

Em relação aos casos de Angelina Jolie e Michael Douglas, o oncologista e mastologista Bruno Ferrari afirma que há um lado positivo nesse tipo de 'revelação': a prevenção. “As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas. Entretanto, quando veem que uma pessoa famosa, com todos os recursos à sua disposição, passou por uma doença grave, lembram que pode acontecer com qualquer um”, explica.
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Além de estar presente em mais de 90% dos casos de câncer do colo do útero, o HPV está associado a 75% dos casos de câncer de pênis, de acordo com pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) em parceira com o Instituto de Virologia da Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente, a vacina é licenciada no Brasil para homens e mulheres de 9 a 26 anos, com o objetivo de prevenir os quatro principais tipos de vírus: 6, 11, 16 e 18. O ideal é que a aplicação seja realizada antes do início da atividade sexual. Mas, ainda que tenha havido contato com o agente infeccioso, a vacinação pode proteger contra os outros três tipos.
Prevenção sim, desespero não. “A cada ano, são mais de 500 mil novos casos de câncer no Brasil, e a maioria pode ser prevenida primariamente – quando o paciente muda seus hábitos e nem chega a desenvolver a doença – ou secundariamente – com o diagnóstico precoce”, alerta o oncologista. “A maioria das pessoas que me procurou após o efeito Angelina Jolie não tinha nenhuma indicação de um procedimento específico, mas é importante visitar o médico regularmente. É muito mais simples e barato fazer a prevenção”, conclui Ferrari.
Modismo

A principal questão em relação a essas atitudes é que o comportamento das personalidades de TV e cinema tem sempre grande potencial para se tornar moda. E, se ela resolver realmente comer sua placenta, não estará só. January Jones, a Emma Frost do filme 'X-Men: Primeira Classe' e a Betty Draper da série 'Mad Men', revelou em março de 2012 que havia ingerido cápsulas feitas com sua placenta drenada, após dar à luz um menino. Na época ela declarou que o material era desidratado e “convertido em vitaminas” e que “nó somos os únicos mamíferos que não fazemos isso”. Para completar, ela disse: “recomendo isso a todas as mamães”.
Frederico Amedée Peret, diretor científico da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), é categórico em dizer que não existe nenhum estudo com respaldo científico adequado que comprove benefícios da ingestão da placenta entre humanos, seja para resolver problemas com a amamentação, depressão pós-parto ou ainda para ficar mais jovem, como deseja Kardashian, de 32 anos.
Há apenas um trabalho de 2003, mas de metodologia duvidosa – o estudo baseia-se no depoimento de 189 mulheres, que deram declarações subjetivas sobre a maneira como estava se sentindo após a ingestão. “Existem apenas estudos científicos realizados em animais. Portanto, não podemos recomendar a prática”, define Peret.
Também não há registros de que a prática ofereça riscos, desde que a origem da placenta seja a própria pessoa que vai ingeri-la. “Entretanto, a placenta, in natura, é capaz de transmitir uma série de doenças infecciosas, como as hepatites B e C e o HIV. Ainda que o feto não esteja contaminado, a placenta pode estar, porque ela está ali para proteger o bebê. Se outra pessoa ingerir esse material, pode adquirir uma doença grave”, lembra o diretor.

A opinião encontra respaldo em Mark Kristal, neurocientista americano que estuda a placentofagia há 20 anos. Ele afirma que a prática não tem fundamento e que muitas pessoas decidem adotá-la por acreditar que os outros mamíferos têm um bom motivo para fazer isso. E eles têm: evitar que os predadores carnívoros encontrem facilmente seus filhotes e os rastros deles. E, caso o animal tenha tido uma alimentação muito ruim durante a gestação, ele pode, sim, obter nutrientes a partir da placenta. “Mas, no caso humano, por tudo que já estudei até agora, não passa de modismo”, afirma, taxativo.
Indústria
Sob a alegação de que comer a placenta ajuda aliviar os sintomas da depressão pós-parto, auxilia na produção de leite e devolve nutrientes perdidos durante a gravidez, a psicóloga americana Jodi Selander começou um movimento (e uma lucrativa indústria) a favor da placentofagia em 2005, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Jodi criou um método de encapsulamento, em que o material é é desidratado e colocado em cápsulas de gel. “O próprio processo de encapsulamento pode eliminar as supostas propriedades da placenta”, lembra Frederico Peret.
Por meio do site placentabenefits.info, Jodi oferece um curso pago a qualquer pessoa (a única exigência é o pagamento da taxa de US$295) e forma uma rede de 'profissionais' encapsuladores. Além disso, o site vende cápsulas de placenta de ovelha, por US$25, mas o produto não tem certificação do U.S. Food and Drug Administration (FDA), órgão similar à Anvisa.
Em vários países do mundo, inclusive no Brasil, o incentivo à ingestão da placenta acontece no parto domiciliar, o que torna o processo mais simples e não envolve questões legais. “No casos das instituições de saúde, qualquer material biológico exige descarte e transporte apropriados, definidos pela legislação específica. Ainda que seja direito do paciente requisitar seu material biológico, todos os procedimentos deverão ser seguidos”, pondera o médico.
De acordo com Frederico Amedée Peret, para que isso se torne, algum dia, uma prática aceita entre a comunidade médica, ainda existe um longo caminho a percorrer dentro da ciência. Até lá, o que é comprovadamente bom e amplamente indicado é a alimentação saudável, o acompanhamento pré-natal, a realização de exames periódicos e o ambiente tranquilo para a gestação.