

Das crianças participantes do estudo, cujos resultados foram publicados na revista Brain, 33 foram concebidas por mulheres que já haviam tido filhos autistas (o risco da síndrome é 20 vezes maior em famílias com o histórico do problema). O grupo do Mind Institute, da Universidade da Califórnia, combinou imagens de ressonância magnética com testes psicológicos para avaliar os bebês. As crianças foram submetidas aos exames entre os 6 e os 9 meses de idade, e, do 12º ao 15º mês. Elas voltaram para exames entre 1 ano e meio e 2 anos, além de serem submetidas a testes tradicionais de comportamento até os 3 anos.
O estudo revelou que oito delas apresentaram um volume incomum no cérebro e no líquido que o protege. A maior diferença na quantidade de líquor foi detectada logo depois do primeiro aniversário dos participantes, que tinham, em média, 33% mais líquido na cabeça. Quanto mais fluido cerebral, mais graves eram os sintomas do distúrbio diagnosticado posteriormente. Antes do segundo ano de idade, os autistas tinham o cérebro 7% maior.
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É a primeira vez que é identificado um biomarcador para o distúrbio em bebês tão novos. “Já se sabe que há um aumento do encéfalo em 30% a 40% dos casos de autismo, mas, a partir desse estudo, podem haver novos, que vão clarificar a origem do problema”, avalia José Salomão Schwartzman, do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo.
Avaliação complexa
Os sinais mostraram-se visíveis nas crianças desde os 6 meses, uma idade em que o diagnóstico da síndrome costuma ser complicado. “Não há exame clínico laboratorial que indique se a criança é autista. As avaliações são baseadas em escalas de classificação de testes feitos por uma equipe multiprofissional”, explica a psicóloga Joana Portolese, da ONG Autismo & Realidade. “Não há uma alteração fenotípica, como a síndrome de Down. Então, nos primeiros meses, ainda é muito difícil de detectar. Mas, nos casos mais graves, percebemos mais cedo, e, aí, fazemos a estimulação precoce.”
Ação dos anticorpos
Nova pesquisa aponta que um mecanismo de proteção materna pode estar entre os fatores ambientais que causam os transtornos do espectro autista. O estudo, publicado na revista especializada Translational Psychiatry, mostra que algumas formas de autismo podem ter relação com anticorpos gerados pela mãe e transmitidos aos filhos ainda na gestação.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia examinaram o sistema imunológico de 395 mulheres e constataram que quase um quarto das mães de crianças com o distúrbio tinham anticorpos diferentes das que tiveram filhos sem a síndrome. A variedade desse tipo de proteína, que não ataca vírus ou bactérias, representa um componente necessário para o desenvolvimento neurológico das crianças, aponta o artigo. O experimento comparou os anticorpos de 149 mães de crianças saudáveis com os de 246 mulheres com filhos afetados pelo distúrbio.
Durante a gravidez, fetos absorvem anticorpos das mães como uma forma de se defender de infecções depois do nascimento — o sistema imunológico das crianças só começa a agir a partir dos 6 meses de idade. Mas a pesquisa norte-americana aponta que essa relação pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê. Os resultados revelam que 23% das mães de crianças autistas têm anticorpos que atacam proteínas importantes para o cérebros dos filhos. Nenhum desses fatores negativos foi encontrado nas mulheres cujos filhos tinham desenvolvimento normal.