A ideia é estabelecer metas terapêuticas – de hemoglobina glicada, glicemia de jejum e glicemias pré e pós-prandial, índices da atuação da glicose no organismo – para cada paciente em função da idade. Jovens não podem ser tratados como idosos, por exemplo. Segundo Marcos Tambascia, coordenador do Centro de Pesquisa Clínica em Endocrinologia e Diabetes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já está provado que as complicações do diabetes estão relacionadas com o grau de controle e não com o fato de o paciente ter diabetes. “O objetivo do tratamento do diabetes, então, é manter a hemoglobina glicada controlada. Mas, quanto mais agressiva for a conduta para diminuir esses índices, maiores são os riscos de hipoglicemia, com impacto na qualidade de vida e risco cardiovascular.”
Tal controle, contudo, não é fácil. Apenas 25% dos brasileiros com diabetes tipo 2 estão com a doença controlada. E segundo o especialista, como o diabetes tipo 2 está associado à hipertensão, dislipidemias e obesidade, tratar só a glicemia não vai ajudar. “O tratamento começa com um medicamento e vai mudando conforme altera a fisiopatologia da doença. Em geral, entramos com a metformina (remédio mais prescrito nos estágios iniciais do diabetes) e vamos acrescentando outras drogas até insulinizar. Essa escolha é baseada na eficácia do medicamento, mas também nos impactos nos fatores de risco vascular do paciente”, acrescenta Tambascia.
É nesse contexto que uma classe recente de medicamentos ganha mais espaço pela sua capacidade de diminuir as hipoglicemias. Os análogos do GLP-1, todos eles injetáveis, têm conquistado mais pacientes, sendo usados em várias fases do tratamento, desde o diagnóstico até em casos mais complicados. Segundo Marcos Tambascia, são de grande eficácia e levam à perda de peso. Por essa última razão, acabaram sendo usados mesmo por não diabéticos assim que chegaram ao mercado. A novidade dessa classe é a lixisenatida, o primeiro com dose única, já disponível na Europa e em fase de avaliação nos EUA e no Brasil. “Nos estudos, a droga diminuiu em até 34% as complicações do diabetes.” Quando chegar ao Brasil, o medicamento pode ser um recurso a mais para o mecânico Wanderle Cardozo, que descobriu a doença aos 48 anos. Na época, a entrada da medicação foi imediata, mas como os horários de alimentação e a atividade física continuaram deficitários as doses de remédio eram altíssimas. Hoje, ele sabe a importância de uma vida saudável.
“Entendi que o remédio ajuda, mas tenho que combater a causa da doença, que é a má alimentação”, afirma Cardozo. Atualmente com 57 anos, o trabalhador autônomo faz uso de insulina e controla o consumo de carboidratos diariamente, e espera reduzir ainda mais a medicação.
Monitoramento
Tão importante quanto a medicação, o plano alimentar e a atividade física ajudam a monitorar os níveis da glicemia. Esses são os pilares para o tratamento do diabetes e as medidas capazes de manter a doença sob controle e, assim, evitar as complicações. Principalmente porque, clinicamente, o paciente só percebe a alteração da glicose quando essa está muito alta ou muito baixa, exatamente os extremos que devem ser evitados. Com o progresso das insulinas, o que permitiu metas mais agressivas de controle, é ainda mais importante conferir a quantas anda a glicose ao longo do dia.
De acordo com o endocrinologista Mauro Scharf, coordenador do Departamento de Diabetes no Jovem da Sociedade Brasileira de Diabetes, a monitorização previne a hipoglicemia noturna e ajuda na tomada de decisões. “Sem monitorização adequada não se consegue prescrever corretamente a insulina”, explica o especialista, segundo o qual a glicose deve ser medida antes de cada refeição e duas horas depois, para manter o paciente com a menor variabilidade glicêmica.
Em estudo
Depois do advento dos análogos do GLP-1, a classe médica aguarda as já anunciadas insulinas de longa duração. Os primeiros estudos clínicos da U300 demonstraram que o medicamento em fase III de pesquisa atingiu um efeito prolongado da glicose em comparação com a insulina glargina. Independentemente da dose, o controle de glicose se manteve até 36 horas após a injeção. Isso representaria uma redução do risco de alteração da glicose durante a noite.
Depois do advento dos análogos do GLP-1, a classe médica aguarda as já anunciadas insulinas de longa duração. Os primeiros estudos clínicos da U300 demonstraram que o medicamento em fase III de pesquisa atingiu um efeito prolongado da glicose em comparação com a insulina glargina. Independentemente da dose, o controle de glicose se manteve até 36 horas após a injeção. Isso representaria uma redução do risco de alteração da glicose durante a noite.
Para atrair jovens
Pacientes com diabetes do tipo 1, que são dependentes de insulina, precisam ainda mais desse controle. E não basta medir. É preciso registrar os dados e compartilhar com o médico que acompanha o tratamento. Daí a expectativa para chegar ao Brasil o dispositivo de monitoramento que pode ser acoplado ao iPhone, iPad e iPod touch, em breve disponível também para o sistema Android.
O iBGSTAR, já vendido nos Estados Unidos, deve chegar ao país ainda no segundo semestre. Segundo a Sanofi, fabricante do leitor de glicemia, o produto aguarda agora o processo de importação e a finalização da versão nacional do aplicativo. Lá fora, seu preço é em torno de R$ 125.
Para Mauro Scharf, que trabalha especialmente com pacientes do tipo 1 da doença, o novo monitor pode atrair o jovem que tem o smartphone como um objeto de desejo. “É um aparelho mais discreto e tem uma série de facilidades. Uma delas é o fato de poder ser usado mesmo sem o celular, caso esse tenha a bateria esvaziada, por exemplo. Basta colocar a fita no aparelho e ele armazena o dado até ser conectado ao aparelho e gravar a informação. São recursos a mais para o médico ver o quanto o paciente está aderindo ao tratamento”, conclui.
A tecnologia já trouxe outras contribuições para o controle do diabetes. As canetas e bombas de insulina são uma delas. Para Scharf, tudo o que facilita a vida do paciente e pode melhorar sua adesão ao tratamento deve ser indicado. O consultor Rodrigo Campelo, de 38 anos, usa insulina desde que foi diagnosticado com diabetes tipo 1, aos 7 anos. Até 2010, sua rotina envolvia de seis a sete aplicações diárias de insulina, entre as doses de longa duração e as de controle de carboidrato, após cada refeição. Mas Rodrigo, como um bom paciente “rebelde”, tinha a rotina muito agitada, o que dificultava o controle da doença. O resultado foram situações que fugiam ao seu controle, como crises de hipoglicemia na rua.
“Meu médico estava preocupado, pois não conseguia mais controlar minha alimentação. Como eu viajo muito, ficava difícil manter uma rotina saudável.” Foi aí que o consultor descobriu a bomba de infusão, um cateter colocado no paciente que lança a insulina no corpo. O aparelho simplificou a vida de Rodrigo, que precisa trocá-lo apenas a cada três dias. As fugidinhas dos fins de semana continuam, e com elas o controle de carboidratos. Mas com a bomba ele não precisa tomar tantas injeções nem se preocupar com os horários, e seu corpo recebe todas as doses de insulina de que precisa por dia.
* A repórter viajou a convite da Sanofi