Sexo maduro e sem tabus: o ato sexual

Os especialistas são categóricos: quanto mais se pratica sexo, mais se tem vontade, lubrificação, vitalidade. E faz bem. Controlada a mente, driblados os desgastes físicos, o sexo depende de uma nova referência. A prática muda com os anos

por Flávia Duarte 12/07/2013 09:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press
A professora Fátima Lacerda, 58 anos, acredita que, com a maturidade, o leque de opções para sentir prazer é infinito (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
“O orgasmo é bom para a saúde mental e física. Eu li que, se você não tem alguém para compartilhá-lo, deve tentar fazê-lo sozinho. Eu sou apaixonada pelo meu marido e nós dois temos saúde, então ainda temos uma vida sexual ativa. Para mim, o melhor alimento do erotismo é o amor. Na minha idade, não me excito com os músculos de um estranho na praia, mas sim com o corpo envelhecido do homem que está ao meu lado há 25 anos e que conheço melhor do que o meu”, disse Isabel Allende, na entrevista ao Correio.

Os especialistas são categóricos: quanto mais se pratica sexo, mais se tem vontade, lubrificação, vitalidade. E faz bem. Controlada a mente, driblados os desgastes físicos, o sexo depende de uma nova referência. A prática muda com os anos. Sem a afobação e a preocupação com a performance de antes. “A sexualidade é um marcador de vitalidade, uma característica que você mantém do nascimento até a morte”, avisa o andrologista Mário Santos. Só passa a ser diferente. “A carícia, o beijo, o toque e a masturbação são alternativas para a boa sexualidade”, acrescenta.

A maturidade física também traz a maturidade dos pensamentos. “O envelhecimento altera a forma como a pessoa encara a sexualidade e traz coisas que são vantajosas, como a segurança e a facilidade para encarar as questões sexuais”, afirma Carolina Ambrogini, coordenadora do projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina, do Departamento de Ginecologia da Unifesp. Pode ser, inclusive, o momento de maior conhecimento e convivência harmônica com o próprio prazer. “Antes eu tinha dúvida, hoje tenho certeza: meu prazer sexual independe de penetração. Na penetração, o prazer que ela me dá é de possuir o outro... Uma mulher possuir o macho, sempre tão poderoso nas culturas do mundo todo. Isso nos dá outro prazer, mas o gozo comigo não funciona só com a penetração, não”, garante a fogosa Ruth Guimarães.

A professora Fátima Lacerda, solteira atualmente, também está disposta a ressignificar o sexo na sua rotina. “Não tenho conflito nenhum com masturbação. Do mesmo jeito que acho saudável a relação sexual, acho isso saudável também. Claro que com toda a intimidade, do seu jeito, da sua forma”, afirma ela, que se recusa a pagar pela companhia de homens mais jovens, como vê outras mulheres fazendo.

Quando acompanhada, não espera peripécias sexuais na cama. Fátima, ao contrário, está aberta a buscas de formas mais mansas da manifestação do prazer. “Muitas vezes, o cara força a barra para mostrar bom desempenho na cama, mas mal sabe que isso é ruim para ele e para a companheira. Muitas vezes, só se beijar e acariciar é tão gostoso, tão agradável, mas o cara tem que estar disponível para descobrir, juntos, novas formas de fazer amor, que são milhões. O corpo humano tem muita química por si só: o toque, o cheiro. Dessa forma, não acaba o prazer. Meu pai tem 89 anos e ele acha que, sexualmente falando, o homem se aposenta, mas a mulher não. Não gostaria de concordar com isso. O homem tem que descobrir novas formas de ter prazer. Mas você não acha que é com uma mulher de 20 anos que um cara de 60 vai descobrir isso, não é? Vai descobrir com uma mulher mais velha, que, como ele, está buscando a mesma coisa.”

A maturidade também impõe a aceitação dos limites. Se feito a dois, melhor ainda. Élcio e Áurea não se desgrudam. Ele não imagina a vida sem ela. Ela não gosta de dançar com outro que não ele. Os beijos nunca cessaram. Ele a enche de beijos. Ela diz que isso não pode faltar. “Beijo para mim é o primordial. Se deixar de me beijar, não me ama mais.” A sintonia continua na cama. Debaixo dos lençóis, o “vulcão” do início do casamento, definido por Élcio, está tranquilo. Juntos, compreendem as novas necessidades um do outro. “A frequência não é como antes. Se falar que não mudou, é mentira. É um cansaço mesmo. Não é falta de amor nem de vontade. Ele está com 70 e eu com 66. As coisas não são como antigamente”, conclui Áurea.

Ele concorda. Não nega que já se sentiu angustiado com as mudanças notadas na hora do sexo, mas entende que essa fase da vida pede pausas. “Às vezes, demora um pouquinho para a gente ter a relação e, se bobear, ela já está feliz até antes disso. Ela fica esperando que eu também me realize, mas sinto um pouco a idade e demora um pouco mais. De certa forma, isso me frustra, sim, mas quanto mais você fica querendo e não consegue, mais você pensa: ‘Poxa vida, o que será que está acontecendo comigo?’. Se você tira isso da cabeça, as coisas fluem. Tudo que eu quero dela é que entenda. Certas vezes, temos um pouco de dificuldade, mas não é falta de vontade não”, diz Élcio. Áurea entende sim e, antes de ir embora, dá um beijo no marido, que nem percebe que os lábios ficaram manchados com o batom vermelho dela.

"A questão hormonal é importante, mas o mais importante é a mudança da mentalidade. Dessa maneira, a vida sexual poderia durar até os 90 anos"
Regina Navarro Lins, psicanalista