

No embalo da entrevista, ela mostrou ainda as folhas da planta asiática que produz o tão famoso chá verde. Elas nada têm a ver com aquelas vendidas em muitos mercados e às quais muitas mulheres se renderam na esperança de ter um emagrecimento saudável. Por causa dessas e outras confusões que todos nós fazemos em relação às plantas, procuramos especialistas para esclarecer a linha tênue entre o remédio e veneno da natureza. O que é mito e o que é cientificamente comprovado? A surpresa é que pouco se sabe quais são os efeitos colaterais de muitas plantas que estão por aí, sendo receitadas como a salvação natural para muitos males.
O certo é que muitos acham que, por se tratar de algo natural, não há substâncias químicas. É aí que esse ledo engano se torna risco real para a saúde de quem consome. Outro gatilho para que as ervas se tornem vilãs é a dose. Por mais incrível que pareça, ainda não sabemos fazer o preparo correto de um bom chá – essa bebida milenar para a humanidade. Se você é daqueles que tomam litros e litros por dia, armazena na geladeira e ainda mistura uma planta com outra, é bom parar e ler o que os especialistas têm a dizer: o seu chá pode não estar sendo tão benéfico e se tornando um vilão para o organismo. “Nem sempre os chás das plantas medicinais são tão bonzinhos como a crença popular diz que são”, apimenta a discussão o chefe do serviço de hepatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná.
Ele é coordenador do inquérito nacional de toxicidade por drogas, feito pela Sociedade Brasileira de Hepatologia. Segundo Raymundo, a intenção do estudo é descobrir em nove centros de transplantes no país o número de casos de transplante de fígado motivados por toxidade. “Começamos essa análise no início deste ano e os dados preliminares nos assustam: a toxidade foi maior para os produtos naturais do que do alopáticos”, revela. Ele destaca que muitos não sabem a dose, a planta e, muito menos, como preparar corretamente um chá de plantas.
Use com moderação
Especialistas recomendam cautela no consumo de chás. Apesar de preparados com plantas, muitos têm componentes químicos
Depois da refeição, no fim da tarde ou antes de dormir. Para relaxar, acabar com a insônia, regular a pressão, melhorar o colesterol, o desempenho sexual ou até para emagrecer. Quem nunca se rendeu ao sabor e à quentura de um bom chá feito com plantas? Por variados motivos, muitas pessoas procuram respostas da natureza para curar os mais diversos males. E a procura aumenta mais nesta época do ano, quando as gripes e resfriados batem à porta. No entanto, especialistas advertem que é preciso cautela no uso de produtos que, por mais que sejam naturais, têm componentes químicos que merecem atenção. Sem menosprezar a sabedoria popular, profissionais de fitoterapia e de nutrição acreditam que antigos conhecimentos estão sendo desvirtuados e poucos são os efeitos colaterais conhecidos pela ciência.

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CONTRAINDICAÇÕES
A professora assegura que chás de camomila, capim-cidreira e melissa podem ser tomados sem contraindicações. “As plantas aromáticas exigem um preparo de infusão, que consiste em jogar água fervente sobre a parte da planta a ser usada e, em seguida, tampar o recipiente que as contém. Enquanto esfria, a água vai extraindo da planta seus princípios ativos”, explica. Assim, para hortelã, por exemplo, ela diz que o processo é esse. “Mas toda bebida tem que ser feita na hora em que vai ser consumida”, indica. Geralmente, com aquelas que não têm aroma, o processo para o chá é de decocção, em que se ferve a parte da planta a ser consumida junto com a água por até cinco minutos.

“Por isso, é importante identificar e conhecer as diferentes espécies, já que cada uma delas deve ser preparada de acordo com sua química e seus princípios ativos. O uso também deve ser feito com cuidado. Por serem naturais, é comum a ideia de que as plantas medicinais não fazem mal e de que, por isso, podem ser usadas sem moderação. Elas são remédios e agem quimicamente no corpo”, avisa Maria.
Um dos órgãos mais afetados pelo excesso, abuso e uso errado das plantas medicinais é o fígado. Segundo o chefe do serviço de hepatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná, muitos são os casos de toxidade na parte do corpo devida a ingestão de produtos naturais. “Em Minas Gerais, por exemplo, um chá muito tomado é de poejo, para gases. Mas o excesso da planta pode causar uma hepatite tóxica. O boldo por exemplo, é um ótimo chá, mas se tomado juntamente com medicamentos anticoagulantes pode induzir sangramentos”, avisa.
Quem é quem?
Veja as plantas de uso mais tradicionais e seus riscos e benefícios
- Confrei
Indicação terapêutica: cicatrizante
Restrição de uso: usar por, no máximo, quatro ou seis semanas por ano. Não usar em lesões abertas
- Capim-Santo (capim-cidreira, capim-limão)
Indicações terapêuticas confirmadas: sedativo (calmante), antiespasmótico (contra cólicas)
Advertências: pode potencializar o efeito de medicamentos sedativos
- Carqueja ou carqueja-amarga
Ação terapêutica confirmada: dispepsias (indigestão)
Advertências: não pode ser usado em gestantes e lactantes. O uso pode causar hipotensão.
Evitar o uso concomitante com medicamentos para hipertensão e diabetes
- Chapéu-de-couro
Advertências: não deve ser usado por pessoas com insuficiências renal ou cardíaca. Não usar em caso de tratamento com anti-hipertensivos
Indicações terapêuticas: diurético e anti-inflamatório