Eles trocaram remédios controlados por dias de exercícios. Deixaram as queixas da idade e encontraram nos grupos de ginástica amigos para uma vida inteira. Basta uma vasculhada no mapa do bem-estar de Belo Horizonte para encontrar esses protagonistas das atividades físicas coletivas e gratuitas da cidade: são mulheres e homens acima dos 50 anos. Alguns, por indicação médica; outros, pela necessidade de se exercitar, encontram-se, pelo menos, três vezes por semana em locais públicos perto de casa. Dizem ter conquistado melhoras muito além da questão física e afirmam que as idas ao médico diminuíram. Educadores físicos confirmam as mudanças, apontando que os bons resultados se devem à combinação das atividades com o espírito de amizade que surge com os grupos.
São danças, alongamentos, caminhadas, ginástica e tantos outros exercícios espalhados pelas nove regionais de BH. Um dos programas voltados para o público cinquentão é o Vida Ativa. De acordo com a prefeitura, cerca de 3,5 mil pessoas fazem parte do projeto. Maria da Glória Oliveira da Cruz, de 56 anos, é uma que se encontrou nessas atividades. Moradora do Bairro Heliópolis, na Região Norte da capital, todas as segundas e sextas-feiras ela se junta a mais 20 pessoas de sua idade em busca de qualidade de vida. Glória, assim conhecida, há dois anos perdeu a memória depois de uma queda. Ficou três meses internada e, quando saiu do hospital, não se lembrava de mais nada. “Vieram pessoas dizendo ser meus filhos. Não me lembrava”, conta. Retomar a vida foi difícil para ela, tanto que sofreu de uma depressão profunda. “Dizem que tinha sido cozinheira de uma cozinha francesa, cheguei até a cozinhar para o ex-presidente Lula. Mas não me lembro de nada disso”, conta.
O melhor remédio para Glória, de acordo com os médicos, seria, então, a atividade física em grupo. Foi o que fez. Há mais de um ano, ela se junta ao grupo do programa Vida Ativa, na Região Norte. A memória não voltou, mas, segundo ela, por causa dos exercícios, hoje se sente mais segura para a vida. “Isso foi um grande passo”, comenta. De acordo com a educadora física do grupo, Flávia Caroline Ferreira, as atividades físicas para os maiores de 50 anos ajudam nas questões hormonais, melhoram o diabetes e a pressão. No caso de Glória, as repetições dos movimentos são um exercício para a mente. Segundo Maria da Conceição Alves, de 71, a malhação a ajudou a melhorar os índices de colesterol e açúcar no sangue. “É o nosso melhor remédio.”
FAMÍLIA
Bem do outro lado da cidade, na Região Oeste, outro grupo também diminui os medicamentos depois de experimentar a atividade física. Essa história começou em 2001, quando médicos do posto de saúde Amilcar Viana Martins começaram a perceber que a maioria dos pacientes que frequentava o posto não precisava de tanta medicação como pensava. E sugeriram, então, um grupo de ginástica para eles. Deu certo. Hoje, com mais de 70 pessoas acima dos 50 anos, o grupo se tornou uma grande família. “Acordamos às 6h para fazer ginástica, que começa às 7h30. E nossa convivência não fica só por aqui. Viajamos, fazemos passeios juntos e ajudamos uns aos outros”, comenta José Glycero de Souza, de 70. Ele e a mulher, Terezinha Ferreira de Souza, de 65, estão na atividade há 12 anos. “A gente não falta um dia”, garante a mulher. Para Maria Luíza da Silva, de 73, as aulas são o melhor remédios contra os males. “Melhorei as minhas dores e aqui fiz grandes amigos”, conta.
Professor e educador físico, Elias Abdo Weber diz que grupos assim trazem benefícios incontáveis para a saúde. “Trabalhamos o condicionamento físico, força e flexibilidade. A ginástica queima calorias e deixa o organismo mais resistente”, comenta, justificando aí o motivo de muitos praticantes terem largado remédios controlados. “Além disso, tem o lado social. Há a integração com a cidade e participação das coisas e espaços que são do município”, defende. (LE/PT)
Benefícios dos exercícios para o envelhecimento
» Melhora a disposição
» Melhora a circulação
» Promove o fortalecimento muscular
» Distrai a mente
» Estimula o desenvolvimento intelectual
OBS: O idoso deve consultar um médico antes de escolher qual atividade é a mais adequada