Ex-bailarina clássica, Cristina começou a trabalhar as expressões corporais no fim da década 80. Despertou para o tema depois que o grupo de dança do qual fazia parte passou por uma série de experiências de trabalho com o preparador corporal Klaus Vianna, falecido em 1992. A partir daí, as pesquisas foram intensas, assim como o trabalho criativo para desenvolvimento de técnicas próprias. Sem formação acadêmica na área, ela partiu da prática e dos resultados que veio experimentando ao longo das últimas duas décadas para aperfeiçoar a metodologia.
Qualquer sessão, seja ela introdutória ou rotineira, começa com um escalda-pé. A água quente aromatizada com ervas colhidas na horta da casa – como a mirra –, confortam do frio que faz no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, onde Cristina recebe os alunos. O processo é acompanhado por uma efusão que mistura capim-limão e alfavaca ou outras tantas opções que estão à mão. Os primeiros minutos são quase terapêuticos. É ali, entre uma xícara e outra de chá, que se fala sobre a rotina, acontecimentos dos últimos dias, frustrações, sonhos e anseios. São quase 30 minutos de conversa e relaxamento que começa nos pés e aos poucos toma conta do corpo até chegar na mente.
Passada a primeira etapa, é hora de ir para a sala com piso acolchoado, que mais se parece um tatame. Ali, são mais 60 minutos de encontro. Para quem acabou de começar, o primeiro exercício é simples. “Apenas caminhe”, orienta Cristina. Alguns poucos metros são suficientes para que a ex-bailarina clássica identifique as expressões corporais mais evidentes. Se um lado carrega mais o peso do corpo que o outro e se é a parte dianteira ou traseira do pé que se esforça mais ao longo do trajeto, tudo é observado.
EQUILÍBRIO
O processo de descobrimento da “roupa que nos envolve”, como Cristina gosta de identificar o corpo, começa nesses primeiros passos rumo ao espelho. “A intenção é provocar uma conscientização que leve a mudanças comportamentais. Se, por exemplo, a pessoa prioriza um lado do corpo, tem outro que está deixando para trás”, explica. Caso o lado mais sobrecarregado seja o direito, significa que se estão valorizando mais as questões externas do que as internas. “O meu tempo comigo, de me cuidar, está curto”, traduz.
Até questões patológicas, como dores nos joelhos ou nos calcanhares, podem ser amenizadas com a postura e a posição mais equilibrada dos membros. “Vamos trabalhar a plasticidade, a capacidade da pessoa de se alongar e cada dia se descobre que o corpo vai muito além do que imagina”, afirma Cristina. “Quando vejo meu corpo funcionando de forma harmônica, me dando satisfação e felicidade de habitar dentro dele com mais conforto, vou gostar mais dessa roupa e melhorar a minha autoestima”, acrescenta.
Sem contraindicações
Para abrir os olhos dos alunos para a própria fisiologia, Cristina Mendes usa bolinhas de tamanhos sortidos, bambolês, cordas, rolos, bambus, canos de PVC e uma série de outros materiais aliados nas práticas físicas, sem contar a dança e a música, que também são importantes ferramentas. O rolo grosso, por exemplo, é utilizado para alongar o tendão calcâneo e, dessa forma, ampliar os movimentos dos tornozelos e liberar o calcanhar para melhorar o amortecimento do peso.
O esforço físico do alongamento e molde dos músculos, ligações e tendões é acompanhado por momentos de silêncio, interiorização e meditação que não apenas relaxam, mas voltam o olhar para o interior, num verdadeiro equilíbrio entre a tensão do corpo e o aquietar da mente. Sem contraindicação, o elastecer é procurado por pessoas de várias idades.
Para a pediatra e homeopata Rosângela Macedo Moura, praticante do elastecer desde 2005, a atividade é uma forma de fazer terapia de maneira mais eficiente. “Acredito que, racionalmente, conseguimos nos boicotar, mas o corpo é uma linguagem que não conhecemos e que tem relação com nosso psiquê”, afirma. Para ela, o corpo fala, e as leituras que são feitas por Cristina ao longo das sessões têm relação direta com o emocional. “Com isso, vai-se clareando aquilo que é preciso trabalhar”, afirma.
Além da cabeça, Rosângela já percebeu resultados claros para o corpo. “Fui procurar esse trabalho postural depois que minha dentista observou que eu colocava muito peso na articulação mandibular. Comecei a fazer o trabalho religiosamente e esse problema sumiu”, garante. A cada 15 dias ela se dedica durante 90 minutos à terapia que a ajudou a chegar aos 60 anos com disposição e físico que nem de longe denunciam sua idade.