O estudo do psicólogo norte-americano Alfred A. Barrios, intitulado ‘Hypnotherapy: A Reappraisal’ e publicado em 1970 na American Health Magazine é muito usado pelos hipnoterapeutas para comprovar a eficácia da técnica. A pesquisa faz uma comparação entre a psicanálise, a terapia comportamental e a hipnose. Os números obtidos por Barrios são de que os pacientes da psicanálise precisam de 600 sessões, distribuídas em 11 anos e meio, para alcançar 38% de resultados satisfatório. No caso da terapia, são 22 sessões, em 6 meses e 72% de resultado. Já na hipnose, são apenas 6 sessões, em 1 mês e meio, para conseguir 93% de satisfação (leia o artigo aqui).
Indicações e como funciona
O próprio parecer do CFM enumera uma gama imensa de problemas que a hipnose pode tratar, como as fobias, depressão, distúrbios alimentares, disfunções sexuais, distúrbios do sono e da personalidade, uso de drogas, preparo para exames invasivos e também na abordagem de patologias diversas, desde que em conjunto com as variadas especialidades médicas.
O princípio básico da hipnoterapia é a pessoa querer. Parece óbvio, mas no caso de crianças e adolescentes, alguns pais procuram ajuda dos especialistas sem que os filhos estejam de acordo com o tratamento ou acreditem que tenham algum problema. Alcino Lagares atende crianças a partir dos 8 anos e adolescentes apenas com autorização dos pais.
A primeira consulta tem duração aproximada de uma hora e meia e é uma entrevista - ou anamnese, para usar o termo dos profissionais de saúde. É o momento que o hipnoterapeuta tem para entender a pessoa, conhecer sua história, as datas importantes e compreender a queixa principal. A segunda seção é chamada de hipnoanálise e serve para elaborar um cronograma existencial do paciente. Geralmente, só o hipnoterapeuta fala para relembrar com a pessoa os fatos importantes da vida dela e encontrar as ab-reações. Ou seja, notar em que momentos a pessoa sorri ou chora, quando muda a respiração, como é movimento dos olhos sob as pálbebras. São essas respostas que vão ajudar o especialista a compor as sugestões que fará ao paciente durante o transe.
A partir daí, começa o tratamento em si. “Na minha trajetória eu tive 100% de resultado e só cobro até a décima seção”, afirma Alcino Lagares que ministra o curso de hipnose para grupos de no máximo 6 pessoas. A exigência é formação superior na área de saúde física e mental, ser professor ou filósofo. “Não ensino técnicas de hipnose para todo mundo. Para curioso não”, reforça. O curso possui 20 horas técnicas.
O transe
O que gera a insegurança e o receio em procurar uma hipnoterapia como opção de tratamento muitas vezes é o medo de não se lembrar do que aconteceu na seção. A sensação é resultado justamente do hipnotismo de palco. O exemplo clássico é aquele da pessoa que come cebola achando que é maçã. “O objetivo é divertir uma plateia sem a preocupação com a auto-estima ou das consequências da brincadeira”, esclarece Alcino. O presidente do Instituto Mineiro de Hipnose explica que esse hipnotista faz um teste de sensibilidade para descobrir quem, entre os que compõem o público, é um suscetível universal, aquele que entra em transe com facilidade. Essas pessoas representariam 25% da população mundial. “Esse número não é comprovado”, alerta Alcino.
“O transe profundo não tem nenhuma utilidade para um consultório”, esclarece Alcino. Na hipnoterapia, o paciente não entra nesse transe profundo ou sonambúlico - fenômeno que acontece quando a maior área do córtex cerebral é inibida. O que se busca é um transe leve ou médio, em que a pessoa fica consciente o tempo todo.
É durante o transe que o hipnoterapeuta faz as sugestões aos pacientes, de acordo com a história e a rotina de cada um. No caso de Marinei, a estratégia usada para que ela parasse de fumar era substituir o cigarro por um copo de água. “A sugestão que ele fez pra mim, não serviria para outra pessoa. Eu não tive nem dificuldade para controlar o peso porque a água realmente resolvia o problema”, diz ela. A cabo da PM e farmacêutica gostou tanto da experiência que pretende fazer o curso de hipnoterapia após concluir o de acupuntura.
Ao final de cada seção o profissional também passa exercícios mentais para que a pessoa repita em voz alta algumas vezes ao dia. “É importante o que você diz para o seu cérebro”, pontua Alcino.
Os pacientes de Alcino são obrigados a assinar um termo em que se comprometem a não interromper nenhum tratamento médico ou psicológico.
A hipnoterapia de vidas passadas, por estar fundamentada em uma crença religiosa - no caso o espiritismo – não é adotada por todos os hipnoterapeutas.
Sem consenso: hipnose x anestesia
Uma das indicações da hipnose – no caso o transe profundo ou sonambúlico – é em substituição à anestesia. Alcino Lagares diz que, nessas situações, o próprio cirurgião é hipnólogo. No entanto, essa abordagem é um ponto mais polêmico. Apesar de o hipnoterapeuta citar os exemplos de tribos indígenas que atravessam pedaços de madeira na bochecha quando em transe e sem sentir dor, a medicina explica que o espectro de ação da hipnose é pequeno nesses casos e não existem exemplos no Brasil.
O anestesista e membro do CFM por Minas Gerais, Alexandre de Menezes Rodrigues explica que a anestesia tem cinco etapas: amnésia, hipnose, bloqueio endócrino, bloqueio neuro-muscular e coma. “Do ponto de vista anestésico e de acordo com o procedimento, posso passar por essas situações e a hipnose é parte dos estágios. Ela pode ser usada? Sim. Existe a possibilidade de substituir a anestesia? Não”, afirma o médico.
Alexandre de Menezes cita os casos em que o paciente anestesiado não pode se mexer para ilustrar a limitação da técnica. A hipnose, segundo ele, é uma parte do arsenal anestésico. Dessa forma, sendo a hipnose a segunda etapa, como colocá-la no lugar do procedimento? É importante dizer, entretanto, que nem toda anestesia passa pelas cinco etapas. Por isso, poderia-se pensar na hipnose como alternativa à anestesia no caso de mulheres que querem o parto natural ou na odontologia. “Ela pode ser usada em procedimentos que não necessitam das demais fases”, afirma.
O especialista diz que já existem notícias da utilização da hipnose para anestesias em outros países. “Geralmente são usadas para pacientes que têm medo”, diz. Alexandre fala que é mito o fato de que algumas pessoas não podem ser anestesiadas porque têm alergia. “A alergia é a determinados tipos de anestésicos, mas existem vários”, esclarece.
O hipnoterapeuta Alcino Lagares lembra, com certa insistência, que a seção pode ser interrompida a qualquer momento com o abrir dos olhos. Ele também se movimenta e faz barulhos. Tudo isso favorece a sensação de conforto e minimiza o medo de “entregar a mente” a uma outra pessoa. Essa falta de consciência não existe dentro da hipnoterapia, mas o receio é real. Qual o limite do transe médio para o profundo ou sonambúlico? Em que intervalo de tempo acontece?
Só o hipnoterapeuta fala. Quando ele me pede para relaxar o braço esquerdo e movimentá-lo de cima para baixo, de cima para baixo, de cima para baixo , eu realmente fico sem saber se eu teria a capacidade de parar o movimento por minha própria vontade. Não tento, por que queria viver a experiência a fundo para que fizesse sentido ela ser compartilhada.
Apesar de ele não ter quase nenhuma informação sobre a minha vida, não se furtou em fazer sugestões, o que facilitou o entendimento da lógica da terapia. Ele repete muitas vezes o que devo fazer quando me vir em uma determinada situação e, apesar de termos nos encontrado apenas duas vezes, soa positivo e nada invasivo. São coisas simples de se fazer na teoria, mas que alteram o modo de enxergar determinadas situações ou que propõe uma mudança de hábito. Nada impossível de se adotar, mas não necessariamente fácil. É importante ressaltar que a experiência não teve a complexidade do tratamento e o objetivo era aliviar a ansiedade e gerar tranquilidade para tocar o dia. A seção encerrou-se às 12h.