“O novo algoritmo pode ajudar cientistas a aprender mais sobre como os anticorpos combatem o HIV. Essa nova abordagem permite entender melhor como é a resposta natural do corpo a esse vírus”, explica John R. Mascola, médico diretor do Vaccine Research Center of the National Institute of Allergy and Infectious Diseases, dos Estados Unidos. Mascola afirma que esse conhecimento é útil para cientistas que lutam pela criação de uma vacina “que estimule o sistema imunológico de pessoas não infectadas a produzir os bNAbs (anticorpos eficazes contra o HIV)”.
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O desenvolvimento da fórmula durou seis meses e contou com a participação de universidades e institutos dos Estados Unidos e da África do Sul. O consórcio de cientistas testou 30 bNAbs eficientes contra o HIV em 34 cepas diferentes do tipo 1 do vírus para desenvolvê-lo. Foram identificadas 10 digitais de neutralização. Segundo Mascola, a capacidade de ação dos anticorpos identificados chega a 90%, sendo que nenhum pode proteger 100% o organismo humano do HIV. “Além de nos ajudar a compreender melhor as repostas desses anticorpos, a nova ferramenta nos ajudará a descobrir outros tipos de bNAbs”, comemorou o Mascola.
Jorge Casseb, professor do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, ligado à USP, e médico no Instituto de Doenças Infecciosas Emílio Ribas, explica que, normalmente, soropositivos produzem anticorpos policlonais, ou seja, direcionados contra várias partes do vírus. Contudo, mesmo que o organismo produza defesas eficientes contra um determinado tipo de vírus, uma nova cepa de HIV pode se replicar no corpo. Por isso, é importante saber quais são os anticorpos com maior capacidade de neutralização. “Os anticorpos policlonais apresentam baixa afinidade ou capacidade neutralização. O nosso sistema imune sempre está atrasado, então, quando um anticorpo neutraliza uma variante do vírus, outra começa a replicar. Nesse caso, esses pesquisadores usaram uma metodologia capaz de identificar anticorpos mais eficazes.”
RNA
Denise Cantarelli Machado, professora do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), pontua que a fórmula matemática descoberta pelos pesquisadores pode ser usada para identificar regiões comuns de variabilidade não apenas para o HIV, mas também diferentes micro-organismos, como vírus da Hepatite C e do vírus da gripe. Segundo a médica, as mutações são comuns para todos os vírus com genoma de RNA. Ao contrário dos organismos que possuem DNA, eles têm mais probabilidade de anomalias ao serem replicados e não contam com mecanismos que corrigem naturalmente os erros de reprodução.
“O HIV, o vírus da hepatite C e o vírus da gripe possuem genoma de RNA, característica de várias famílias virais que, quando replicam, usam um mecanismo com grande probabilidade de mutações. Isso dificulta o desenvolvimento de vacinas e de estratégias de combate eficientes.” Ainda que exista uma grande variabilidade nesses micro-organismos, algumas regiões de sua estrutura são comuns, e o número de variáveis não é inifinito. “Assim, definindo essas regiões, um menor número de anticorpos seriam necessários para neutralizar o vírus”, completa Machado.
Segundo a pesquisadora brasileira, o grande desafio é entender como os mecanismos de mutação e defesa são desenvolvidos no organismo humano, principalmente nos vírus que possuem RNA. “Temos vacinas contra a varíola porque o vírus é de DNA, não tem muitas modificações. Quando nosso organismo recebe a vacina, ele produz anticorpos contra esse vírus. Caso haja infecção por essa doença, provavelmente será por um vírus muito semelhante ao da vacina, e o corpo terá anticorpos contra ele”, explica. Ela comemora o avanço: “Com certeza, terá uma importante contribuição para novas estratégias no desenvolvimento de vacinas, talvez para a dengue, que também possui vírus com RNA e até mesmo para outros patógenos, como a malária, causada pelo protozoário chamado Plasmodium”.