Segundo o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABN), o médico Durval Ribas Filho, tem crescido no país a preocupação de restaurantes em relação à nutrição. “Isso é um grande avanço no sentido não só de prover informação mais adequada, mas também dar opções para que as pessoas possam escolher um prato mais equilibrado nutricionalmente”, afirma.
O cuidado é justificado diante do impacto que uma boa alimentação tem no organismo. Diabetes, pressão alta e obesidade são males atuais diretamente relacionados com a ingestão mal orientada de alimentos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, nos últimos 20 anos o índice de crianças obesas cresceu 300%. A proporção de pessoas acima do peso no país também aumentou, de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. Já o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%.
Além de evitar doenças, uma alimentação saudável garante mais qualidade de vida.
O conceito de comer bem supera em muito a ideia que as pessoas tinham de que uma alimentação saudável se resume a consumir frutas, legumes e verduras regularmente. Durval Ribas Filho explica que a dieta equilibrada está relacionada com a ingestão de todos os grupos de macro e micronutrientes de maneira proporcional e adequada. Os macronutrientes são os carboidratos, gorduras e proteínas e a recomendação do médico é de que o consumo diário deles seja, respectivamente, de 60 a 70%, 20 a 30% e 15 a 25% da ingestão calórica. Já os micronutrientes são compostos pelas vitaminas e sais mineiras, que são necessários em menores quantidades.
COR NO PRATO
A presidente do Conselho Regional de Nutrição de Minas Gerais (CRN-MG), Heloísa Magalhães de Oliveira, ressalta que a boa alimentação é baseada em qualidade, quantidade e variedade. Por isso, quem come fora de casa e se preocupa em adotar hábitos mais saudáveis deve levar em consideração todos esses critérios e estar atento a algumas dicas na hora de escolher o que comer. Ter sempre no prato porções de proteína, carboidrato, gordura, vitamina, fibras e sais mineiras é fundamental. “Quanto maior a variedade, maior a quantidade de nutrientes que a pessoa está ingerindo. Quando falamos que é bom ter um prato colorido é porque cada cor tem um pigmento e uma qualidade antioxidante diferente. Pratos assim são ideais”, destaca o nutrólogo.
Saladas são ótimas opções para garantir essa variedade de cores. A partir delas é possível combinar proteínas, carboidratos e diferentes vitaminas, dependendo das folhas e verduras. “Variar a salada é algo que ajuda a ter mais prazer na refeição e dá até para incentivar o desejo de comer”, comenta a nutricionista.
Frutas, folhas verdes, legumes, leguminosas, queijos, frango, kani e presunto são algumas das várias opções que a rede Marietta, que tem três lojas em Belo Horizonte, oferece para a montagem de saladas.
Localizados em três shoppings da capital, os restaurantes mostram que nem todo fast food tem que oferecer a chamada junk food, termo usado para caracterizar pratos ou alimentos com baixa qualidade nutricional. Lá os lanches rápidos e saudáveis têm sido há 15 anos uma alternativa para quem quer comer bem e não tem muito tempo a perder. “Quando começamos éramos praticamente os únicos que investiam em comida saudável em shoppings”, afirma Lúcia Helena. Segundo ela, o público atual é mais exigente e se importa mais com a nutrição. “Todo mundo está mais preocupado e a busca por uma alimentação saudável abrange toda a população. Na hora do almoço as saladas são o nosso carro-chefe, tanto é que reformamos recentemente duas de nossas três lojas para valorizar mais o bufê de salada e deixá-lo mais chamativo para nosso cliente”, diz a empresária.
Aposta em orgânicos e no prazer de comer
Desde que começou o investimento em lanches nutritivos, a empresária Junia Quick, proprietária do Néctar da Serra, aposta em produtos o mais próximos da horta regional possível. Para ela, além de nutritiva, a alimentação saudável está diretamente relacionada com a ingestão de alimentos frescos, sem agrotóxicos, com pouca gordura e de origem segura.
Soluções práticas
Com pouco mais de um mês no mercado, a Make Eat Slow tem como principal proposta dar mais acessibilidade à alimentação saudável. Na cozinha, a equipe tem em sua base uma chef e uma nutricionista que constroem em conjunto cardápios equilibrados, leves e saborosos. O resultado combina gastronomia e bem-estar: carnes grelhadas, alimentos orgânicos, legumes e verduras obrigatórios e as fibras, tão cobradas pelos nutricionistas, são regularmente presentes, mesmo que de maneira sutil. “Hoje em dia temos possibilidades enormes de novos preparos”, comenta. “No muffin que oferecemos como lanche, por exemplo, optamos por trabalhar com farinha integral, açúcar mascavo e frutas. São soluções que a gente encontra de alterar o preparo sem perder no sabor”, completa Silvia.
“A gente tem o costume de dizer que quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente, seja para mais ou para menos. Hoje o grande vilão da saúde é a obesidade. Se considerarmos a vida moderna, cada vez mais as pessoas estão pensando menos no que estão ingerindo. É muito comum que elas pensem no que vão comprar em roupas e utensílios, mas se esquecem do que, em seu cotidiano, estão procurando como alimento e nutriente. É exatamente esse o grande problema. E nessa volúpia do dia a dia com relação a horários e a pressa, come-se em maior quantidade e com qualidade inferior ao que se deveria comer. Para uma alimentação de qualidade a primeira questão a ser tratada é a reflexão e a educação nutricional. Reflexão sobre o que estou comendo e o que deveria comer, mas isso requer educação”. .