

Os especialistas são categóricos: quanto mais se pratica sexo, mais se tem vontade, lubrificação, vitalidade. E faz bem. Controlada a mente, driblados os desgastes físicos, o sexo depende de uma nova referência. A prática muda com os anos. Sem a afobação e a preocupação com a performance de antes. “A sexualidade é um marcador de vitalidade, uma característica que você mantém do nascimento até a morte”, avisa o andrologista Mário Santos. Só passa a ser diferente. “A carícia, o beijo, o toque e a masturbação são alternativas para a boa sexualidade”, acrescenta.
A maturidade física também traz a maturidade dos pensamentos. “O envelhecimento altera a forma como a pessoa encara a sexualidade e traz coisas que são vantajosas, como a segurança e a facilidade para encarar as questões sexuais”, afirma Carolina Ambrogini, coordenadora do projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina, do Departamento de Ginecologia da Unifesp. Pode ser, inclusive, o momento de maior conhecimento e convivência harmônica com o próprio prazer. “Antes eu tinha dúvida, hoje tenho certeza: meu prazer sexual independe de penetração. Na penetração, o prazer que ela me dá é de possuir o outro... Uma mulher possuir o macho, sempre tão poderoso nas culturas do mundo todo. Isso nos dá outro prazer, mas o gozo comigo não funciona só com a penetração, não”, garante a fogosa Ruth Guimarães.
A professora Fátima Lacerda, solteira atualmente, também está disposta a ressignificar o sexo na sua rotina. “Não tenho conflito nenhum com masturbação. Do mesmo jeito que acho saudável a relação sexual, acho isso saudável também. Claro que com toda a intimidade, do seu jeito, da sua forma”, afirma ela, que se recusa a pagar pela companhia de homens mais jovens, como vê outras mulheres fazendo.
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A maturidade também impõe a aceitação dos limites. Se feito a dois, melhor ainda. Élcio e Áurea não se desgrudam. Ele não imagina a vida sem ela. Ela não gosta de dançar com outro que não ele. Os beijos nunca cessaram. Ele a enche de beijos. Ela diz que isso não pode faltar. “Beijo para mim é o primordial. Se deixar de me beijar, não me ama mais.” A sintonia continua na cama. Debaixo dos lençóis, o “vulcão” do início do casamento, definido por Élcio, está tranquilo. Juntos, compreendem as novas necessidades um do outro. “A frequência não é como antes. Se falar que não mudou, é mentira. É um cansaço mesmo. Não é falta de amor nem de vontade. Ele está com 70 e eu com 66. As coisas não são como antigamente”, conclui Áurea.
Ele concorda. Não nega que já se sentiu angustiado com as mudanças notadas na hora do sexo, mas entende que essa fase da vida pede pausas. “Às vezes, demora um pouquinho para a gente ter a relação e, se bobear, ela já está feliz até antes disso. Ela fica esperando que eu também me realize, mas sinto um pouco a idade e demora um pouco mais. De certa forma, isso me frustra, sim, mas quanto mais você fica querendo e não consegue, mais você pensa: ‘Poxa vida, o que será que está acontecendo comigo?’. Se você tira isso da cabeça, as coisas fluem. Tudo que eu quero dela é que entenda. Certas vezes, temos um pouco de dificuldade, mas não é falta de vontade não”, diz Élcio. Áurea entende sim e, antes de ir embora, dá um beijo no marido, que nem percebe que os lábios ficaram manchados com o batom vermelho dela.
"A questão hormonal é importante, mas o mais importante é a mudança da mentalidade. Dessa maneira, a vida sexual poderia durar até os 90 anos"
Regina Navarro Lins, psicanalista
Regina Navarro Lins, psicanalista