento, já autorizado nos Estados Unidos, está em fase de aprovação no Brasil.
O oncologista Volney Soares Lima, do Oncocentro de Belo Horizonte, e que esteve no evento em Chicago, destaca que os pacientes que receberam o radium 223 tiveram queda nos níveis do PSA – ingrediente do sêmen produzido pela próstata. Em caso de câncer no órgão, seus níveis sobem no sangue – e o medicamento também diminui efeitos danosos do câncer nos ossos, o que leva a uma redução da dor. “Imagine um câncer crescendo dentro de um osso, que é uma estrutura rígida”, diz a oncologista Manuela Zereu.
Entre as alternativas para tratamento de câncer em estágio avançado, os médicos também puderam tomar conhecimento sobre os efeitos do regorafenibe para as metástases no sistema colorretal. “É o terceiro câncer no mundo, tanto em homens como mulheres. E temos uma boa quantidade de abordagens, principalmente na primeira linha, que são os recursos iniciais no tratamento da doença. Mas são finitos. E essa droga vem para aquele paciente que já tinha chegado ao fim da linha com o que temos atualmente na medicina. Tivemos paciente com sobrevida de até um ano com o novo tratamento. O mecanismo de ação, assim como no câncer de próstata, é o da terapia-alvo. Nesse caso, a radiação busca quebrar importantes enzimas na multiplicação celular. Age também como uma medicação angiogênica”, expõe Jorge Sabbaga, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio Libanês.
A notícia é relevante porque cerca de 60% dos pacientes com câncer colorretal chegam à metástase. Mas cerca de 20% desses já estão em estado avançado quando a doença é diagnosticada. Nesse cenário, os tratamentos de primeira linha, como a cirurgia para retirada do tumor localmente, já não podem ser feitas. O regorafenibe chega para ser a terceira ou quarta linha de tratamento. Já foi aprovado nos Estados Unidos e está em análise pela Anvisa.
*O repórter viajou a convite da Bayer HealthCare