Amor ou intuição, conheça histórias de mães que deram ouvidos a "voz" interior

Sentimento forte que chega como um aperto no peito ou uma sensação de que algo vai acontecer com o filho, a intuição de mãe é real e se manifesta em ocasiões especiais

por Luciane Evans 12/05/2013 09:00

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Edesio Ferreira/EM/D.A.Press
A professora Rachel Patrocínio e o filho Pedro, de 2 anos (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Os sintomas são os mesmos: aperto no peito, às vezes mal-estar e uma certeza que ninguém tira. Eles não têm hora para aparecer. Surgem a qualquer momento do dia ou da noite e teimam em dar o ar da graça nas altas madrugadas. Há quem diga que são como vozes de anjos ou de Deus que parecem soprar no ouvido frases do tipo: “volte para casa”, “ligue para ele” ou “está acontecendo algo.” Não se trata de uma epidemia, nem sequer uma doença, mas de um sentimento de que todos nós, no mínimo, já ouvimos falar e, muitas vezes, chegamos a duvidar. É mais comum de mãe para filho, mas o contrário também pode ocorrer. Hoje, no dia delas, o Bem Viver ouviu histórias de mulheres completamente diferentes entre si, mas com um mistério em comum: a intuição de mãe.

Quem nunca teve que dar razão àquele aviso materno, que mais parecia um alerta? Qual mãe já não sentiu aquele aperto no peito sem explicação e, depois, diante de um ocorrido com o filho, teve a certeza de que teve pressentimentos? Videntes? Paranormais? Que mistério é esse? Ainda não há um consenso entre especialistas sobre esse sentimento que ao mesmo tempo é tão comum entre elas, e tão particular para cada uma.

Para os parapsicólogos, trata-se de um fenômeno de comunicação telepática permanente que se manifesta em situações especiais. “A ciência já comprovou essa comunicação por vários estudos. É algo do nosso subconsciente. Toda mãe tem uma paranormalidade mais aflorada e goza de um potencial de observar mais as coisas”, acredita a parapsicóloga e coordenadora do Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico de Minas Gerais (Ipappi), Tânia Maria Salgado Dias.

Há psicanalistas que dizem que o mistério é um fenômeno quântico totalmente normal, devido ao elo forte entre mãe e filho. Porém, médicos apostam que, nessas histórias, há nada mais, nada menos do que a simples preocupação materna, que leva as mulheres a pensar demais em sua cria e, consequentemente, estar sempre ligadas a ela. “É uma coisa que somente quem é mãe sabe do que se trata, não tem como explicar esse sentimento que nos invade”, opina a assistente administrativa Adjane Ferreira Caetano Brito, mãe da pequena Beatriz, de 4 anos. No caso da professora universitária Rachel Patrocínio (foto), a sensação de que algo tinha acontecido com o filho, Pedro, de 2, chegou a afetá-la fisicamente. Ela passou mal e logo foi informada de que ele tinha se machucado na escola.

Para a aposentada Rosana Márcia Coutinho, mãe de Lucas, de 18, Paula, de 17, e Vinícius, de 15, essa sensação é a voz de Deus que alerta as mães sobre algo. “Não tenho ideia do que pode ser esse mistério, mas diante das sensações é difícil não acreditar em anjos da guarda”, afirma Cibele Mourao Rotsen, mãe de Lucas, de 4, e Nicholas, de 2.

Anjos, Deus, preocupação materna ou um fenômeno espiritual? Existe, afinal, essa tal intuição de mãe? “Existe e deve ser levada a sério”, aconselha Eunice de Freitas Lima, de 74, que é mãe, avó e bisavó, e tem certeza de que para esse assunto não há mistérios, mas sim, algo que somente o amor de mãe pode responder.

Relação de afinidade

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Eunice de Freitas Lima, de 74 anos, acreditava que o bisneto Artur, hoje com 5 anos, estava vivo, mesmo quando os médicos avisaram à mãe, que estava no nono mês de gestação, que o bebê nasceria morto (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Era 31 de maio de 2008. Os médicos já tinham reunido toda a família para avisar que o bebê de Renata Gandra nasceria morto. Renata, na época com 21 anos, e já com nove meses de gravidez, tinha ido ao hospital em Belo Horizonte para dar à luz. Para os enfermeiros e obstetras não havia mais o que fazer, a criança havia morrido, já que o ultrassom não acusava os batimentos cardíacos. Mas enquanto a família tomava as providências para o enterro, a bisavô da criança, Eunice de Freitas Lima, de 74, sorria e desafiava os médicos. Algo dentro dela dizia: seu bisneto está vivo. A intuição não falhou. Artur nasceu cheio de saúde e neste mês completa 5 anos. “Quando tenho o pensamento de que alguma coisa vai acontecer, acontece. Quando uma mãe fala, não se pode duvidar”, ensina Eunice de Freitas Lima.

Mãe de cinco filhos, essa senhora é pura intuição materna. O caso do bisneto virou lenda e a história é repassada entre os familiares, que até arrepiam só de lembrar da certeza que tinha a bisavó da criança, mesmo com toda a equipe médica dizendo o contrário. Mas Eunice revela que as suas intuições com filhos, netos e bisnetos são permanentes. “Às vezes, acordo de madrugada com uma vontade de ligar para um deles. Quando ligo, eles dizem: ‘Parece que a senhora adivinhou que eu precisava da sua ligação’”, conta. Católica e temente a Deus, Eunice não tem dúvida de que intuição de mãe é algo que existe e deve ser levado a sério, assim como a fé. “Pode acreditar, é algo que está dentro de nós.”

Para a parapsicologia, isso tem explicações. “Há estudos avançados, em uma visão holística de que não é a parte que está no todo, mas o todo que está na parte”, comenta o doutor em psicologia, filósofo e diretor-geral do Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico do Brasil (Ipappi), Pedro Antônio Grisa. De acordo com ele, a família é o todo e a mãe é o foco dela. “Todos nós nascemos do útero. A mãe, ou aquela que cria, é sempre atenta aos cuidados com os filhos, mais que os homens. Mentalmente há também essa ligação, que não se torna consciente constantemente.” Autor de quatros livros que abordam a ligação mental entre as pessoas, Pedro define o fenômeno como comunicação telepática.

Permanente

O pesquisador búlgaro Lozanov tinha uma afirmação: “O aluno se torna o que o professor espera dele. A atitude mental do professor é captada pelo aprendiz”, cita Pedro, comparando a frase à realidade de mães e filhos. “Há a mesma comunicação mental. É algo permanente, que se manifesta em situações especiais.” No instituto em que Pedro é diretor-geral, em Santa Catarina, foi feito um experimento para provar essa relação materna. “Os filhos foram submetidos a uma prova de conhecimento e a algumas mães foi pedido que pensassem nos filhos felizes e com aproveitamento na avaliação. Aqueles cujas mães mentalizaram isso tiveram até 30% a mais de aproveitamento no teste”, revela Pedro, que diz que tudo o que as mães pensam em relação aos filhos, eles captam.

Edesio Ferreira/EM/D.A.Press
A professora Rachel Patrocínio começou a passar mal quando o filho Pedro, de 2 anos, deslocou o cotovelo na escola e foi levado para o hospital (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Ele lembra que essa ligação é ainda maior com as crianças especiais. “Ali há um elo, um lado da preocupação maior, o que desenvolve a paranormalidade. E isso ocorre de mãe para filho, de avós para netos e bisavós para seus bisnetos”, diz. Com a professora universitária Rachel Patrocínio, de 37, essa ligação chegou a ser física. Mãe de Pedro, de 2, ela conta que há pouco mais de um mês o tinha deixado na escola, quando, ao chegar em casa, começou a passar mal. “Era um mal-estar, um enjoo e sentia algo ruim. Foi muito estranho”, recorda Rachel. Foi quando a escola do menino telefonou que essa sensação passou a fazer sentido para Rachel. “Pedro havia deslocado o cotovelo e precisou ir urgentemente para o hospital. Na hora, vi que tinha pressentido isso.”

Uma outra vez em que Rachel teve intuições foi com o marido Daniel, de 37. “Há três anos, estava na aula de spinning e, de repente, senti que tinha que voltar para casa. Nunca tinha abandonado o exercício dessa forma. Era um aperto no peito e algo me dizia que tinha que voltar. Cheguei em casa e Daniel estava desmaiado, no chão do banheiro. Teve pedras nos rins e precisou passar por uma cirurgia.” Rachel acredita que há uma ligação forte entre as pessoas, principalmente com os filhos. “Sempre fui uma mulher com sono profundo. Depois que me tornei mãe, estou sempre em estado de alerta. É como se tivesse um radar interno.”

Júlio Gomes de Souza, psicanalista, hipnoterapeuta e professor da Associação Mineira de Psicanálise, diz que a explicação mais plausível para esses ocorridos é a interconectividade. Ele conta que pesquisas internacionais já mostraram essa ligação em pessoas sem parentesco. “Houve um estudo em que duas pessoas foram separadas por uma gaiola eletromagnética. As intenções delas eram medidas por um eletroencefalograma. Em um determinado momento, um deles recebeu um feixe de luz que alterou o eletro. Mesmo sem receber esse feixe, a outra pessoa também teve o seu eletro alterado”, comenta Júlio, dizendo que, ao analisar dois indivíduos que nada têm a ver um com outro há uma comunicação mental, “imagine, então, entre mães e filhos?”. O especialista diz que a intenção maior nessa relação é o amor. “Seja aquela que cuidou da criança, não precisa ser a biológica, há uma ligação entre essas pessoas. É um fenômeno completamente normal”, afirma.

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Rosana Márcia não deixa que esse sentimento a faça controlar a vida dos filhos Vinícius, Lucas e Paula (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Preocupação, sem neuroses


Ainda que não haja um consenso do que realmente é essa intuição de mãe para filho, saber que ela existe é uma certeza materna que a ciência não pode negar. As mulheres que já sentiram esse aperto no peito, dores físicas ou até tiveram sonhos como pressentimentos dizem ter ficado mais atentas aos sinais, que não aparecem uma única vez. Especialistas aprovam esse estado de alerta, mas recomendam que os sintomas não podem se tornar uma neurose ou uma preocupação exagerada. Eles dizem ainda que essa comunicação mental é tão grande, que é possível, sim, que haja uma intuição de filho para mãe.

Que o diga a aposentada e motorista de transporte escolar Rosana Márcia Coutinho. Mãe de Lucas, de 18 anos, Paula, de 17 e de Vinícius, de 15. Ela conta que já teve sonhos que lhe avisaram de que algo não estava bem com o caçula “Uma vez sonhei que ele sofria um acidente. No outro dia, aconteceu algo com ele na escola.” O contrário também já aconteceu. Aos 3 anos, ele contou a Rosana que sonhou que havia alguém tentando machucá-la. “Ele diz que no sonho fez uma oração para mim. Na época, interpretei como um aviso. Estava passando por problemas para tirar carteira e mudei de autoescola. E consegui a habilitação.” Evangélica, Rosana aposta que a intuição são avisos de Deus. “Estou sempre atenta a eles, mas acho que isso não pode virar paranoia. Posso ter esse sentimento, mas não posso dirigir a vida dos meus filhos.”

Esse limite imposto por Rosana é ressaltado por Júlio Gomes de Souza, psicanalista, hipnoterapeuta e professor da Associação Mineira de Psicanálise. De acordo com ele, as intuições devem ser levadas em consideração, mas não podem se transformar em neuroses. Já para o médico, psicanalista e ex-presidente da Academia Mineira de Medicina, Geraldo Caldeiras, o ser humano já nasce muito carente e precisa do ser humano mãe para sobreviver. “Não há provas de que há essas intuições. As mães ficam superpreocupadas com os filhos e, em grande parte do tempo, pensam neles. Como elas pensam demais, estão sempre ligadas a eles. E, quando acontece algo, acham que foi pressentimento”, opina.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Desde o nascimento da filha Beatriz, de 4 anos, Adjane Ferreira está mais atenta ao que sente (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Quando a preocupação bate, a assistente administrativo Adjane Ferreira Caetano Brito, de 36, corre atrás de notícia da pequena Beatriz, de 4. “Quando ela estava com 1 ano e oito meses, ela estava na casa da minha mãe. Senti uma angústia e disse à minha mãe que tomasse cuidado com a escada da casa dela. Mas como a angústia não passava, resolvi ir embora do trabalho e quando cheguei, Beatriz tinha caído da escada. Fiquei tão nervosa que passei mal. O mesmo já aconteceu quando ela estava na escola e eu senti que algo não estava bem. Liguei e ela estava indisposta, teve uma virose”, conta. Adjane acredita que há algo além da carne nessa relação de mãe e filho. “Depois que ela nasceu, os meus sentimentos ficaram aflorados e estou mais atentas a ele”, garante.

Anjos da guarda

Quem também ficou mais crédula de seus sentimentos foi Cibele Mourao Rotsen, mãe de Lucas, de 4, e Nicholas, de 2. Brasileira, Cibele mora na Austrália e conta que, em 2011, quando veio ao Brasil com os meninos, Nicholas, então, com nove meses, gripou, ficou com febre e com muito catarro. “Levei-o ao médico e a recomendação era o uso de antibiótico. Ele nunca havia tomado um remédio desse antes e meu marido é alérgico a amoxilina, justamente a medicação recomendada. O Lucas já havia tomado antes e nunca teve problemas”, recorda. A médica resolveu arriscar. Comprei a medicação, mesmo resistente. “Mas tinha algo errado, não queria dar o remédio. Desconfiada, dei. Ele teve uma reação alérgica e teve que ser tratado com antialérgicos”, conta Cibele, que acredita que são anjos da guarda que sopram nos ouvidos das mães. “Sempre acreditei em intuição de mãe.”

A parapsicóloga Tânia Maria Salgado Dias diz que essa comunicação pode variar de filho para filho. “O primeiro filho de um casal, se for homem, terá uma ligação mais forte com a mãe. Já a primeira filha mulher terá com o pai.” Ela acredita que, independentemente da religião, todos os primeiros filhos de um mesmo casal têm essa ligação mais intensa. “Sou mãe de três, mas tenho mais intuição com Luciano, que é o meu primeiro.” Essa relação, segundo ela, vem desde a gravidez. “ O filho já traz no subconsciente as emoções que a mãe vivenciou. O nosso subsconciente é um mistério.”

FIQUE ATENTA

Sempre que sentir que está tendo uma intuição com o seu filho:


» Fique alerta, procure saber como ele está
» Observe esse sentimento e fique atenta a ele
» Não deixe que as intuições virem neuroses, elas servem como alerta de algo, mas podem ser apenas preocupação