Suplementos vitamínicos: usá-los ou não, eis a questão

Suplementação de minerais e nutrientes importantes para o funcionamento do organismo só deve ser usada quando, depois de exame de sangue, médico ou nutricionista constatar deficiência. Maioria é encontrada nos alimentos

por Sara Lira 29/05/2013 09:36

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Arte: EM / DA Press
(foto: Arte: EM / DA Press)

Está indisposto? Tome um complexo vitamínico. Quer abrir o apetite ou simplesmente garantir boa saúde? Use vitaminas. Quem nunca ouviu um desses conselhos e tantos outros relacionados às vitaminas sintéticas compradas em farmácias? Mas essas dicas não passam de mitos. Embora muita gente tenha o hábito de consumir os produtos, especialistas não recomendam seu uso para quem está com a saúde em dia. Na terceira reportagem da série sobre alimentação suplementar, o Estado de Minas mostra que lançar mão desses suplementos nutricionais em excesso pode ter efeito nulo ou, dependendo do caso, até ser prejudicial ao organismo.

Segundo o coordenador do Centro de Referência da Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edgar Nunes de Moraes, as vitaminas são sim essenciais para a vida e estão diluídas nos diversos alimentos que consumimos diariamente. Para isso, a pessoa deve ter uma alimentação equilibrada. A suplementação vitamínica só é indicada para quem tem alguma deficiência nutricional.

“Algumas pessoas apresentam deficiência de vitaminas porque não se alimentam bem ou porque o organismo não dá conta de absorver por causa de alguma doença ou dificuldade do corpo. Para essas pessoas receitamos os suplementos”, diz. A nutricionista da mesma instituição, Polyana Mota de Carvalho, concorda. “O benefício de qualquer suplementação só é comprovado quando a pessoa tem deficiência.”

De acordo com Moraes, ao ter uma alimentação equilibrada é “praticamente impossível” não conseguirmos todas as vitaminas de que precisamos. O médico diz que muitas pessoas saudáveis que usam vitaminas até afirmam sentir melhora, mas isso pode não passar de um efeito placebo. Segundo ele, uma das deficiências mais comuns é a de vitamina D, presente no leite e sintetizada pelo sol, e de grande importância para os ossos. “Na hora da pasteurização do leite ela é destruída, então muitos fabricantes têm que acrescentá-la novamente. O cálcio, que não é vitamina, mas um mineral muito importante para cabelos, unhas, dentes e para evitar doenças ósseas, como a osteoporose, geralmente é consumido de forma sintética”, acrescenta.

Sua ausência é notada em organismos de pessoas que consomem poucos lácteos, mas ele pode ser encontrado em outros alimentos, como o brócolis, o espinafre, o queijo de soja (tofu), a couve e a laranja. “A dose ideal de cálcio é de cerca de 500mg a 1g por dia, o que equivale entre duas e quatro xícaras de leite”, afirma Moraes. A deficiência de vitamina B-12 tem prevalência crescente na faixa etária de 25 a 60 anos, e acomete cerca de 10% da população acima de 65 anos. Mas estudos norte-americanos demonstram que pelos menos 1% da população de idosos desenvolve consequências graves da doença, como distúrbios neurológicos e psiquiátricos e anemia megaloblástica (do glóbulo vermelho que se encontra na medula óssea). A vitamina B-12 é absorvida pelo trato gastrointestinal a partir de alimentos como leite, carnes e ovos.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
A deficiência de vitamina B-12 tem prevalência crescente na faixa etária de 25 a 60 anos. Ela pode ser absorvida a partir de alimentos como leite, carnes e ovos (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Apesar de aparentemente só fazer bem, as vitaminas, assim como outras coisas consumidas em excesso, não fazem bem. “No caso da vitamina E, alguns estudos mostram que em doses excessivas ela pode estar associada ao aumento de câncer e da mortalidade, podendo até causar um acidente vascular cerebral”, diz Edgar Nunes. Mas ele frisa que isso só ocorre em megadoses e, principalmente, se associado ao uso de ácido acetil-salicílico e ginkgo biloba. Segundo o médico, a vitamina A em excesso em idosos pode causar osteoporose, pois ela atua inibindo a célula que leva à formação óssea e descalcifica o osso.

A vitamina D é um dos minerais que estão mais em baixa no organismo, atualmente, principalmente nos idosos. Porém, em excesso, ela atua no metabolismo do cálcio e aumenta a absorção instestinal do mineral, podendo causar hipercalcimia. “Mas isso ocorre em casos raros e em doses altas da vitamina D na forma medicamentosa”, pontua Edgar. As vitaminas A, D e E são lipossolúveis, sendo armazenadas no fígado e nos tecidos gordurosos. Se ingeridas em excesso, podem causar problemas. Já as vitaminas do complexo B são hidrossolúveis, ou seja, em excesso são expelidas do organismo pela urina. Segundo Polyana de Carvalho, ingerir complexos sem indicação pode, ainda, ter efeito nulo. “O que a gente tem na nutrição são várias combinações de vitaminas e de sais minerais. O cálcio, por exemplo, interage com o ferro prejudicando a absorção de ambos. Então, não serviria um polivitamínico para tratar deficiência de ferro porque esse complexo não tem as quantidades suficientes. Ou seja, a absorção pode ser prejudicada ou otimizada no polivitamínico”, diz Polyana.

Adepta da pílula
A publicitária Cecília Bragança, de 23 anos, toma todos os dias uma cápsula de um complexo vitamínico após o almoço. Ela não tem problemas de saúde, mas não consome frutas, legumes e verduras. “Nunca fui ensinada a comer esses alimentos, por isso acabei criando uma resistência”, reconhece. Ela malha há dois anos, mas há cerca de dois meses intensificou os treinos. Como há essa carência na sua alimentação, uma nutricionista indicou o uso do produto. As melhoras, segundo a publicitária, são superficiais. “Senti melhoras no cabelo e nas unhas, que eram muito frágeis. Meu cabelo caía demais e a unha quebrava muito. Isso melhorou”, afirma. Esta não é a primeira vez que Cecília usa um suplemento de vitaminas. Há cerca de quatro anos a jovem usou, mas acabou parando por conta própria. Ela afirma ter a consciência de que os sintéticos não são os mais indicados e garante que quer mudar os hábitos alimentares. “Quero fazer uma reeducação alimentar para aprender a comer frutas, verduras e legumes na minha rotina.”

Três perguntas para...

Marco Antônio De Tommaso
Psicoterapeuta e especialista em transtorno alimentar


O sujeito obcecado por comida natural é normal ou desenvolve um tipo de distúrbio?
A pessoa cuja vida gira em torno disso pode desenvolver ortorexia nervosa. É um indivíduo que para comer bem faz grandes sacrifícios, vai atrás de produtos orgânicos e o que é mais requintado. Abole uma série de nutrientes necessários em nome dessa ideia de ‘comer bem’. A ortorexia nervosa ainda não é um transtorno alimentar definido como tal, mas caminha para isso. A pessoa deixa de comer coisas saudáveis que não têm caráter saudável na concepção dela, da mesma forma que o anoréxico tem obsessão pela magreza.

Há sinais de que a pessoa está vivendo esse quadro?
O ortoréxico pode se locomover por grandes distâncias e até mesmo se endividar para comprar aquele alimento que acredita ser mais saudável, além de deixar de fazer coisas importantes para buscar um hábito alimentar melhor. Existe o caso de uma jovem que procurava um emprego. Conseguiu trabalho em uma grande empresa, mas recusou porque teria que almoçar no restaurante da firma, o que, para ela, seria abandonar os hábitos saudáveis que tinha.

E como é o tratamento para ortorexia nervosa?
Dificilmente o indivíduo com ortorexia nervosa vai admitir estar com a doença. Ele procura ajuda quando está com depressão, sem saber a causa de estar deprimido, e só assim vai descobrir o motivo. A observação de familiares e pessoas próximas, neste caso, é essencial. Se a família estiver atenta, começa a perceber a exigência que a pessoa passa a fazer em relação à comida, o tempo que gasta em cima disso ou vê que ela começa a não se interessar por uma salada convencional. Além disso, só fala em forma física, alimentação saudável, tudo de forma exacerbada. O tratamento é multidisciplinar e inclui orientação nutricional e auxílio terapêutico.