"Nós estamos perdendo essas drogas", declarou a médica Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Comitê de Imunização do Ministério da Saúde.
Richtmann destaca que basta pouco tempo para que se tenham relatos de resistência mesmo a antibióticos mais novos. "Eles [mecanismos de resistência] estão cada vez mais rápidos. Falo de questão de seis meses a um ano", informou. Ela explica que, com isso, os investimentos industriais estão mais voltados para doenças crônicas, como hipertensão. "Mesmo em relação a doenças infecciosas, desenvolver drogas contra hepatite ou fungos parece ser mais interessante, porque não tem o mesmo mecanismo de resistência da bactéria", avaliou.
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Essa característica faz com que algumas infecções comuns, como a urinária, exijam drogas mais potentes das que eram utilizadas anteriormente. "É uma infecção banal, principalmente entre mulheres, mas a gente está vendo que bactérias que eram sensíveis a antibióticos básicos já não dá mais para usar, tem um grau de ineficiência avançado", explicou Richtmann. Outro exemplo destacado pela médica são as infecções provocadas pelo pneumococo, como meningite e pneumonia. "A gente sempre tratou com penicilina e agora estamos vendo que têm tipos menos sensíveis".
Richtmann considerou que o primeiro passo para conter o avanço das superbactérias começa por ações simples. "Todos os hospitais tem que ter hoje comissão de controle de infecção hospitalar. Antes de pensar em incentivar a indústria, novos fármacos, porque isso tem um custo elevado, é mais factível começar com o que nós temos", avaliou.
Se por um lado aumentou o controle nos hospitais e o nível de exigência para compra de antibióticos, por outro a indústria farmacêutica mundial reduziu a pesquisa de novos medicamentos que seriam capazes de conter essas bactérias multirresistentes. "[Produzir antibióticos] não tem sido um bom negócio. Gasta-se, por exemplo, R$ 1 bilhão de dólares para pesquisar 10 mil novos compostos e chegar a um. Quando ele chega no mercado, a bactéria ficou resistente", explicou o médico Marcos Antonio Cyrillo, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia. Em 2008, por exemplo, nenhum novo antibiótico chegou ao mercado, informou o infectologista.
A resistência das bactérias ocorre porque elas, diferentemente de outras doenças, são microorganismos vivos capazes de transmitir o gene de resistência. "Se temos dez bactérias no corpo, por exemplo, e nove são sensíveis ao antibiótico e uma é resistente, você toma o remédio e uma ficou. De 20 em 20 minutos ela se multiplica e vai transmitindo gene de resistência às filhas", explicou Cyrillo. Por isso é fundamental que os pacientes fazem uso do remédio no período e na dosagem prescrita pelo médico.