Eles trabalharam a vida toda. Muitos começaram ainda novos, até adolescentes, e se acostumaram com uma rotina corrida, carregando a necessidade de se destacar profissionalmente, conseguir sustentar a família ou realizar sonhos. Muitas vezes passaram por momentos desgastantes nessa trajetória no mercado de trabalho, chegaram a pensar em desistir, mas prosseguiram. Depois de tanta experiência, é chegada a hora que para muitos é um alívio, mas para outros representa uma angústia: a aposentadoria. Acostumados com a correria do dia a dia e se vendo sem aquilo que fez parte de suas vidas por anos, muitos se perguntam: “O que vou fazer a partir de agora”?
Foi isso que a bibliotecária Sônia Maria Penido de Freitas, de 67 anos, enfrentou em 1998, quando chegou a hora de se aposentar. Relutante em parar de trabalhar, ela continuou na empresa por mais 15 anos e em fevereiro percebeu que já era hora de descansar. “Quando me aposentei eu era muito nova, tinha 52 anos. Então, por que iria parar se lá na escola eles precisavam do meu trabalho? E continuei, pois estava bem de saúde, gostava muito do que fazia. Mas agora estava me sentindo cansada e percebi que aí, sim, era hora de parar”, diz.
Mas o tempo, agora mais amplo, passou a ser ocupado por uma das suas paixões: a leitura. Sônia afirma que tem lido pelo menos um livro por mês e atualmente lê o clássico Grande sertão: veredas, do escritor João Guimarães Rosa. “Sou apaixonada pelo trabalho dele e esse, que é considerado o mais importante de sua carreira, eu ainda não havia lido. Estou adorando”, conta.
O compromisso com um emprego formal Sônia não tem mais, mas agora ela pode desempenhar muitas outras atividades, como pilates, caminhada e ir mais ao cinema. Além disso, ela normatiza trabalhos acadêmicos, entre outras atividades relacionadas à sua antiga profissão. “Formato trabalhos acadêmicos, faço busca de artigos científicos por assunto, atualizo currículo lates. Isso é para eu não ficar totalmente parada e ter uma melhoria na renda. Mas faço o meu horário. Quando estou apertada dou um tempo, pois monto um esquema para cuidar de mim”, diz.
Para Sônia, antes de se aposentar a pessoa deve se planejar para esse momento, pensando em outras atividades para começar a desempenhar e não ficar no ócio. “A pessoa tem que se preparar para isso. Pois antes de parar totalmente eu tinha me planejado. Ela deve ver o que pode fazer depois, mesmo que seja algo diferente do que ela tem costume, como fazer flores, bombons ou outra coisa com a qual se identifique”, pontua.
Para a psicóloga especialista em gerontologia e professora da PUC Minas Ana Cristina Pegoraro de Freitas, todo ser humano é passível de se ajustar a novos hábitos, ou seja, a aposentadoria não significa um ponto final, mas sim uma nova fase em que a pessoa poderá realizar outros objetivos. “As pessoas podem se adaptar às mudanças, continuando ativas dentro do que é possível. Ao mesmo tempo que existem perdas, existem ganhos e isso faz com que a gente acredite que as pessoas possam continuar a viver com qualidade, mesmo depois de terem se aposentado”, explica.
Atividades prazerosas
Especialistas recomendam aos aposentados buscar interesses que os façam se sentir vivos e estimulados a prosseguir
Para o ex-atendente de almoxarifado Mário Pinho da Silva, de 58 anos, que se aposentou há um ano, parar de trabalhar não foi um problema. Após 39 anos de muito trabalho, sendo os últimos 20 dedicados a apenas uma empresa, ele não via a hora de se aposentar. Cansado de se dedicar tanto ao mercado de trabalho, ele queria descansar a mente e o corpo e correr atrás de uma tranquilidade que por muitos anos teve em pouca quantidade. “Estava ansioso para chegar a hora. Não achei tão estranha a mudança de rotina, pois estava cansado de trabalhar todos os dias”, conta.
Mário afirma que, depois de se desligar da empresa, passou a focar em si e em casa. A rotina dele? Ajudar a mulher nas tarefas domésticas, cuidar de um terreno que tem e tentar não se preocupar com nada. “Gosto também de assistir a jogos de futebol”, diz Mário, que torce para o Cruzeiro. Nos primeiros meses ele não chegou a sentir falta da rotina, mas demorou um pouco para se acostumar com a nova vida, pois não precisava mais se preocupar com serviço. “Minha rotina agora é ficar tranquilo. Não quero mais trabalhar fora, faço alguns serviços para mim mesmo e às vezes vou para o meu terreno, capino, descanso por lá.”
O aposentado acredita que para tudo na vida há um tempo certo, tanto para trabalhar quanto para descansar, para que, com isso, a pessoa passe a pensar mais em si e desempenhar outras atividades que a façam feliz sem depender de um emprego. Para ele, é necessário que ocorra uma rotatividade no mercado de trabalho. “Acho que quando chega a hora de se aposentar tem que dar lugar para quem precisa, como muitos jovens que estão aí desempregados. Quando parar, o aposentado tem que começar a fazer algo para se satisfazer.”
E especialistas garantem que, nessa transição pessoal, é importante que o indivíduo se prepare e procure interesses que gerem estímulo. “Pode fazer um novo curso, aprender uma nova língua, abrir um negócio próprio, viajar. Enfim, ter um foco de interesse que dê a ele estímulo. A pessoa não pode encarar a aposentadoria como alguém que parou e não tem mais o que fazer”, afirma a geriatra Cláudia Cassiquinho Vieira de Souza. Segundo ela, caso a pessoa não se prepare ela pode sentir mais essa perda e acaba tendo o risco de se isolar e com isso ficar deprimida.
Para não cair no comodismo, é interessante que o aposentado faça atividades que mantenham corpo e mente em ação. “Fazer atividades físicas é uma das coisas fundamentais para viver bem. É interessante também que a pessoa tenha espiritualidade, pois ela fortalece e dá sentido à vida”, diz. Cláudia afirma que ter uma aposentadoria tranquila requer um estilo de vida já trabalhado antes de essa fase começar. “Para envelhecer bem, a pessoa tem que viver bem desde antes. Não adianta ter uma vida inteira estressante, não cultivar o afeto com familiares e amigos e de repente envelhecer e querer tudo isso. Quem baseia muito sua vida em torno das relações de poder tem uma perda muito maior nesse momento, pois vai sentir muito mais e ficar mais passível de sofrer.”
ADAPTAÇÃO
Carlos Caetano, de 54, se aposentou há um ano e três meses, depois de 35 trabalhando como técnico de logística. Ele afirma que tinha outros projetos pessoais para desempenhar e que por isso se aposentar não foi uma dificuldade. Ainda assim, no início foi um pouco difícil. “A gente sente saudades da rotina, das pessoas, aquela coisa de levantar cedo e sair para trabalhar. Para mim não foi doloroso, mas no primeiro mês foi mais difícil pela questão de readaptação.”
No primeiro momento, Carlos tentou colocar a vida em ordem, viajar e descansar um pouco. “Organizei algumas coisas na minha vida e resolvi pendências financeiras. Antes, andava com a rotina meio tumultuada por causa do trabalho”, lembra. Passado esse período, Carlos começou a pôr em prática seus objetivos pessoais. “Gosto muito de decoração, e com minha mulher, comecei a trabalhar com decoração de festas infantis”, conta.
Além disso, um dos hobbies do aposentado é a marcenaria. “Antes de me aposentar, fui comprando alguns equipamentos e montei uma minioficina na minha casa. Faço os móveis para decoração de festas, como caixa para arranjo de flores, decoração de mesa, pequenos armários, banquinhos. Faço também carrinhos e outras pequenas coisas. Não é uma fonte de renda, é mais um hobby mesmo”, diz. Carlos trabalha em outro local como professor de português e literatura e, neste sim, ele não vê a hora de se aposentar. “Estou começando a desanimar mesmo”, afirma.
Segundo a psicóloga especialista em gerontologia e professora da PUC Minas Ana Cristina Pegoraro de Freitas, para ter uma aposentadoria tranquila é necessário que o indivíduo tenha um propósito de vida. “Temos em nossa sociedade esse paradigma de que aposentou, tornou-se velho. Mas o que vejo que muda é que as pessoas hoje estão buscando muitas coisas novas. São pessoas que se sentem bem cognitiva e fisicamente e os que não continuaram em trabalhos formais, estão em cooperativas, organizações não governamentais ou em atividades em casa.”
Para ela, não existe idade para testar novas coisas e viver diferentes experiências. “Projeto de vida é coisa de gente viva. Em qualquer idade você pode começar ou recomeçar algo que parou. Tem que trabalhar em prol da saúde psíquica. Dar sentido à vida é tudo e cada um tem uma maneira”, destaca.
DICAS PARA TER UMA APOSENTADORIA TRANQUILA
» Fazer parte de grupos de convivência e ter hábitos de relacionamento
» Fazer novas amizades
» Estar aberto para novos aprendizados
» Criar projetos de vida
» Ter boa alimentação
» Praticar exercícios físicos
» Ter espiritualidade é bem importante, pois a pessoa passa a ter mais consciência da vida
» Ter bom relacionamento com a família
» Planejar-se financeiramente
Foi isso que a bibliotecária Sônia Maria Penido de Freitas, de 67 anos, enfrentou em 1998, quando chegou a hora de se aposentar. Relutante em parar de trabalhar, ela continuou na empresa por mais 15 anos e em fevereiro percebeu que já era hora de descansar. “Quando me aposentei eu era muito nova, tinha 52 anos. Então, por que iria parar se lá na escola eles precisavam do meu trabalho? E continuei, pois estava bem de saúde, gostava muito do que fazia. Mas agora estava me sentindo cansada e percebi que aí, sim, era hora de parar”, diz.
Mas o tempo, agora mais amplo, passou a ser ocupado por uma das suas paixões: a leitura. Sônia afirma que tem lido pelo menos um livro por mês e atualmente lê o clássico Grande sertão: veredas, do escritor João Guimarães Rosa. “Sou apaixonada pelo trabalho dele e esse, que é considerado o mais importante de sua carreira, eu ainda não havia lido. Estou adorando”, conta.
saiba mais
-
Testes com idosos mostram que visão pode ser protegida por vitaminas
-
Aspirina em excesso colabora na perda de visão dos idosos
-
Idosos têm 12 vezes mais risco de morrer por dengue
-
Mais de 60% dos brasileiros não se preparam para a aposentadoria
-
Estudo mostra que monitorar passos rumo a um objetivo (perder peso ou parar de fumar) aumenta as chances de sucesso
-
Após campanha na internet, pai de belo-horizontina conquista novo emprego
-
Envelhecimento saudável é tema de debate em seminário internacional no Brasil
-
Mineira cria página comovente para ajudar o pai a conseguir um emprego
-
Brasileiros têm se planejado cada vez mais para o dia da aposentadoria
Para Sônia, antes de se aposentar a pessoa deve se planejar para esse momento, pensando em outras atividades para começar a desempenhar e não ficar no ócio. “A pessoa tem que se preparar para isso. Pois antes de parar totalmente eu tinha me planejado. Ela deve ver o que pode fazer depois, mesmo que seja algo diferente do que ela tem costume, como fazer flores, bombons ou outra coisa com a qual se identifique”, pontua.
Para a psicóloga especialista em gerontologia e professora da PUC Minas Ana Cristina Pegoraro de Freitas, todo ser humano é passível de se ajustar a novos hábitos, ou seja, a aposentadoria não significa um ponto final, mas sim uma nova fase em que a pessoa poderá realizar outros objetivos. “As pessoas podem se adaptar às mudanças, continuando ativas dentro do que é possível. Ao mesmo tempo que existem perdas, existem ganhos e isso faz com que a gente acredite que as pessoas possam continuar a viver com qualidade, mesmo depois de terem se aposentado”, explica.
Atividades prazerosas
Especialistas recomendam aos aposentados buscar interesses que os façam se sentir vivos e estimulados a prosseguir
Para o ex-atendente de almoxarifado Mário Pinho da Silva, de 58 anos, que se aposentou há um ano, parar de trabalhar não foi um problema. Após 39 anos de muito trabalho, sendo os últimos 20 dedicados a apenas uma empresa, ele não via a hora de se aposentar. Cansado de se dedicar tanto ao mercado de trabalho, ele queria descansar a mente e o corpo e correr atrás de uma tranquilidade que por muitos anos teve em pouca quantidade. “Estava ansioso para chegar a hora. Não achei tão estranha a mudança de rotina, pois estava cansado de trabalhar todos os dias”, conta.
Mário afirma que, depois de se desligar da empresa, passou a focar em si e em casa. A rotina dele? Ajudar a mulher nas tarefas domésticas, cuidar de um terreno que tem e tentar não se preocupar com nada. “Gosto também de assistir a jogos de futebol”, diz Mário, que torce para o Cruzeiro. Nos primeiros meses ele não chegou a sentir falta da rotina, mas demorou um pouco para se acostumar com a nova vida, pois não precisava mais se preocupar com serviço. “Minha rotina agora é ficar tranquilo. Não quero mais trabalhar fora, faço alguns serviços para mim mesmo e às vezes vou para o meu terreno, capino, descanso por lá.”
O aposentado acredita que para tudo na vida há um tempo certo, tanto para trabalhar quanto para descansar, para que, com isso, a pessoa passe a pensar mais em si e desempenhar outras atividades que a façam feliz sem depender de um emprego. Para ele, é necessário que ocorra uma rotatividade no mercado de trabalho. “Acho que quando chega a hora de se aposentar tem que dar lugar para quem precisa, como muitos jovens que estão aí desempregados. Quando parar, o aposentado tem que começar a fazer algo para se satisfazer.”
E especialistas garantem que, nessa transição pessoal, é importante que o indivíduo se prepare e procure interesses que gerem estímulo. “Pode fazer um novo curso, aprender uma nova língua, abrir um negócio próprio, viajar. Enfim, ter um foco de interesse que dê a ele estímulo. A pessoa não pode encarar a aposentadoria como alguém que parou e não tem mais o que fazer”, afirma a geriatra Cláudia Cassiquinho Vieira de Souza. Segundo ela, caso a pessoa não se prepare ela pode sentir mais essa perda e acaba tendo o risco de se isolar e com isso ficar deprimida.
Para não cair no comodismo, é interessante que o aposentado faça atividades que mantenham corpo e mente em ação. “Fazer atividades físicas é uma das coisas fundamentais para viver bem. É interessante também que a pessoa tenha espiritualidade, pois ela fortalece e dá sentido à vida”, diz. Cláudia afirma que ter uma aposentadoria tranquila requer um estilo de vida já trabalhado antes de essa fase começar. “Para envelhecer bem, a pessoa tem que viver bem desde antes. Não adianta ter uma vida inteira estressante, não cultivar o afeto com familiares e amigos e de repente envelhecer e querer tudo isso. Quem baseia muito sua vida em torno das relações de poder tem uma perda muito maior nesse momento, pois vai sentir muito mais e ficar mais passível de sofrer.”
ADAPTAÇÃO
Carlos Caetano, de 54, se aposentou há um ano e três meses, depois de 35 trabalhando como técnico de logística. Ele afirma que tinha outros projetos pessoais para desempenhar e que por isso se aposentar não foi uma dificuldade. Ainda assim, no início foi um pouco difícil. “A gente sente saudades da rotina, das pessoas, aquela coisa de levantar cedo e sair para trabalhar. Para mim não foi doloroso, mas no primeiro mês foi mais difícil pela questão de readaptação.”
No primeiro momento, Carlos tentou colocar a vida em ordem, viajar e descansar um pouco. “Organizei algumas coisas na minha vida e resolvi pendências financeiras. Antes, andava com a rotina meio tumultuada por causa do trabalho”, lembra. Passado esse período, Carlos começou a pôr em prática seus objetivos pessoais. “Gosto muito de decoração, e com minha mulher, comecei a trabalhar com decoração de festas infantis”, conta.
Além disso, um dos hobbies do aposentado é a marcenaria. “Antes de me aposentar, fui comprando alguns equipamentos e montei uma minioficina na minha casa. Faço os móveis para decoração de festas, como caixa para arranjo de flores, decoração de mesa, pequenos armários, banquinhos. Faço também carrinhos e outras pequenas coisas. Não é uma fonte de renda, é mais um hobby mesmo”, diz. Carlos trabalha em outro local como professor de português e literatura e, neste sim, ele não vê a hora de se aposentar. “Estou começando a desanimar mesmo”, afirma.
Segundo a psicóloga especialista em gerontologia e professora da PUC Minas Ana Cristina Pegoraro de Freitas, para ter uma aposentadoria tranquila é necessário que o indivíduo tenha um propósito de vida. “Temos em nossa sociedade esse paradigma de que aposentou, tornou-se velho. Mas o que vejo que muda é que as pessoas hoje estão buscando muitas coisas novas. São pessoas que se sentem bem cognitiva e fisicamente e os que não continuaram em trabalhos formais, estão em cooperativas, organizações não governamentais ou em atividades em casa.”
Para ela, não existe idade para testar novas coisas e viver diferentes experiências. “Projeto de vida é coisa de gente viva. Em qualquer idade você pode começar ou recomeçar algo que parou. Tem que trabalhar em prol da saúde psíquica. Dar sentido à vida é tudo e cada um tem uma maneira”, destaca.
DICAS PARA TER UMA APOSENTADORIA TRANQUILA
» Fazer parte de grupos de convivência e ter hábitos de relacionamento
» Fazer novas amizades
» Estar aberto para novos aprendizados
» Criar projetos de vida
» Ter boa alimentação
» Praticar exercícios físicos
» Ter espiritualidade é bem importante, pois a pessoa passa a ter mais consciência da vida
» Ter bom relacionamento com a família
» Planejar-se financeiramente