Fobia de dirigir pode ter vários fatores, mas acompanhamento especializado ajuda a vencer o medo

Se mesmo conquistando a habilidade necessária para ir para as ruas os sintomas persistirem, as avaliações psicológicas devem ser intensificadas

27/05/2013 15:00

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Euler Junior/EM/D.A Press
A psicóloga Elisângela Tobias diz que seu trabalho é fazer com que o cliente enfrente o medo, para superá-lo (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Vinte anos habilitada a dirigir e nenhum dia atrás do volante. Tentativas não faltaram, mas as mãos frias, o coração acelerado e até a dor de cabeça impediram a gerente administrativa Rosely Dias da Silva, de 43 anos, de sair com o carro da garagem e encarar o trânsito. “Depois que meu marido tirou carteira, passei a direção para ele. A partir daí, fui deixando de conduzir e me sentindo cada vez mais incapaz. Isso acabou desencadeando em mim um medo muito grande”, conta Rosely. Com a sensação de inferioridade diante do marido, ela não acreditava que estava apta a assumir o papel de motorista novamente.

Foram mais de duas décadas de incômodo frente a uma fobia que, para ela, não tinha explicação. Refletindo, percebeu que era hora de tirar esse peso dos ombros e encarar o medo. “Via as pessoas ao meu redor dirigindo, até idosos, e comecei a pensar que eu deveria fazer o mesmo”, lembra. Mas o pânico a impedia, inclusive, de sentar no banco do condutor. A alternativa foi buscar apoio psicológico. “Tinha terapia em grupo e foi muito importante porque ali descobri que, como eu, várias pessoas estão nessa situação.” O tratamento durou sete meses e hoje Rosely comemora a alta. “Agora vou para todo lado. Levo meu filho à escola. Ele, inclusive, me ajudou muito nesse processo. Elogiava, falava que eu dirigia melhor que o pai e não tinha receio de andar comigo”, conta animada.

Assim como Rosely, cada vez mais pessoas buscam encarar o medo da direção. As origens que levam ao desenvolvimento da fobia podem ser diversos. “Muitas vezes está atrelado a um perfil perfeccionista de ter que fazer tudo certo e não poder errar e até temor de o carro ‘morrer’ e de alguém buzinar ou xingar”, explica a psicóloga e coordenadora da Clínica Cecília Bellina, Elisângela Tobias Oliveira. O receio da crítica e da exposição faz com que muitos aposentem a carteira mais cedo. Até um trauma ou o desestímulo de alguém da família podem ser fatores de desistência.

É aí que começam as desculpas para evitar o carro. “Os casos mais comuns são de pessoas que estão há anos sem dirigir”, afirma a psicóloga da empresa Dirigindo Bem Cristina Marques Gontijo. Para voltar, muitos precisam de acompanhamento profissional, sem o qual sequer conseguem ligar o veículo. “Nosso tratamento consiste na terapia cognitiva e comportamental. Vamos levar o cliente para o enfrentamento do medo”, explica Elisângela. Todo o processo é feito de forma gradativa, sempre intercalando a prática na rua aos momentos de desabafo e conversa no consultório.

Marcos Vieira/EM/DA Press
Rosely Dias da Silva demorou mais de 20 anos para decidir encarar o pavor de dirigir e buscar apoio psicológico (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)
O primeiro passo é conhecer o perfil do cliente. “Fazemos uma entrevista psicológica para conhecer a história da pessoa com o carro. Depois vamos para o veículo”, conta Elisângela. Tudo respeitando o ritmo e limitações de cada um. “Começamos com exercícios mais simples como troca de marcha até evoluirmos para os mais difíceis, como balizas e manobras”, explica Cristina. São feitos os trajetos da casa para o trabalho e para os principais destinos do cliente, aumentando a familiaridade com a rotina.

NA CABEÇA
À medida que a prática é retomada, a confiança aumenta. “Normalmente, o conhecimento já resolve para muitos. Isso porque na autoescola o aluno aprende a passar no exame de direção e não a andar no trânsito da cidade”, observa Cristina. Com o avanço, os sintomas fisiológicos comuns entre aqueles que sentem medo (veja quadro) vão sendo controlados gradativamente. “Não significa que a pessoa não vá sentir mais nada, mas tudo ocorrerá de uma maneira mais controlada”, lembra Elisângela.

Se mesmo conquistando a habilidade necessária para ir para as ruas os sintomas persistirem, as avaliações psicológicas devem ser intensificadas. “Aí, vamos observar se não se trata de algo pessoal. Vamos trabalhar para que isso seja superado”, observa Cristina. O tempo de tratamento varia muito, mas Elisângela calcula que a média na Clínica Cecília Bellina é de oito meses de acompanhamento.

Sintomas da fobia:
Taquicardia, Sudorese, Boca seca, Tensão muscular, principalmente nos ombros e pernas e tremor

Primeiros passos rumo à superação
» Para quem abandonou a carteira de motorista há anos, é preciso voltar a entrar em contato com o veículo. Sente no banco do passageiro, ligue o motor e comece a se familiarizar novamente com o carro
» Aos poucos, tire o veículo da garagem e tente dar algumas voltas no quarteirão
» Busque horários tranquilos e de menos movimento e passe a dirigir no bairro até que volte a ter confiança para fazer trajetos mais longos
» Se o processo não avançar, o ideal é procurar ajuda de um psicólogo

Dicas que podem ajudar
» Tente sair de casa sozinho. O passageiro do lado muitas vezes pode tirar a concentração do motorista ou fazer críticas e comentários capazes de desestabilizá-lo
» Se tiver condições, procure ter o próprio carro. Dessa forma, o medo de bater, riscar ou de acontecer qualquer imprevisto com o veículo alheio é eliminado

Fonte: psicólogos