A gravidez é uma época que traz muitas dúvidas: o que faz bem, o que a mulher pode fazer, o que não pode, quais cuidados tomar com a saúde, além de toda a rotina médica essencial para que a gestação seja saudável. E uma questão que sempre levanta dúvidas é sobre a prática de atividades físicas durante o período. Se a mulher já tem o costume de se exercitar, é comum aparecer aquele instinto natural pedindo para diminuir o ritmo. Mas se a mulher não tem essa rotina, a tendência é de pensar que começar agora também não vai fazer bem. No entanto, especialistas alertam que a prática de exercícios pode trazer muitas vantagens, desde o alívio de desconfortos musculares e articulares até a diminuição das dores do parto.
De acordo com a ginecologista Cláudia Lúcia Barbosa Salomão, a atividade física na gravidez não é só bem-vinda, mas também é necessária. Dependendo do propõem, os exercícios podem auxiliar na diminuição de lesões esqueléticas, musculares e articulares, reduzindo as dores e melhorando o padrão cardio-respiratório da mulher. Segundo a médica, quando a mulher treina durante a gestação ela melhora sua resistência muscular e se prepara para um parto mais tranquilo.
A lógica é a mesma de um atleta praticando para uma competição. Quanto mais preparar seu corpo, mais chances ele cria de não ter complicações no grande dia. “O padrão cardio-respiratório ajuda muito a melhorar o trabalho de parto, uma vez que ela vai gastar muita energia. Assim como os exercícios que trabalham a flexibilidade e força muscular no assoalho pélvico e na musculatura abdominal. Isso porque a musculatura é muito utilizada no parto”, explica. “Além disso, pessoas que se exercitam frequentemente tem mais liberação de endorfina o que diminui a dor, então essas mulheres vão sofrer menos”, completa.
Pesquisas indicam ainda que a lactação pode ser beneficiada por exercícios durante a gravidez. “Algumas falam que mulheres que se exercitam lidam com o processo de lactação melhor, estão mais dispostas a amamentar e parece que também há uma produção de leite melhorada”.
E, é claro, quem se exercita e mantém o corpo em forma se incomoda menos com os quilinhos a mais da gravidez. No quinto mês de gestação, a advogada Bárbara Hoffman Versieux, de 31 anos, diz que as aulas diárias de hidroginástica ajudaram ela a se sentir mais confortável com o próprio corpo. “A hidro ajuda a manter a tônus muscular, assim a gente aumenta de tamanho, mas não fica flácida. Outra coisa boa é ficar dentro da água, porque a gente não sente tanto o peso da barriga e ajuda a relaxar”, diz.
Antes de engravidar, Bárbara praticava tênis regularmente. Mas agora, em sua primeira gravidez, ela preferiu procurar uma atividade mais tranquila e que apresentasse menos riscos para a bebê Laura. “Já tinha lido sobre os benefícios da hidroginástica e meu médico recomendou, porque minimiza os desconfortos e até diminui o inchaço. Depois de quatro meses fazendo eu acho que funciona bem”, afirma.
Cuidados
Vale ressaltar que quando a intuição diz para diminuir o ritmo, o conselho é válido. Nem todas as atividades podem ser feitas durante a gestação. Quem já estiver acostumada com alguma modalidade pode até continuar, mas só sob aval médico. “Ela vai ter que adaptar o ritmo de exercícios com a condição de estar grávida. Já quem nunca se exercitou pode começar, mas de maneira bem lenta e com mais atenção no primeiro trimestre, em que a gravidez é mais frágil”, pontua a ginecologista.
Os exercícios de impacto devem ser evitados, assim como outros que exigem a posição supina e mergulho. A fisioterapeuta Georgia Nunes Braga, também faz um alerta sobre a intensidade das atividades, que não devem ser extenuantes e nem gerar aumento significativo na frequência cardíaca e na pressão arterial.
De acordo com a fisioterapeuta, as transformações no corpo da mulher também demandam cuidados na hora de praticar exercícios. “A mudança gradativa do centro de gravidade com o aumento do volume abdominal pode provocar alterações no equilíbrio e o cuidado para prevenir quedas deve existir. Posições que comprimem o abdômen devem ser evitadas e, naturalmente, a gestante irá preferir posições de conforto. Atividades como ioga, pilates e hidroginástica são facilmente adaptadas e muito indicadas para gestantes”.
Uma das modalidades mais populares, especialmente entre as famosas, para combater as dores que aparecem ao longo dos nove meses é o pilates. Foi a proposta de um trabalho focado na musculatura que chamou a atenção da analista administrativo, Andréa Melo, de 35 anos. “Comecei porque estava tendo dores nas costas e com a gravidez, elas tendem a aumentar”, conta. “Realmente achei que as dores melhoraram bastante. Depois que comecei que fui descobri os benefícios específicos para grávidas, como a volta ao peso anterior e manter a forma. Acho que o pilates dá mais elasticidade e fortalecimento muscular. Ele também trabalha com a região pélvica, o que é bom para o parto”.
A fisioterapeuta explica que a gravidez traz algumas mudanças físicas no corpo da mulher cujas consequências podem ser alteração do centro de gravidade, dores pélvicas e lombares, distensão da musculatura abdominal, alterações respiratórias, fraqueza do assoalho pélvico. "Todas elas podem ser atenuadas praticando pilates", afirma.
Para a futura mamãe, o nível de dificuldade do pilates também é uma vantagem. “Quando a gente fica grávida, acaba ficando mais cansada mesmo. Acho que isso é natural para todas, então tanto o pilates quanto a caminhada são relativamente leves e fáceis de fazer, mesmo nesse período”.
Ajuda especializada
Algumas academias de natação e estúdios de ioga e pilates, em Belo Horizonte, oferecem aulas planejadas exclusivamente para esse público. A professora de Educação Física da academia Pingo D'água, Adriane Dambolena, destaca que é importante que esses tipos de programas sejam feitos para acompanhar as necessidades específicas de cada período da gestação.
No geral, os exercícios de hidroginástica favorecem a circulação, a postura, o equilíbrio e a musculatura. “O resultado mais importante é a facilidade que elas encontram na hora do parto. Além disso, tem a tranquilidade que elas também conseguem por meio do treinamento e o retorno rápido à forma física”.
Baixa adesão
Apesar das vantagens constatadas por praticantes e defendidas por especialistas, uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul comprovou que a prática esportiva ainda não é aderida por muitas gestantes. O texto, publicado em 2012 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que somente um terço da mulheres participantes da pesquisa relataram ter praticado exercícios durante a gestação.
A pesquisa ainda indica que essas mulheres eram as mais jovens, com maior escolaridade e as que receberam orientação médica. Com elas também foi registrado o menor índice de cesárias e menor ocorrência de natimortos.