

Segundo os pesquisadores, os seres humanos precisam dessa reação do corpo para sobreviver. “O estresse é um grande mediador do comportamento dos mamíferos. A resposta adequada a uma reação de estresse percebido facilita a sobrevivência e a propagação da espécie” explica Daniela Kaufer, uma das integrantes do estudo, publicado no jornal Elife.
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Depois de 14 dias, outros testes foram feitos nos ratos e os pesquisadores perceberam que houve também uma ativação de neurônios recém-nascidos. “Duas semanas depois do estresse agudo, a constatação desses neurônios novos mostra que os ratos tiveram melhora na região relacionada à memória. Nossos resultados sugerem um papel benéfico para esse estresse breve sobre o hipocampo, que também é capaz de melhorar a compreensão da capacidade de adaptação do cérebro”, explica, no estudo, Daniela.
Trabalhos anteriores já apontavam o estresse como algo benéfico e serviram de base para o novo estudo americano. “Pesquisas recentes com macaco-esquilo adulto mostram que lidar com o estresse social estimula a neurogênese adulta (processo de formação de novos neurônios) e melhora a memória”, explica a neurocientista. “Esses trabalhos, em conjunto com os nossos resultados, evocam a possibilidade de que o estresse agudo possa ser benéfico para a saúde do cérebro e em particular no hipocampo”, complementa Daniela, no texto divulgado.
Instinto
A reação ao estresse é uma sensação que existe desde os primórdios. Segundo o neurologista Maurice Vincent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse fenômeno fisiológico beneficia os seres humanos ao protegê-los de perigos latentes. “O conjunto de alterações que caracteriza o estresse se instala a partir de uma ameaça ao animal como decorrência de uma interação entre o cérebro e o corpo diante da percepção de um grande perigo”, explica.
O especialista detalha que a origem dessa reação está ligada ao hipotálamo, região do cérebro observada pelos cientistas do estudo americano. “A principal alteração no sistema nervoso central é a ativação do chamado eixo hipotálamo-hipofisário e do sistema nervoso autônomo, reação mediada por hormônios liberados agudamente, principalmente os chamados hormônios glicocorticoides, como o cortisol, citado nesse estudo “, define o especialista.
Vincent destaca também que o estresse positivo só passa a ser prejudicial em excesso, quando deixa de ser agudo e passa a ser crônico. “Os seres humanos podem se expor a períodos prolongados de atividade elevada dos mesmos sistemas cerebrais que nos ajudam a sobreviver a esses desafios mais agudos. Essa exposição surge com o desenvolvimento de ansiedade e pode ser decorrente da exposição constante a ambientes hostis, como ruído constante, pressões pessoais no trabalho ou na família, entre outros. O estresse crônico, ao contrário do agudo, causa problemas de saúde a longo prazo”, compara Vincent.
Neurocientista da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Tomaz também indica pontos positivos da pesquisa americana. “O que é mais importante ressaltar nesse estudo é como o estresse desencadeia reações no organismo, os eventos neurológicos, porque, assim, poderemos evoluir nas pesquisas”, explica o especialista. “Com base nesse conhecimento, seria possível desenvolver, no futuro, medicamentos e terapias que eventualmente pudessem aumentar a resistência ou facilitar algumas respostas de memória para situações estressantes.” Segundo Tomaz, essas descobertas poderiam ser utilizadas em tratamentos de distúrbios como o estresse pós-traumático, comum em veteranos de guerra e em sobreviventes de tragédias.
Os pesquisadores americanos dizem estar otimistas com os resultados alcançados até o momento, mas eles pretendem avançar no estudo e conseguir desvendar todo o processo do estresse no organismo humano. “Em níveis mais moderados, o estresse agudo pode realmente melhorar a função da memória em ratos. Mais pesquisas serão necessárias para definir com maior precisão os limites desse processo e definir melhor o parâmetro de estímulo necessário do estresse agudo para que ele ocorra de forma eficaz”, diz Daniela Kaufer.
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REAÇÃO AO PERIGO
A interação entre o estresse e o hipocampo é também fundamental para a sobrevivência, já que essa área do corpo está ligada à memória. Existe uma concentração elevada de receptores para glicocorticoides (uma classe de hormônios esteroides caracterizada pela habilidade de se ligar com o receptor de cortisol) no hipocampo e em outras regiões envolvidas com o processamento das emoções. Cientistas acreditam que o estresse agudo leve à ativação do hipocampo durante uma situação de ameaça porque o animal necessita lembrar-se exatamente do local e das circunstâncias relacionadas àquele perigo e não se expor novamente ao mesmo risco. Os seres humanos também se lembram de detalhes relacionados a essas situações. Por exemplo: vítimas de crimes relatam à polícia detalhes tão claros dos agressores que permitem o desenvolvimento de retratos falados.
Questão de exposição
Entenda o que difere o estresse que faz e o que faz mal à saúde
O que é?
O estresse pode ser causado por razões físicas, psicológicas ou sociais. É gerado por um conjunto de reações fisiológicas que,
ao ser levadas ao exagero e em longa duração, podem resultar em um desequilíbrio do organismo.
Estresse agudo
É aquele ligado a situações traumáticas, mas passageiras, como a morte de um parente. Ele é intenso e curto. De acordo com os médicos, é benéfico, já que nos ajuda em situações em que a sobrevivência está em risco. Quando um animal se vê diante de um predador, por exemplo, o estresse pode salvá-lo. Essa reação é chamada de resposta ight-or-flight (lutar ou fugir). Prepara o corpo para a fuga ou para o embate.
Estresse crônico
É causado pela exposição constante a ambientes hostis, como barulhos ltos e frequentes, poluição, conflitos essoais permanentes, pressões essoais no trabalho ou na família, ntre outros. Ao contrário do agudo, ausa doenças a longo prazo, como soríase, infecções causadas or baixa imunidade e enxaqueca.