Um relógio que não mostra as horas, mas pode salvar vidas. Assim pode ser definido o aparelho de pulso desenvolvido pelo médico israelense Leon Eisen. Criado especialmente para pacientes com problemas cardíacos, o equipamento deixa de lado a medição do tempo para monitorar os batimentos do coração e o nível de oxigênio no sangue do usuário. Caso haja alguma alteração preocupante, um pedido de socorro é enviado automaticamente, por meio de um aplicativo de celular, para o médico ou o hospital mais próximo, permitindo um atendimento mais rápido, o que pode reduzir as mortes por infarto.
Eisen conta que teve a ideia de criar o dispositivo, batizado de Oxitone, quando ainda era estudante e assistiu a uma morte súbita causada por falta de atendimento imediato. O triste episódio mostrou a necessidade de uma ferramenta que agilizasse o processo de socorro. “No hospital, há uma maneira para monitorar continuamente vários parâmetros, simultaneamente. Mas não existe uma solução a longo prazo, móvel e confortável, para o lar.”
O protótipo desenvolvido pelo israelense assemelha-se a um relógio de pulso, mas contém sensores capazes de captar com precisão satisfatória o batimento cardíaco e diferentes parâmetros sanguíneos, que são exibidos constantemente na tela. “Desenvolvemos uma solução ótica única, que nunca foi explorada anteriormente, chamada sensor de fotopletismografia (exame que mede a variação de volume sanguíneo). Ela é projetada de uma forma que detecta a mesma quantidade de informações fisiológicas oferecidas pelas sondas convencionais (usadas no dedo, em UTIs)”, explica.
Na opinião de Eisen, a principal vantagem do invento é não ser invasivo nem limitar os movimentos do paciente, que só precisa mantê-lo preso ao pulso. “Nosso relógio resolve os problemas por poder ser conectado confortavelmente a qualquer hora, em qualquer lugar e para receber ajuda médica imediata em situações de emergência”, destaca o israelense.
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Depois de alguns testes, o aparelho deve passar agora por aprimoramentos antes de chegar ao mercado, o que deve ocorrer em cerca de um ano e meio. A expectativa de Eisen é que o custo do relógio cardíaco fique entre US$ 200 e US$ 600 (R$ 426 a R$ 1.278). O público-alvo serão pessoas com doenças pulmonares e cardíacas crônicas, que precisam de monitoramento constante. O criador busca empresas parceiras que possam auxiliar em seu desenvolvimento.
Outras opções
Problemas de coração são um problema global. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde, de 2008, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo entre as doenças não transmissíveis, provocando 17 milhões de óbitos/ano. Em seguida aparecem o câncer (7,6 milhões de mortes anuais), doenças respiratórias (4,2 milhões) e diabetes (1,3 milhão). Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registra uma média anual de 70 mil mortes por infarto. Grande parte dessas vidas é perdida por falta de socorro médico.
É essa realidade que faz com que especialistas busquem soluções de monitoramento como o Oxitone. Um deles, criado em 2011, é o AngelMed Guardian. Criado por norte-americanos, é um monitor do mesmo formato que o marcapasso, a ser implantado no coração e já testado com sucesso, inclusive no Brasil. O aparelho examina o órgão para detectar isquemias e batimentos irregulares, tudo em tempo real, 24 horas por dia. Diante de alterações, ele emite alertas vibratórios e, por meio de outros aparelhos, avisa o paciente sobre a necessidade de procurar um médico.
Para profissionais da saúde, o uso de aparelhos desse tipo pode ser benéfico para casos de emergência, mas servem como complemento para o tratamento. “As ferramentas são muito interessantes, mas precisamos destacar que pessoas que sofrem de problemas cardíacos precisam passar por acompanhamento médico frequente, indo ao consultório e fazendo uma série de exames rigorosos. Os aparelhos são importantes para alertar casos de emergência”, ressalta o cardiologista Rafael Munerato, que acrescenta: “Devemos tomar cuidado para que esses dispositivos não criem ansiedade no paciente, que pode ficar muito preocupado com as informações e, assim, ter sua saúde prejudicada”, complementa.