Os bebês que são amamentados na primeira hora de vida têm menor chance de usar os chamados bicos artificiais, como chupetas e mamadeiras, ao longo da infância. De acordo com especialistas, o uso desses produtos pode trazer consequências negativas à saúde das crianças, favorecendo alterações na linguagem, o desenvolvimento da respiração bucal e o surgimento de otites (inflamações no ouvido). A conclusão consta de um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que avaliou a prática em 34.366 crianças menores de um ano residentes em capitais brasileiras.
Os dados foram obtidos a partir da análise de indicadores da 2ª Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e no Distrito Federal, do Ministério da Saúde.
Segundo a fonoaudióloga Gabriela Buccini, responsável pela pesquisa, do total de bebês observados, 70% foram amamentados na primeira hora de vida. Entre eles, 19% fizeram uso de chupeta, 41% fizeram uso de mamadeira e 45% usaram os dois produtos. Os percentuais, em todos os casos, são menores do que os encontrados nos bebês que foram privados do aleitamento materno na primeira hora após o nascimento. Entre os que não mamaram, 21% fizeram uso de chupeta, 44% fizeram uso de mamadeira e 50% usaram chupeta e mamadeira. A pesquisadora destacou que, embora percentualmente as diferenças encontradas pareçam pequenas, em termos estatísticos elas são "extremamente significativas". Em sua avaliação, muitas mães oferecem os bicos artificiais como forma de acalentar os bebês mais rapidamente.
"Acredito que o ritmo de vida da atualidade tem influência nessa prática, porque com tudo tão corrido muitas vezes as pessoas não têm tempo de lidar com os sentimentos dos outros e de ensinar seus filhos a lidar com seus próprios sentimentos. Então, a chupeta e a mamadeira surgem como forma artificial, mas urgente, de lidar com tudo isso", disse.
"O problema é que esses objetos não passam o afeto, o carinho e a atenção tão importantes para o desenvolvimento emocional das crianças", acrescentou, enfatizando que o uso de bicos artificiais também contribui para a redução no tempo de aleitamento materno, "estratégia que mais previne mortes infantis, além de promover a saúde física, mental e psíquica da criança".
Ainda segundo a pesquisadora, estima-se que a amamentação é capaz de reduzir em 13% as mortes em crianças menores de 5 anos, assim como em 19% a 22% as mortes neonatais, se praticada na primeira hora de vida.
Para a odontóloga Emília Biato, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, não se pode adotar uma postura radical de condenação ao uso de chupetas e mamadeiras, na medida em que há casos em que ele se faz necessário, como diante da recomendação médica de complemento com fórmulas nutricionais. Ela ressaltou, entretanto, que as mães devem, sempre que possível, evitar o uso desses produtos e valorizar a prática da amamentação.
"O uso de bicos artificiais, especialmente nesse início de vida, pode confundir a criança que, ao experimentar bicos mais moles e macios perde a vontade de mamar no seio materno. Só que é essa prática (mamar no seio) que, além de garantir os nutrientes necessários à criança, favorece o posicionamento, o movimento e a força adequados da língua e dos músculos da face que permitem o desenvolvimento correto dos ossos dessa região", explicou.
A professora aposentada Edna de Freitas, 59 anos, não conseguiu amamentar sua filha na década de 1970. Por sentir fortes dores com as fissuras no seio e por não ter recebido orientação adequada sobre a importância da prática, ela desistiu poucos dias após o parto. Trinta anos depois, a aposentada conta que incentivou a filha a insistir no aleitamento de seus netos.
"Naquela época não se falava tanto sobre os benefícios da amamentação e eu acabei deixando para lá e substituindo pela mamadeira. Hoje, vejo como as crianças que mamam no peito são mais saudáveis em vários aspectos. Quando virei avó, ajudei a minha filha a amamentar e conversei muito com ela para que não desistisse. O resultado é que meus netos são fortes e dificilmente ficam doentes. Além do vínculo lindo que desenvolveram com a mãe, certamente iniciado no período da amamentação", disse.
De acordo com o Ministério da Saúde, o uso da chupeta é desaconselhado pela possibilidade de interferir negativamente na duração do aleitamento materno e por estar associado à maior ocorrência de candidíase oral (sapinho), de otite média e de alterações do palato. Além disso, a pasta considera que o desmame precoce, favorecido pelo uso de bicos aritificais, pode comprometer o desenvolvimento motor adequado da região oral e prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala.
Os dados foram obtidos a partir da análise de indicadores da 2ª Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e no Distrito Federal, do Ministério da Saúde.
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"Acredito que o ritmo de vida da atualidade tem influência nessa prática, porque com tudo tão corrido muitas vezes as pessoas não têm tempo de lidar com os sentimentos dos outros e de ensinar seus filhos a lidar com seus próprios sentimentos. Então, a chupeta e a mamadeira surgem como forma artificial, mas urgente, de lidar com tudo isso", disse.
"O problema é que esses objetos não passam o afeto, o carinho e a atenção tão importantes para o desenvolvimento emocional das crianças", acrescentou, enfatizando que o uso de bicos artificiais também contribui para a redução no tempo de aleitamento materno, "estratégia que mais previne mortes infantis, além de promover a saúde física, mental e psíquica da criança".
Ainda segundo a pesquisadora, estima-se que a amamentação é capaz de reduzir em 13% as mortes em crianças menores de 5 anos, assim como em 19% a 22% as mortes neonatais, se praticada na primeira hora de vida.
Para a odontóloga Emília Biato, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, não se pode adotar uma postura radical de condenação ao uso de chupetas e mamadeiras, na medida em que há casos em que ele se faz necessário, como diante da recomendação médica de complemento com fórmulas nutricionais. Ela ressaltou, entretanto, que as mães devem, sempre que possível, evitar o uso desses produtos e valorizar a prática da amamentação.
"O uso de bicos artificiais, especialmente nesse início de vida, pode confundir a criança que, ao experimentar bicos mais moles e macios perde a vontade de mamar no seio materno. Só que é essa prática (mamar no seio) que, além de garantir os nutrientes necessários à criança, favorece o posicionamento, o movimento e a força adequados da língua e dos músculos da face que permitem o desenvolvimento correto dos ossos dessa região", explicou.
A professora aposentada Edna de Freitas, 59 anos, não conseguiu amamentar sua filha na década de 1970. Por sentir fortes dores com as fissuras no seio e por não ter recebido orientação adequada sobre a importância da prática, ela desistiu poucos dias após o parto. Trinta anos depois, a aposentada conta que incentivou a filha a insistir no aleitamento de seus netos.
"Naquela época não se falava tanto sobre os benefícios da amamentação e eu acabei deixando para lá e substituindo pela mamadeira. Hoje, vejo como as crianças que mamam no peito são mais saudáveis em vários aspectos. Quando virei avó, ajudei a minha filha a amamentar e conversei muito com ela para que não desistisse. O resultado é que meus netos são fortes e dificilmente ficam doentes. Além do vínculo lindo que desenvolveram com a mãe, certamente iniciado no período da amamentação", disse.
De acordo com o Ministério da Saúde, o uso da chupeta é desaconselhado pela possibilidade de interferir negativamente na duração do aleitamento materno e por estar associado à maior ocorrência de candidíase oral (sapinho), de otite média e de alterações do palato. Além disso, a pasta considera que o desmame precoce, favorecido pelo uso de bicos aritificais, pode comprometer o desenvolvimento motor adequado da região oral e prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala.