O aparelho foi divulgado na edição deste mês da revista Nicotine and Tobacco Research. Ele funciona por meio de microprocessadores que detectam as moléculas de nicotina em ambientes fechados. Depois de construído, o sensor foi testado com sucesso em um experimento. Numa câmara de fumo, 10 pessoas fumaram um cigarro ao mesmo tempo, durante oito minutos. Logo depois, ar fresco foi soprado no local por seis minutos. Após utilizar o sensor no ambiente, os cientistas conseguiram detectar as moléculas de nicotina que permaneciam no local, em tempo real.
Um dos criadores do sensor e professor de química de Dartmouth, Joseph BelBruno revela que um dos próximos passos é testar esse aparelho em ambientes externos. O líder da pesquisa também adianta que pretende deixar os sensores mais sensíveis e o custo do aparelho mais baixo. “O preço aproximado é de US$ 350, mas 80% desse gasto é devido à utilização de microcomputadores disponíveis comercialmente para controlar a plataforma de sensor. Esperamos desenvolver o nosso sistema para substituir os microcomputadores comerciais e reduzir os custos”, detalha o professor.
Segundo BelBruno, a ideia surgiu a partir do encontro de diferentes iniciativas. “O projeto evoluiu porque estávamos trabalhando em sensores para uma grande variedade de substâncias químicas ambientais, enquanto colegas da faculdade de medicina foram envolvidos em estudos para diminuir o tabagismo. Foi um trabalho em conjunto, em que todos se incentivavam”, conta.
Para ele, o dispositivo pode ser uma arma para conscientizar os fumantes passivos e alertar sobre os riscos de frequentar ambientes com a nicotina. “Acreditamos que, assim que os não fumantes perceberem que ainda estão expostos à fumaça do cigarro de maneira significativa, vão tomar medidas para reduzir a sua exposição, e isso vai levar a restrições e melhoria da saúde”, destaca o professor.
A preocupação é justificada. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente morrem por ano cerca de 6 milhões de pessoas devido ao tabagismo e à exposição à fumaça ambiental de tabaco. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que, em 2008, mais de 6 mil óbitos por doenças cardiovasculares e câncer foram provocadas pelo tabagismo passivo. O que significa que, a cada dia, ao menos 16 não fumantes morrem por doenças causadas pela exposição passiva à fumaça do tabaco.
Terceira mão
Além do tabagismo passivo, outro termo tem sido utilizado na medicina para definir a situação de risco: fumo de terceira mão. A expressão foi criada por pesquisadores da Universidade de Berkeley, na Califórnia, em um estudo publicado em 2009. No trabalho, os estudiosos provaram que óxidos de nitrogênio presentes no ar em centros urbanos reagem com a nicotina deixada pelo cigarro, transformando-a em uma substância muito perigosa: a nitrosamina.
A coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP, Jaqueline Issa, explica o perigo dessa substância. “Essas nitrosaminas são compostos cancerígenos, muito prejudiciais à saúde humana. O contato com elas preocupa o mundo todo. Na Califórnia, existe um movimento para proibir o fumo dentro dos carros por conta desse problema”, explica.
Issa considera aparelhos como o sensor de fumo passivo de grande valia. “Hoje, a tendência é entender melhor o real impacto do fumo de terceira mão, já que sabemos o quanto ele é poluente. Aparelhos como esse sensor são de grande serventia para adequar e limpar o ambiente. O melhor seria se as pessoas deixassem de fumar, mas, já que não temos como garantir isso, usamos alternativas”, diz a médica, que mantém o site www.deixardefumar.com.br.
Aplicativos
Várias novidades tecnológicas têm surgido para ajudar na luta contra o cigarro, grande parte delas no mercado de aplicativos para celulares e tablets. Programas como o Time To Quit Smoke (Hora de largar o fumo), Quit Now (Pare agora) e Parar de Fumar, por exemplo, mostram há quanto tempo a pessoa já está sem fumar e ainda mostra quanto dinheiro ela economizou por deixar o cigarro de lado.