Durante um experimento-padrão sobre o funcionamento de genes, um grupo de cientistas japoneses descobriu, por acidente, um indício que promete ser de grande importância para o tratamento da infertilidade. Ao serem destruídos, dois microRNAs comprometeram a capacidade de reprodução de ratos. O trabalho, publicado na última edição da revista Science, precisa ainda ser testado em humanos, mas é considerado pelos pesquisadores um grande passo para estudos que busquem novos tratamentos para a esterilidade, principalmente de mulheres.
A pesquisa foi liderada por Masaru Obake, professor do Centro de Genética e Análises Biológicas da Universidade de Osaka, no Japão. Ratos machos e fêmeas tiveram dois microRNAs, o miR-200b e miR-429, bloqueados com a ajuda de uma proteína que impede a ação dos genes, a ZEB 1. Já se sabia que os dois microRNAs estão relacionados com a invasão de tumores cancerígenos, metástases e a resistência ao tratamento contra o câncer. Os cientistas notaram que, quando anularam o miR-200b e o miR- 429, os machos não tiveram alteração reprodutiva, mas as fêmeas passaram a procriar menos. “Aproximadamente 30% das mulheres que sofrem por infertilidade têm problemas na ovulação. Acreditamos que essas pessoas possam ter problemas nos microRNAs, apesar de ainda não estar totalmente claro se a ausência desses genes seria o principal problema para o comprometimento da ovulação”, analisa o pesquisador.
Os cientistas têm esperanças de que a descoberta feita em ratos possa beneficiar tratamentos em humanos devido a semelhanças entre o processo de reprodução das duas espécies. “As sequências de DNA de humanos e dos ratinhos já são conhecidas e muitos genes são comuns. A partir da comparação genética, é altamente provável que o mecanismo encontrado na nossa pesquisa seja aplicável em humanos”, defende Obake.
O professor também destaca que a descoberta não proporciona um tratamento imediato, mas pode ajudar a descobrir os problemas relacionados à fertilidade. “A falta de ovulação poderia ser tratada pela administração de hormônios responsáveis por esse processo. O significado de nossa descoberta é que os microRNAs foram recentemente envolvidos em um mecanismo de ovulação minuciosamente investigado. Isso proporcionaria a compreensão do conhecimento básico desse processo e auxiliaria tratamentos futuros”, destaca.
Falta aprofundar
De acordo com Maurício Abraão, ginecologista e presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), a descoberta feita pela equipe de Obake é importante, porém, precisa ser aprofundada. “Estudos complementares necessitam ser executados, aliando essas conclusões a outras abordagens metodológicas para um melhor entendimento da fisiologia da reprodução humana. Diferentemente do que se observa no câncer, poucos estudos na literatura científica foram publicados dentro do contexto do papel de microRNAs na regulação dos mecanismos envolvidos no processo da reprodução humana”, destaca.
O ginecologista Rosiris Pereira de Andrade, chefe do Serviço de Reprodução Humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acrescenta que outros fatores relevantes também interferem na capacidade reprodutiva do homem. “Hoje, um dos maiores problemas para quem quer engravidar é o tempo. Quando isso acontece e a pessoa está com a idade mais avançada, ela tem mais chances de sofrer aborto. A tendência é que surjam tratamentos que mudem isso. Acredito que o futuro seja esse, que as mulheres tenham filhos mais velhas.”
David Schlesinger, geneticista do Hospital Albert Einstein, acredita que a pesquisa feita pelos cientistas japoneses é uma maneira válida de mostrar o funcionamento de uma rede complexa dentro do sistema humano. “Os microRNAs miR-200b e o miR-429 agiriam como interruptores para a ovulação, quando você os desliga, todo o processo pode ser comprometido”, explica. Para Schlesinger, a possibilidade de criar tratamentos baseados em pesquisas genéticas, como a prevista por Obake, ainda está distante do uso clínico. “É possível, mas leva tempo. Primeiro, temos que entender como o mecanismo funciona para que, assim, possamos ter uma aplicação direta. Devemos continuar com essas buscas, mas sabendo que temos muito trabalho pela frente”, pondera.
A pesquisa foi liderada por Masaru Obake, professor do Centro de Genética e Análises Biológicas da Universidade de Osaka, no Japão. Ratos machos e fêmeas tiveram dois microRNAs, o miR-200b e miR-429, bloqueados com a ajuda de uma proteína que impede a ação dos genes, a ZEB 1. Já se sabia que os dois microRNAs estão relacionados com a invasão de tumores cancerígenos, metástases e a resistência ao tratamento contra o câncer. Os cientistas notaram que, quando anularam o miR-200b e o miR- 429, os machos não tiveram alteração reprodutiva, mas as fêmeas passaram a procriar menos. “Aproximadamente 30% das mulheres que sofrem por infertilidade têm problemas na ovulação. Acreditamos que essas pessoas possam ter problemas nos microRNAs, apesar de ainda não estar totalmente claro se a ausência desses genes seria o principal problema para o comprometimento da ovulação”, analisa o pesquisador.
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Falta aprofundar
De acordo com Maurício Abraão, ginecologista e presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), a descoberta feita pela equipe de Obake é importante, porém, precisa ser aprofundada. “Estudos complementares necessitam ser executados, aliando essas conclusões a outras abordagens metodológicas para um melhor entendimento da fisiologia da reprodução humana. Diferentemente do que se observa no câncer, poucos estudos na literatura científica foram publicados dentro do contexto do papel de microRNAs na regulação dos mecanismos envolvidos no processo da reprodução humana”, destaca.
O ginecologista Rosiris Pereira de Andrade, chefe do Serviço de Reprodução Humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acrescenta que outros fatores relevantes também interferem na capacidade reprodutiva do homem. “Hoje, um dos maiores problemas para quem quer engravidar é o tempo. Quando isso acontece e a pessoa está com a idade mais avançada, ela tem mais chances de sofrer aborto. A tendência é que surjam tratamentos que mudem isso. Acredito que o futuro seja esse, que as mulheres tenham filhos mais velhas.”
David Schlesinger, geneticista do Hospital Albert Einstein, acredita que a pesquisa feita pelos cientistas japoneses é uma maneira válida de mostrar o funcionamento de uma rede complexa dentro do sistema humano. “Os microRNAs miR-200b e o miR-429 agiriam como interruptores para a ovulação, quando você os desliga, todo o processo pode ser comprometido”, explica. Para Schlesinger, a possibilidade de criar tratamentos baseados em pesquisas genéticas, como a prevista por Obake, ainda está distante do uso clínico. “É possível, mas leva tempo. Primeiro, temos que entender como o mecanismo funciona para que, assim, possamos ter uma aplicação direta. Devemos continuar com essas buscas, mas sabendo que temos muito trabalho pela frente”, pondera.