A explosão da revolta seguida de uma grande onda de otimismo é reação comum entre os jovens acometidos pelo câncer. Segundo a especialista em psico-oncologia Marilia Zendron, existe a tendência de o paciente, em um primeiro momento, enxergar a doença como o fim da vida. “É um pensamento que não difere muito do adulto que recebe o mesmo diagnóstico. Porém, com a troca de experiências e vivências, e o aprendizado que o tratamento proporciona, a pessoa percebe que não é assim e que é possível viver com câncer e, principalmente, após o câncer”, afirma.
Chefe do Centro de Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Sandro José Martins aponta que uma característica nos jovens pode amenizar o quadro de tensão. Eles normalmente têm menos problemas de saúde e a reserva funcional melhor, o que aumenta a eficácia do tratamento. “Também, em geral, toleram procedimentos cirúrgicos maiores e não se revoltam com os procedimentos médicos às vezes agressivos. Isso faz com que a possibilidade de sucesso seja mais ampla do que a de pacientes mais idosos”, explica.
O tratamento a que Ademir foi submetido começou logo que o tumor foi confirmado, pelo estado avançado do linfoma não era possível esperar. Para se dedicar à recuperação, ele trancou o semestre do curso de direito. “Preferi pausar um pouco os estudos e não precisar me preocupar com provas e trabalhos”, explica. O universitário foi submetido a sessões de quimioterapia até janeiro do ano passado. Segundo ele, que está curado, apesar dos impedimentos e das dificuldades, a terapia foi tranquila.
O tratamento a que Ademir foi submetido começou logo que o tumor foi confirmado, pelo estado avançado do linfoma não era possível esperar. Para se dedicar à recuperação, ele trancou o semestre do curso de direito. “Preferi pausar um pouco os estudos e não precisar me preocupar com provas e trabalhos”, explica. O universitário foi submetido a sessões de quimioterapia até janeiro do ano passado. Segundo ele, que está curado, apesar dos impedimentos e das dificuldades, a terapia foi tranquila. “A alimentação é mais restrita. Há coisas que não dá para fazer porque você está fraco. Mas eu consegui levar bem. Mantive contato com amigos, as saídas no fim de semana”, conta. O grande desafio mesmo foi enfrentar os pensamentos negativos. “O pior é o que está na cabeça, o medo. O tratamento, em si, não é o mais complicado.”
Segundo Zendron, as mudanças no modo de vida do jovem com câncer são um fator que pode trazer dificuldades. “Eles buscam certa independência, sair com os amigos, voltar mais tarde para casa. Ao receberem o diagnóstico, todo esse processo pode ser abalado. Haverá uma rotina de horários, necessidade de exames constantes, restrições desde mobilidade até de alimentação. Essa já é uma fase da vida em que a pessoa precisa de muita aprovação e, se está doente, como fazer isso?”
Para adultos
Apesar dos casos de sucesso, um estudo sobre a incidência de tumores e a mortalidade de jovens no Brasil realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) mostra que alguns tipos de câncer, como a leucemia e o câncer de mama, frequentemente apresentam sobrevida pior em adolescentes e adultos jovens em comparação com outras idades. Uma possível explicação para esse quadro, segundo o estudo, é que a maioria dos tratamentos a que adolescentes e jovens são submetidos é derivada de terapias pensadas originalmente para outras idades. “Hoje, acontece uma adaptação do tratamento usado em crianças e adultos”, afirma Sérgio Koifman, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
De acordo Sandro José Martins, o que ocorre é que alguns tipos de câncer acontecem de maneira precoce ou tardia nos jovens e, nesses casos, os médicos recorrem aos tratamentos usuais. “Existem jovens que são diagnosticados precocemente com tumores comuns em adultos e outros tardiamente com tumores pediátricos. Por isso, são usados os tratamentos habituais”, explica o oncologista do HUB. Koifman avalia que ainda são poucos os estudos relacionados ao câncer em jovens, e que a expansão dessa linha de pesquisa poderá auxiliar em futuros tratamentos. “É preciso ampliar pesquisas sobre os fatores de risco que ocorrem desde a gestação e pensar em tratamentos específicos para esse grupo de idade”, afirma.
O estudo da Fiocruz indica que o câncer de testículo é o que mais atinge jovens homens. Nas mulheres, tumores de tireoide, do colo de útero e doença de Hodgkin são os mais comuns. O câncer cerebral, no entanto, é a principal causa de mortes por tumor em ambos os sexos. Chefe do Centro de Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Sandro José Martins alerta que é preciso estar atento a alterações que possam aparecer no corpo e que sinalizem a existência do problema. “Qualquer alteração, como caroços, ínguas, que não suma depois de duas, três semanas deve ser analisada por um médico. É importante ter essa consciência e procurar o atendimento”, explica.
Após a terapia, novos conceitos
No best-seller A culpa é das estrelas, do escritor norte-americano John Green, Hazel Grace é uma adolescente de 16 anos que está com câncer. Durante o tratamento, ela conhece Augustus Waters, garoto de 17 anos também com a doença, em um grupo de apoio a jovens com câncer. Eles se apaixonam e, juntos, fazem do humor e do sarcasmo com os clichês que envolvem a enfermidade uma maneira de enfrentá-la e encontram, na experiência do tratamento, uma forma de autoconhecimento.
Os jovens relatam que o período de tratamento é um momento de aprendizado, de renovar ou afirmar conceitos que passarão a acompanhá-los após a cura. Vítima de um câncer nos testículos, o servidor público Sérgio Henrique Moreira, de 27 anos, acredita que passar pelo câncer deu a ele um novo modo de enxergar a vida. “Passei a ver a vida de um ângulo diferente, a entender que, sem apoio, sem saúde, você não vai a lugar algum”, diz.
Sérgio não esperava que as dores que sentia pudessem ser indicativos de um câncer, mas, depois de se consultar para tratar de dores na região lombar, em agosto de 2012, descobriu a doença. A notícia de que o tipo de tumor poderia ser curado o deixou menos preocupado. O servidor público precisou ser submetido a uma cirurgia e, posteriormente, a sessões de quimioterapia. Segundo ele, o tratamento, apesar de intenso, transcorreu de maneira tranquila. “Após a cirurgia, fiz quatro ciclos de sessões de quimioterapia. Era uma semana (de segunda a sexta) com sessões em todos dias e duas com uma sessão por semana”, lembra. “Eu reagi bem, tive algumas reações, como sentir enjoo e perder o cabelo, mas não tive tantas dificuldades.”
Durante o tratamento, o servidor público se afastou do trabalho, mas conta que tentou manter a rotina que tinha antes de descobrir a doença. “Você fica mais debilitado, fraco. Mas dá para continuar muitas atividades. Ia ao cinema, saía para almoçar, só evitava lugares muito aglomerados e, por isso, procurava os horários em houvesse menos gente.” As sessões de quimioterapia foram encerradas em dezembro. Sérgio conta que, após o câncer, retomou o estilo de vida. “Não tive nenhuma restrição. Voltei às minhas atividades normais. Às vezes, nem lembro que passei por isso”, afirma.
Segundo a psico-oncologista Marilia Zendron, o comportamento após a terapia é tão importante quanto a forma que a pessoa se comporta enquanto luta contra a doença. Há um risco de o jovem se acomodar com possíveis privilégios pelo fato de estar doente. “Existem ganhos secundários com a doença também. Certos mimos, privilégios. Cabe ao paciente, depois da cura, ver que o período terminou e que vale a pena seguir em frente e alcançar novos rumos.”