A frase acima é de autoria da escritora chilena Isabel Allende, que, aos 70 anos, acaba de publicar o livro 'Amor'. No trecho reproduzido, ela se refere ao companheiro Willie, que comemora 75 anos de idade, e com quem divide a cama há 25. Nas páginas da mais recente obra, mescla os encontros sexuais dos personagens criados por ela com as conclusões da própria experiência. Sem medos, fala abertamente da condição de ser uma mulher que cresceu norteada por severas regras de moral, valores e conceitos religiosos, em que pouco ou nada se falava sobre sexo, e deixou profundas marcas na construção do erotismo e conhecimento do próprio corpo na velhice. “Nós nos preparamos muito mal para o amor e agora enfrentamos a maturidade com o pesado fardo de preconceitos inculcados na infância. Posso dizer que levei um tempo para me livrar de alguns desses preconceitos, mas ainda há vários que pesam”, diz Isabel, em uma entrevista à Revista do CB (leia a íntegra aqui).
E assim é. A vida sexual aprendida e desfrutada na juventude determinará a qualidade do sexo na maturidade. Sim, porque os velhos também transam. Velhos no sentido literal e, sem preconceitos, da palavra. Claro que, depois dos 50 anos, surgem os sinais de que é preciso se readaptar a um novo ritmo e a novas formas físicas, mas a cabeça continua pronta para o sexo, depende só de como ela foi preparada para isso.
O tema merece atenção, afinal, o brasileiro está vivendo cada vez mais. Dados da Tábua de Mortalidade da população do Brasil de 2011, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a expectativa de vida do brasileiro aumentou três meses e 29 dias nos últimos 11 anos. Parece pouco, mas, atualmente, os homens vivem 70,6 anos, em média, e as mulheres, 77,7. Vida mais longa sugere que a vida sexual será prolongada e, por isso, a importância de cuidar do corpo e da mente para manter em dia esse importante aspecto da vida.
As estatísticas no Brasil sobre o comportamento sexual de quem já chegou à idade madura são poucas, e as que existem nem são recentes, mas os dados mostram que a prática sexual independe da idade. Uma das pesquisas mais completas sobre o tema foi conduzido pelo Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre 2006 e 2007, em parceria com um grande laboratório internacional.
O 'Estudo do envelhecimento sexual' ouviu mais de 10 mil brasileiros entre 40 e 80 anos. “O resultado apontou que as pessoas com 60 anos mantinham, em média, uma relação sexual por semana ou a cada 10 dias. Entre os de 70 anos, a frequência caía para 15 dias”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora da pesquisa. Para mais de 90% dos homens e mulheres, o sexo é algo muito importante na vida do casal. “A vida sexual, nessa faixa etária, respeita um repertório possível, muitas vezes por limitações físicas. Por isso, é preciso readequar essa relação”, comenta.
Assim como Allende, outras pessoas que já se despediram da juventude enfrentam as mudanças do corpo e a readequação do desejo. A professora Fátima Lacerda, 58 anos, a atriz Ruth Guimarães, 66, e o casal de servidores públicos Élcio de Paula, 70, e Áurea Lopes, 66, toparam falar sem amarras sobre o tema que causa tanto constrangimento a muitos. Não se incomodaram em dizer que descobriram uma nova forma de prazer quando já não se tem a energia da juventude.
Para 90% dos homens e mulheres, o sexo é algo muito importante na vida do casal
O DESEJO
A cabeça não envelhece. Homens e mulheres pensam em sexo em qualquer idade da vida se assim desejarem. As chances de alguém que sempre considerou o sexo primordial na vida de um casal querer continuar transando quando estiver velho são bem maiores do que a pessoa que sempre teve relações sexuais por obrigação. “O impulso sexual, a excitação e o orgasmo são aprendidos, educados. Quem nunca malhou na juventude, não vai malhar na terceira idade”, compara a sexóloga Jerusa Figueiredo, fundadora do Isof (Instituto de Sexologia e Orientação Familiar).
Porém, algumas mulheres mais velhas sentem dificuldade para se livrar do peso de uma educação muitas vezes pudica. Se elas foram ensinadas que sexo é feito só para procriar, dificilmente investirão nessa fonte de prazer quando o corpo já não puder gerar filhos. “Algumas delas ainda têm dificuldade de admitir que o sexo pelo sexo é bom. Isso é herança de uma repressão sexual de 2 mil anos. Elas ainda estão se libertando do modelo imposto de que a mulher deve ser recatada”, avalia a psicanalista e terapeuta sexual Regina Navarro Lins, autora de mais de 10 livros sobre o tema, entre eles A cama na varanda.
Quando a cabeça trava, não há libido que aflore. “A questão hormonal é importante, mas o mais importante é a mudança da mentalidade. Dessa maneira, a vida sexual poderia durar até os 90 anos”, acrescenta. Outras, no entanto, acreditam que a maturidade é a melhor fase para liberar as fantasias. Não há filhos, compromissos de trabalho nem obrigações financeiras que impeçam a vida sexual ativa. “Algumas pacientes relatam que justamente por terem entrado na menopausa e não terem medo de engravidar, elas se libertam”, diz Jerusa.
A professora Fátima Lacerda, 58 anos, sempre gostou de sexo. Aos 18 anos se libertou das amarras da criação conservadora dos pais nordestinos e, literalmente, embarcou rumo à liberdade sexual. Foi na adolescência que pegou um ônibus para se encontrar com o rapaz que escolheu para lhe tirar a virgindade. Fato consumado, nunca mais se viram. Assim ela orientou sua vida, com liberdade e prazer. Se o sexo não era bom, a paixão não durava. “Na maturidade, não é bem assim. Você coloca na balança. O cara pode ser legal para sair, para dançar, para beijar. A maturidade dá uns sossegos na gente. O sexo acalma, mas não me esqueci nenhum minuto”, diz Fátima, que já teve dois casamentos e, hoje, está solteira. “Não precisa fantasiar muito. Às vezes, até o jeito que a pessoa te olha, você está pronta, prontinha”, ri. O desejo é controlável, porém. Quando sente falta de companhia, marca um encontro com alguém interessante. De resto, filhos, neta e viagens substituem, em parte, o prazer carnal.
Quem foi bem resolvida na juventude chegará à maturidade sem deixar o sexo de lado. “Conheço mulheres que estão separadas há muitos anos e não têm necessidade de sexo. Eu não. Sou dependente química de sexo. Claro que, se for para viver sem, vou dar um jeito, mas gosto da parceria”, diz Ruth Guimarães. Aos 66 anos, a atriz está no quinto casamento e afirma que sexo é indispensável em uma relação saudável. “Meu companheiro é muito erotizado e a nossa vontade não diminui. Mas, hoje, se eu ficar uns dias sem sexo, não vou morrer.”
Ao contrário, há mulheres que acreditam que a idade é a libertação de uma vida sexual obrigatória, sem prazer. Já com os homens, a necessidade de sexo, e aí constata-se uma influência cultural forte, é maior mesmo na velhice. “O homem tem a virilidade como identidade. Daí o uso de termo ‘impotência’, porque, sem isso, ele seria impotente em todos os aspectos”, diz o urologista e andrologista Mário Pedro dos Santos, autor do livro Sexo do homem idoso.
No entanto, o desejo sexual é naturalmente diminuído na maioria dos casos. Para elas, depois da fase reprodutiva, há uma baixa na produção de hormônios femininos e, com isso, a libido adormece. “É preciso aprender a erotizar de outra forma a relação de muitos anos e se focar em qualidade, em vez de em quantidade”, afirma a ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina da Unifesp. Os homens também sentem o peso da idade. Alguns sofrem da chamada andropausa, que nada mais é que a redução dos níveis de testosterona, e que, entre outras consequências, pode comprometer o tesão pelo outro. “A resposta biológica fica mais lenta depois dos 50 anos. Há um amadurecimento e a pessoa já não se sente atraída por qualquer pessoa”, garante a sexóloga Jerusa Figueiredo.
A cabeça não envelhece. Homens e mulheres pensam em sexo em qualquer idade da vida se assim desejarem. As chances de alguém que sempre considerou o sexo primordial na vida de um casal querer continuar transando quando estiver velho são bem maiores do que a pessoa que sempre teve relações sexuais por obrigação. “O impulso sexual, a excitação e o orgasmo são aprendidos, educados. Quem nunca malhou na juventude, não vai malhar na terceira idade”, compara a sexóloga Jerusa Figueiredo, fundadora do Isof (Instituto de Sexologia e Orientação Familiar).
Porém, algumas mulheres mais velhas sentem dificuldade para se livrar do peso de uma educação muitas vezes pudica. Se elas foram ensinadas que sexo é feito só para procriar, dificilmente investirão nessa fonte de prazer quando o corpo já não puder gerar filhos. “Algumas delas ainda têm dificuldade de admitir que o sexo pelo sexo é bom. Isso é herança de uma repressão sexual de 2 mil anos. Elas ainda estão se libertando do modelo imposto de que a mulher deve ser recatada”, avalia a psicanalista e terapeuta sexual Regina Navarro Lins, autora de mais de 10 livros sobre o tema, entre eles A cama na varanda.
Quando a cabeça trava, não há libido que aflore. “A questão hormonal é importante, mas o mais importante é a mudança da mentalidade. Dessa maneira, a vida sexual poderia durar até os 90 anos”, acrescenta. Outras, no entanto, acreditam que a maturidade é a melhor fase para liberar as fantasias. Não há filhos, compromissos de trabalho nem obrigações financeiras que impeçam a vida sexual ativa. “Algumas pacientes relatam que justamente por terem entrado na menopausa e não terem medo de engravidar, elas se libertam”, diz Jerusa.
A professora Fátima Lacerda, 58 anos, sempre gostou de sexo. Aos 18 anos se libertou das amarras da criação conservadora dos pais nordestinos e, literalmente, embarcou rumo à liberdade sexual. Foi na adolescência que pegou um ônibus para se encontrar com o rapaz que escolheu para lhe tirar a virgindade. Fato consumado, nunca mais se viram. Assim ela orientou sua vida, com liberdade e prazer. Se o sexo não era bom, a paixão não durava. “Na maturidade, não é bem assim. Você coloca na balança. O cara pode ser legal para sair, para dançar, para beijar. A maturidade dá uns sossegos na gente. O sexo acalma, mas não me esqueci nenhum minuto”, diz Fátima, que já teve dois casamentos e, hoje, está solteira. “Não precisa fantasiar muito. Às vezes, até o jeito que a pessoa te olha, você está pronta, prontinha”, ri. O desejo é controlável, porém. Quando sente falta de companhia, marca um encontro com alguém interessante. De resto, filhos, neta e viagens substituem, em parte, o prazer carnal.
Quem foi bem resolvida na juventude chegará à maturidade sem deixar o sexo de lado. “Conheço mulheres que estão separadas há muitos anos e não têm necessidade de sexo. Eu não. Sou dependente química de sexo. Claro que, se for para viver sem, vou dar um jeito, mas gosto da parceria”, diz Ruth Guimarães. Aos 66 anos, a atriz está no quinto casamento e afirma que sexo é indispensável em uma relação saudável. “Meu companheiro é muito erotizado e a nossa vontade não diminui. Mas, hoje, se eu ficar uns dias sem sexo, não vou morrer.”
Ao contrário, há mulheres que acreditam que a idade é a libertação de uma vida sexual obrigatória, sem prazer. Já com os homens, a necessidade de sexo, e aí constata-se uma influência cultural forte, é maior mesmo na velhice. “O homem tem a virilidade como identidade. Daí o uso de termo ‘impotência’, porque, sem isso, ele seria impotente em todos os aspectos”, diz o urologista e andrologista Mário Pedro dos Santos, autor do livro Sexo do homem idoso.
No entanto, o desejo sexual é naturalmente diminuído na maioria dos casos. Para elas, depois da fase reprodutiva, há uma baixa na produção de hormônios femininos e, com isso, a libido adormece. “É preciso aprender a erotizar de outra forma a relação de muitos anos e se focar em qualidade, em vez de em quantidade”, afirma a ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina da Unifesp. Os homens também sentem o peso da idade. Alguns sofrem da chamada andropausa, que nada mais é que a redução dos níveis de testosterona, e que, entre outras consequências, pode comprometer o tesão pelo outro. “A resposta biológica fica mais lenta depois dos 50 anos. Há um amadurecimento e a pessoa já não se sente atraída por qualquer pessoa”, garante a sexóloga Jerusa Figueiredo.