Saúde

Atividades físicas gratuitas e ao ar livre estão em alta em Belo Horizonte

Veja o guia de opções para quem pretende malhar o corpo e lavar a alma

Luciane Evans


Fim de tarde em Belo Horizonte. O sol se despede, mas a cidade não cansa. Aliás, está em pleno movimento. Democrática, cede espaço para quem quer transformá-la em aliada para o corpo e para a mente. Mais do que mero cenário, garante opções para suar a camisa, fortalecer a musculatura e lavar a alma. Da técnica japonesa ao atletismo para crianças. Das caminhadas em grupo às ginásticas aos maiores de 50 anos. Não há tempo ruim, falta de espaço ou altos custos. É para todos os gostos, tamanhos e buscas. Belo Horizonte amanhece e anoitece oferecendo atividades físicas gratuitas a toda a cidade. De Norte a Sul, Leste a Oeste, os locais públicos vão sendo ocupados em nome da tão sonhada qualidade de vida em meio ao urbano. São ruas, praças, parques ou até mesmo dentro de postos de saúde que muitas pessoas se entregam ao prazer e à necessidade de se exercitar. Para esta matéria especial, percorremos as nove regionais da capital mineira e confirmamos que não há desculpas para ficar parado. Então, mexa-se!


CONTRA TODOS OS MALES
Grupos de caminhada e de Lian Gong ganham bairros de Belo Horizonte, atraindo cada vez mais adeptos. Praticantes dizem estar mais felizes e saudáveis

Ocupar os espaços públicos da cidade há tempos se tornou uma regra em Belo Horizonte. Seja por motivos culturais, ideológicos ou em prol do coletivo, os belo-horizontinos ocupam praças, ruas ou parques em sua busca pessoal. Umas delas, que vem se tornando tendência, é em nome do bem-estar e do autoconhecimento. Na contramão do que apontam os dados de órgãos de saúde, que mostram que o país é composto por 80% de sedentários, aqui muitos arregaçaram as mangas e acordam cedo ou dormem tarde para não deixar de se exercitar. Prova disso é a adesão a programas gratuitos e orientados na cidade. A prática chinesa Lian Gong em 18 terapias, por exemplo, tornou-se sucesso e já atrai cerca de 10 mil pessoas de BH que buscam estar bem de corpo e alma. Outra atividade com o mesmo propósito é o grupo de caminhada, que vem atraindo cada vez mais adeptos.
Além de se sentir mais equilibrada, com mais disposição e ter reduzido as dores no corpo, a aposentada Ângela Otoni Jacobis diz que a prática física até contribuiu para melhorar seu sono

Presente em praças, parques e centros de saúde, a atividade chinesa, que, apesar da grafia, se pronuncia “liam cum”, é oferecida em 202 locais. É considerada por especialistas o suprassumo da qualidade de vida e, para quem faz, o melhor remédio contra as dores no corpo e os males da alma. No mapa da cidade, não há regional que não contemple o programa, trazido para a capital em 2007. Desenvolvida pelo médico chinês Zhuang Yuen Ming, na década de 1960, a prática é uma ginástica terapêutica, como destaca a presidente do Instituto Mineiro de Tai Chi e Cultura Oriental, Maristela Botelho.

Juíza da técnica pelo Ocidente, Maristela está sempre em contato com a China para se atualizar na atividade e diz que Belo Horizonte é a cidade que mais oferece a prática no Brasil. “Sou responsável por capacitar instrutores. São médicos, enfermeiros , fisioterapeutas, entre outros. Temos 277 formados”, garante. Ela explica que a Lian Gong é uma ginástica terapêutica elaborada para tratar e prevenir as dores do corpo. “É uma prática bem popular na China para a prevenção e promoção da saúde”, diz. A técnica, de acordo com ela, atua no sistema muscular, ossos e tendões, além de trabalhar as emoções. “Ela tem a missão de potencializar as funções dos órgãos internos”, ressalta.

Na Sagrada Família, a Lian Gong é feita com trilha sonora chinesa
PREVENÇÃO

Dividida em séries de três partes, com seis movimentos em cada uma, o que justifica o nome Lian Gong em 18 terapias, as sessões são progressivas e diferenciadas. Há aquelas que , no primeiro bloco de exercícios, são voltadas para a prevenção de dores na região do pescoço e dos ombros. Depois, seis movimentos são direcionados para a região lombar. Em seguida, pernas e glúteos. “Há sessões criadas por Zhuang Yuen mais voltadas para a modernidade. São 18 movimentos que tratam articulações e potencializam os órgãos internos”, diz Maristela.

O EM acompanhou uma aula no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de BH. Em ritmo lento, o que lembra muito a ioga, as aulas são feitas com trilhas sonoras chinesas. Quem está no comando é a enfermeira Ana Maria Martins Marques, que desde 2008 é instrutora de Lian Gong e diz que, além dos benefícios na saúde, o trabalho é também um caminho para o autoconhecimento. “O praticante passa a ter mais noção do corpo e a prestar mais atenção nele. Há quem conseguiu, com isso, largar medicamentos como calmantes para dormir e até insulina”, conta. À aposentada Ângela Otoni Jacobis, de 57 anos, a prática deu equilíbrio, disposição e reduziu as dores no corpo. “Todo mundo deveria fazer. Até meu sono melhorou, é maravilhoso”, contou. Sua colega Hilda Maria Boamorte, de 59, acha o mesmo e garante que até emagreceu dois quilos. Para praticar não é preciso recomendação médica. “A grande vantagem da técnica é que não há limitação”, defende Ana Maria.

Mais disposição

Para quem gosta de sair do lugar, a dica é caminhar. Prática defendida por 10 em cada 10 médicos, a atividade pode ser mais prazerosa e atraente se feita em grupo. Amparado por acompanhamento profissional, o Programa Caminhar – iniciativa da Secretaria de Esportes e Lazer – está presente em 27 núcleos vinculados aos centros de referência de assistência social (Cras) em todas as regionais da capital. Apesar de a porta de entrada nos grupos serem os próprios Cras, nada impede que a comunidade participe. “O importante é que tenha um encaminhamento médico. Respaldada por essa autorização, a pessoa ainda passa por uma avaliação física”, explica a supervisora técnica da Secretaria de Esporte e Lazer no Cras Santa Rita de Cássia, Renata dos Reis Coelho.

Todos os grupos são acompanhados e orientados por um monitor de educação física, que conduz os alongamentos e ainda registra o tempo e a distância percorrida por cada participante, o que possibilita acompanhar a evolução física dia a dia. “Ainda fazemos reavaliação a cada três meses. No teste, a pessoa percorre 1.600 metros na maior velocidade que consegue e, a partir daí, realizamos a avaliação”, observa o coordenador do Programa Caminhar, Adilson Márcio de Castro. Os encontros ocorrem duas vezes por semana, mas o orientação é de que os interessados estendam a atividade física para, pelo menos, mais dois dias ao longo da semana.
Ivone Freitas Oliveira e Antônia Alves da Silva frequentam o grupo de caminhada da Barragem Santa Lúcia

Com 80 anos e muita disposição, a aposentada Antônia Alves da Silva vê o grupo que se reúne todas as terças e quintas-feiras na Barragem Santa Lúcia não apenas como colegas de caminhada. “Fiz muitas amizades aqui e sempre fazemos passeios juntos”, conta. A recuperação de uma lesão na perna é um dos grandes incentivos para ela chegar à pista de cooper às 7h. “Estava andando com duas muletas, agora não vejo a hora de me livrar da bengala, que ainda me ajuda quando sinto dor”, conta. A companheira Ivone Freitas Oliveira, de 44 anos, buscou o grupo de caminhada há quase cinco anos para se livrar da pressão alta. “Hoje, tomo menos remédio, estou mais disposta e tenho mais qualidade de vida”, garante a dona de casa.

Para completar, o programa ainda conta com equipes itinerantes, que visitam nove pistas de cooper na cidade, como as localizadas nas avenidas Bernardo Vasconcellos, na Região Nordeste, e Silva Lobo, na Região Oeste. “Fazemos avaliação física com medição da pressão, percentual de gordura e índice de massa corporal”, conta Adilson. Cada pista recebe o programa a cada quinze dias, entre as 7h e as 9h20, e está aberta a todos os interessados. Somadas as atividades nos 27 núcleos e o acompanhamento nas pistas de caminhada, o Programa Caminhar pretende chegar ao fim do ano com 41 mil atendimentos.