Saúde

Show Style sobe no salto e faz perder calorias ao som das divas pop

Ramificação da dança urbana, aula reúne movimentos de Beyoncé, Madonna e Shakira em coreografias vigorosas. O detalhe é que todos os alunos, homens ou mulheres, usam salto alto. Diversão, suor e endorfina em altas doses

Letícia Orlandi

Dançar em cima do salto é a proposta do Show Style para aprender a coreografia das divas pop, suar e se divertir

Prepara / Que agora / É a hora / Do show das poderosas
: a música da cantora Anitta, funkeira que agora se aproxima do pop nacional (veja o clipe no final desta matéria), resume vários elementos da aula de dança Show Style: ainda que seu gosto musical seja diferente, você vai encontrar diversão, exercício físico intenso, coreografia desafiadora e queda de conceitos pré-concebidos. Não necessariamente nesta ordem.


Show Style pode ser definido como uma aula de dança que ensina os movimentos das coreografias de divas pop, como Madonna, Beyoncé, Shakira e Rihanna; com o diferencial de que os alunos – sejam homens ou mulheres – usam salto alto o tempo todo.

Veja mais fotos da aula de Show Style!

O professor Túlio Cássio: androginia provoca tanto estranhamento quanto fascínio
O professor do Centro de Arte Savassi Túlio Cássio, um dos fundadores desse estilo de aula, explica que o Show reúne o Waacking - movimentos vigorosos e dinâmicos dos braços, exagerados e prolongados – e o Voguing – estilo que surgiu nos clubes GLS dos Estados Unidos nos anos 80 e se tornou ainda mais popular com a música Vogue, de Madonna. “Essas são ramificações das danças urbanas, que no Brasil ficaram mais conhecidas inicialmente como street dance ou dança de rua, mas incluem diversos tipos de dança social, como o Bus Stop, ou os passinhos de boate; e também o funk”, explica Túlio, professor e estudioso das danças urbanas há mais de sete anos.

Como a aula inclui traços de modelismo e andar de passarela (nota: a maioria dos professores de passarela são homens), Túlio procura passar para os alunos um pouco da história da moda e da influência do androginismo e das representações culturais gays. A união de feminino e masculino provoca, ao mesmo tempo, estranhamento e fascínio. “Eu até faço questão de manter a barba, para reforçar o contraste entre o uso do salto alto e a minha figura masculina”, brinca Túlio. E não se engane: durante a aula, se os movimentos estiverem muto delicados, ele vai te lembrar: “Gay também é homem, força nesse braço aí, menina!”

O professor recomenda que o aluno comece com um salto menor, mas logo todos querem partir para o saltão


Túlio define a aula como 'artesanal', porque ela é construída junto com os alunos, de acordo com o objetivo de cada um. “Aqui, você pode sair um bailarino profissional ou só desestressar da rotina”, explica. Com formação em dança contemporânea, jazz e balé clássico, o professor dá atenção especial à limpeza de movimentos e ao cuidado no uso do salto.

Os movimentos exagerados do waacking estão presentes durante toda a aula
Além de usar movimentos emprestados do balé e do Stiletto Dance – outra dança em cima do salto que prioriza os movimentos de 'corte' com os braços, daí o nome, a aula inclui um aquecimento com abdominais e flexões, o que facilita a vida de quem procura uma atividade para emagrecer. “Só que, além de trabalhar a parte física e a técnica, é fundamental 'dar pinta', fazer 'carão', jogar o cabelo e se divertir”, resume ele.

Outro diferencial do Show Style ensinado por Túlio é incluir, entre os sucessos internacionais – um dos mais pedidos pelos alunos é Single Ladies, de Beyoncé – músicas nacionais, como o hit de Anitta. “Outra surpresa que muitas mulheres têm é descobrir que antes elas não sabiam andar corretamente de salto alto”, revela Túlio. O professor recomenda que o sapato utilizado para aula seja aquele que 'você anda o dia inteiro sem machucar' e alerta para o cuidado com joelho e coluna. “Se houver alguma lesão preexistente, é necessária uma avaliação médica”, ressalva.

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Ana Célia (ao centro): fã de Beyoncé, Shakira e Madonna

A administradora Ana Célia Carvalho gosta de dançar e já fez aulas de forró. Só que ela é fã de Beyoncé, Shakira e Madonna e sempre tentava, em casa mesmo, repetir os movimentos das coreografias de shows e videoclipes das divas. “Cheguei até a ficar com dores nas pernas de tanto repetir uma sequência em casa e achava muito difícil. Fiquei inconformada, porque parece tão fácil! Até que uma amiga disse que existia essa aula em Belo Horizonte, vim correndo”, conta ela, aluna desde janeiro.

Hoje ela observa outras mulheres na rua e pensa: 'era assim que eu andava de salto?'. “Ganhei na correção da minha postura e também em autoestima. No ritmo de estudo e trabalho, você acaba ficando sem tempo para nada. Dançar com essas músicas agitadas e alegres é ótimo quando você está para baixo”, ensina Ana.

Se antes ela achava impossível aprender, hoje ela participa até das apresentações periódicas do Centro de Arte Savassi.

Robert: 'eu tinha preconceito com o uso de salto'

Já Robert Vauna procurou a turma também por motivos profissionais. Professor de jazz, ele teve primeiro um contato com o Stiletto – por meio da banda europeia Kazaky (veja o vídeo abaixo) - e fez alguns workshops. “Mas não foi suficiente, queria dar continuidade. O Show Style trabalha muito os braços, o tórax, melhora a postura, a coordenação motora e a flexibilidade, além de fortalecer e definir a panturrilha, por causa do salto alto. Eu mesmo tinha preconceito quanto ao uso do salto. Sou gay, mas não uso roupas femininas. Ganhei o sapato em uma sessão de fotos da qual participei e resolvi arriscar. É muito prazeroso”, define Robert.

'Muitas mulheres chegam aqui e descobrem que antes não sabiam andar de salto alto', explica o professor (ao centro)


Segundo Túlio, a dança não tem idade e nunca é tarde para começar. “Tenho, entre os alunos, mulheres na faixa dos 60 anos, mãe e filha, homens, mulheres jovens: todos têm os mesmos benefícios e ganham segurança, autoestima, condicionamento físico e tonificação muscular. Saem daqui se sentindo uma diva, realmente”, explica o professor. “O efeito colateral é a adrenalina pulsando no final. Uma das minhas alunas me contou que, quando sai da aula, precisa colocar uma música supertranquila no carro, para acalmar um pouco”, exemplifica.

Assista ao clipe de 'Love', da banda europeia Kazaky:




Até a parte do aquecimento, tudo bem. A coreografia me deixou um pouco perdida, mas no final já estava seguindo os passos
Influenciada pelo rock, punk e metal desde criancinha, não sou exatamente fã de música pop. Com exceção de Madonna e Michael Jackson, não tenho muita familiaridade com os vídeos e músicas desse estilo. Com as novas divas mundiais, então...

Mas eu me rendo (até porque a intenção nunca foi resistir). A aula de Show Style da qual participei foi mais demonstrativa e, portanto, mais frenética – segundo o professor, a aula regular vai um pouquinho mais devagar. Eu, que descobri minha dificuldade em seguir coreografias desde a primeira aula de aeróbica que tentei fazer, há muitos anos, fiquei um pouco perdida.

Por outro lado, provavelmente porque já tenho o hábito de andar de salto, o sapato não foi obstáculo. Achei até bem fácil aprender as técnicas de caminhada e também o exercício de “batalha”: um aluno fica de frente para o outro e passa por ele, dando uma paradinha bem rápida e fazendo bastante tipo, como numa espécie de desafio de 'poder'. Divertidíssimo.

Já na hora da dança em grupo, fiz muita coisa errada, enquanto os outros alunos – entre eles, algumas bailarinas do Grupo Corpo, que foram lá para conhecer – se mostraram bem mais afiados. Mas não deixei de me divertir. Aos trancos e barrancos, deu para acompanhar a ordem da coreografia.

Volta e meia, o professor pergunta: e o carão??? E aí você tem que fazer. Se, nos primeiros cinco minutos você até esquece, depois a diva encarna e só sai cabelo para um lado, cabelo para o outro, pinta de bad girl e por aí vai.

No final, surpresa com o rendimento da aula – sinto que gastei muitas calorias – e sorrisão colado no rosto. E, convenhamos, dançar de forma feminina, sensual e poderosa ao som de Iron Maiden é um pouco mais difícil, né?

Fazer 'carão' faz parte da aula de Show Style. De verdade. Se você não fizer, o professor chama a atenção. É proibido não se divertir.


Quer ir também?

O quê?
Show Style

Onde? Centro de Arte Savassi - Avenida do Contorno, 6399 - (31) 2531-0799 centroartesavassi.com

Preço? No plano semestral, duas vezes por semana, R$153/mês

Investimento em equipamentos? Se você não tiver um salto alto confortável e que não machuque seu pé, está na hora de adquiri-lo

Pré-requisitos: Disposição para encarar a vida e o espelho de forma mais alegre e altiva

Contraindicações: Apenas para quem tem lesões graves no joelho ou coluna, dependendo da avaliação médica

Dicas: Vá de peito aberto. Nem que tenha que se inspirar em alguém conhecido ou encarnar um personagem

Avaliação final: Show Style é uma boa combinação de prazer, dança e atividade física. Você esquece que está numa aula e se concentra apenas em acompanhar a coreografia, os movimentos e o ‘carão’.

Nesse espírito, a hora passa rápido e a endorfina sobe. No fim, a leveza do clima supera o cansaço.


A série Manual do Iniciante vai fazer um 'test drive' de atividades ligadas à saúde e ao bem-estar. Se você quiser sugerir um tema, mande uma mensagem para saudeplenauai@gmail.com

Assista ao videoclipe "Show das Poderosas", de Anitta: