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Durante cerca de um ano, os pesquisadores acompanharam 927 corredores iniciantes saudáveis. Foram analisados 1.854 pés. Houve casos de voluntários com dois tipos de pronação — uma em cada membro. Cinquenta e três pés eram altamente supinados; 369, supinados — postura em que os membros fazem uma curvatura para fora —; 1.292, neutros; 122, pronados — quando a pisada faz uma rotação para dentro— ; e 18, altamente pronados. Todos os voluntários receberam o mesmo modelo de tênis de corrida, indicado para pisada neutra, e foram monitorados por um relógio com GPS para quantificar a distância percorrida em cada treino. De acordo com o artigo publicado no British Journal of Sports Medicine, em um ano, eles correram 326.803 quilômetros e 27% deles sofreram algum tipo de lesão.
Os resultados das análises de sobrevivência a lesões realizadas nos primeiros 50, 100, 250 e 500 quilômetros de cada corredor não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os tipos de pisadas quando comparadas às de pés neutros. No entanto, os pés pronados apresentaram um número significativamente menor de lesões nos primeiros 1.000 quilômetros de corrida que os neutros. O dado contraria o mito de que corredores com alterações posturais sofreriam um maior risco de lesões e, por esse motivo, necessitariam de um calçado especial.
Palavra de especialista
Exagero mercadológico
“Existe uma hiperindicação até mercadológica de uma questão que nem tem suporte na literatura científica. Isso porque a maioria das pessoas tem ‘deformidades’ discretas e muitas delas não necessitam de um tipo de tênis especial, o tênis neutro é o suficiente. Elas não precisam de um calçado pronador ou supinador porque não são desvios significativos. Quando esse desvio existe, é preciso precisa fazer uma avaliação com o médico antes para ver se há mesmo a necessidade de um tênis especial. Nesse caso, quando o desvio é significativo, ele pode alterar a biomecânica de todo o membro inferior da corrida. Porém, tem muita gente que tem um pé mais alto e outro mais baixo, mas que são variações normais. Os pés não são totalmente iguais. Eu acredito que existe um exagero mercadológico nessa questão, veio para ajudar, mas está sendo exageradamente indicado.”
Ivan Pacheco, especialista em medicina do esporte e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte