Ainda durante o passeio, a jovem de vinte e poucos anos fala sobre a avó, que manteve um casamento até o fim, mesmo apaixonada por outro homem. Céline acha triste, mas Jesse não: se eles ficassem juntos, em algum momento se decepcionariam. "As pessoas projetam romantismo em tudo e esquecem da realidade", sentencia ele.
Em 2004, nas casa dos 30 anos, eles se reencontram em 'Antes do anoitecer”. Trocam as frustrações que viveram até ali -casamentos e relacionamentos infelizes, escolhas profissionais frustradas, medo. Neste segundo filme, Jesse coloca a questão: "O que é amor, senão respeito, confiança e admiração? Eu sentia tudo isso, quando me casei, mas agora sinto como se fosse dono de um berçário junto com alguém que namorei no passado, vivemos sob o pretexto da responsabilidade do casamento e um monte de ideias que alguém colocou sobre como as pessoas devem viver. O amor deve ser mais do que compromisso.".
Já Céline devolve: "O que significa o homem certo? O amor da sua vida? Esse conceito é absurdo, a ideia de que só podemos ser completos com outra pessoa é má! (...) Acho que já me machuquei muito e me recuperei. Agora nem me esforço, porque sei que não vai dar certo", afirma, desesperançosa.
No dia 14 de junho, estreou no Brasil a terceira parte da série: 'Antes da meia-noite'. Jesse e Céline são agora um casal na faixa dos 40 anos, pais de gêmeas, e estão em férias. Agora, as questões estão voltadas para as estratégias que mantêm viva um relacionamento duradouro. Algo como – as escolhas foram feitas, elas são imperfeitas, o que vamos fazer com elas?
Alguma semelhança com o que Esther Perel e Regina Navarro Lins discutem?
Enquanto os dois primeiros filmes deixam no ar aquela aura de “alma-gêmea' – a despeito dos diálogos realistas de seus personagens – o terceiro mostra mais as técnicas de negociação, concessão e autoengano que cada um faz. A culpa por um filho do outro casamento, que mora longe. O casal é admirado por gerações de cinéfilos, e parte desse fascínio se dá pela identificação com seus dilemas.
O romantismo cinematográfico pode ser apenas uma fonte de idealização. E de infelicidade. Mas pode também ensinar que as relações humanas, embora imperfeitas, podem contribuir para uma vida mais feliz. Ainda que não enquadrada em um modelo.