“Diversos estudos nacionais e internacionais apontam uma relação entre o uso da chupeta e uma menor duração da amamentação, mas ainda não foi estabelecida uma relação causal entre eles. Já se observaram, no entanto, evidências de uma relação dose-resposta, ou seja, quanto mais a mãe amamenta o bebê, menos ele usa a chupeta, e vice-versa”, destaca a fonaudióloga Gabriela Buccini, autora da nova pesquisa.
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“Isso nos mostra que as crianças que não mamam na primeira hora de vida têm mais chances de usar a chupeta. Não falamos em redução do uso, mas em uma menor chance”, ressalta Buccini. A fonoaudióloga também reforça que o estudo é um dos primeiros a ilustrar uma suspeita já existente no meio científico. “É importante dizer que o aleitamento materno na primeira hora de vida tem sido um fator que aumenta as chances de a mãe amamentar por um período mais longo, além de favorecer o estabelecimento do vínculo com o filho. Esses fatores permeiam a decisão do uso ou não dos bicos artificiais. Bebês que estão em aleitamento materno usam menos bicos.”
O pediatra e professor da Universidade Federal de Goiânia (UFG) Sebastião Leite concorda que o trabalho feito por Buccini ajuda a alertar sobre a importância do aleitamento e dará base a novas sondagens na área. “Temos estudos que já mostram muitos benefícios relacionados a esse contato inicial entre mãe e filho, como reduzir o risco de infecções e também de melhora da autoestima da mulher. Agora, há mais um benefício comprovado e que reforça a necessidade de manter os dois juntos após o nascimento”, destaca o especialista.
A amamentação na primeira hora de vida também é discutida pelos especialistas devido ao fato de a mãe ter pouco controle sobre ela. O contato inicial depende da ajuda de profissionais do local em que a criança nasceu. “Esse resultado fortalece a urgência de políticas públicas que visem atendimentos mais humanizados em maternidades públicas ou privadas, e maior número de hospitais credenciados à rede Amigo da Criança, que prevê a amamentação na primeira hora e a não utilização de chupetas e mamadeiras em crianças saudáveis amamentadas no seio”, defende Buccini.
Desmame acelerado
A fonaudióloga acrescenta que um dos problemas ocasionados pelo uso da mamadeira é que, nela, a forma de sucção do alimento é diferente da feita pelo bebê ao ser amamentado pelo seio. No bico artificial, há uma dificuldade maior de retirar o leite. “Isso acaba reduzindo o número de mamadas por dia. Consequentemente, havendo uma menor estimulação da mama, há uma menor produção de leite, acelerando o desmame”, explica Buccini. Pesquisas indicam ainda que, entre os usuários de chupeta, o risco de surgimento de otite média aguda é 1,8 vezes maior.
O pediatra Sebastião Leite acrescenta que o uso de chupeta pode provocar problemas de dentição, compromete o desenvolvimento da linguagem oral, além de dar chance para a entrada de bactérias, caso não seja limpa adequadamente. Segundo a neonatologista Lindacir Sampaio, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os cuidados a serem adotados pelos pais vão além da higiene. Envolvem também a razão pela qual os bicos artificiais são utilizados. “O ideal é sempre tentar saber por que a criança chora e não utilizar as chupetas para acabar com isso.”
Buccini alerta que, ao mesmo tempo em que há consenso científico reconhecendo os bicos artificiais como responsáveis por alterar o sistema sensório-motor oral e comprometer o processo de linguagem, profissionais de diferentes áreas da saúde têm posições diversas com relação à proibição desses artefatos tão arraigados à nossa cultura. “As opiniões variam entre dentistas, médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos e psicólogos, entre outros. Mas tal interesse multiprofissional sugere que o assunto está na pauta da saúde infantil e merece mais atenção tanto dos pesquisadores quanto dos profissionais da área”, destaca a fonoaudióloga.
Cérebro também é beneficiado
Quando é o único alimento durante os três primeiros meses de vida, o leite materno beneficia o desenvolvimento cerebral dos bebês. O resultado, que se soma a evidências ligadas ao aumento do quociente de inteligência e da capacidade cognitiva na infância e na adolescência, foi divulgado por pesquisadores da Brown University, nos Estados Unidos. A equipe analisou imagens de ressonância magnética de 133 crianças enquanto elas dormiam. Os exames indicaram avanços diferenciados na massa branca do cérebro dos participantes, que tinham entre 10 meses e 4 anos.
“Estamos descobrindo que a diferença (em crescimento de substância branca) é da ordem de 20% a 30% se compararmos crianças que receberam leite materno e crianças não amamentadas”, explicou Sean Deoni, líder do estudo. A estrutura comparada tem a função de ordenar a comunicação entre diferentes regiões cerebrais, fornecendo, por exemplo, sustentação e nutrição aos neurônios. A ressonância a que os participantes foram submetidos teve como foco a quantidade de mielina, material que isola as fibras nervosas e acelera os sinais elétricos que circulam pelo cérebro.
Os participantes do estudo também foram submetidos a testes cognitivos, que indicaram que aqueles alimentados exclusivamente pelo leite materno nos 90 primeiros dias de vida apresentaram um desempenho melhor de linguagem, de recepção visual e de controle motor. Todos os voluntários tiveram tempo normal de gestação e eram filhos de famílias com condições socioeconômicas semelhantes.
Naqueles alimentados apenas pelo leite materno por ainda mais tempo, houve, de acordo com os pesquisadores, um crescimento da massa branca maior, especialmente a ligada a funções motoras. Os cientistas, no entanto, ressaltaram que, por meio do estudo, não é possível identificar quando essas diferenciações cerebrais começam a se manifestar. Os resultados foram divulgados no mês passado, na revista NeuroImage.