Na Idade Média, a lepra era uma doença muito comum: estima-se que em algumas regiões uma em cada 30 pessoas estava infectada. Mas repentinamente, na passagem do século XV a XVI, a lepra diminuiu na maior parte do continente.
Para saber porque, uma equipe de biólogos e arqueólogos conseguiu reconstituir quase por completo a partir de ossos humanos coletados de sepulturas medievais, o genoma de cinco cepas da bactéria 'Mycobacterium leprae', causadora da lepra. Os cientistas demonstraram que as cepas antigas e modernas da lepra eram idênticas.
"A explicação da diminuição da lepra não se encontra em um agente patogênico, mas em seu hospedeiro, isto é, nas populações europeias", explicou Stewart Cole, da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), co-autor principal desta pesquisa publicada na edição desta sexta-feira da revista Science.
Vários indícios levam a crer que, na verdade, as pessoas desenvolveram resistência ao patógeno.
Segundo estes cientistas, na Idade Média existiam todas as condições para que ocorresse um intenso processo de seleção natural.
"A lepra era, na época, tão disseminada quanto contagiosa. Os doentes eram forçados ao isolamento social e às vezes, a procriar menos", disse Cole.
Por outro lado, outros estudos identificaram causas genéticas que tornam a maioria dos europeus mais resistentes atualmente à lepra que o restante da população mundial, destacou.
Estes cientistas também encontraram na Suécia e no Reino Unido uma cepa medieval quase idêntica à entrada atualmente no Oriente Médio.
"Não temos dados para saber em que direção a epidemia se propagou. As cruzadas poderiam ter levado este patógeno para a Palestina ou vice-versa", estimaram.
Os métodos de sequenciamento desenhados para esta pesquisa poderiam ajudar a descobrir vários patógenos combinados com outros DNA, lançando nova luz sobre como as epidemias se propagam.
Esta pesquisa também deve contribuir a compreender melhor como e porque a lepra apareceu, uma doença que afeta mais de 200.000 pessoas ao ano em todo o mundo.