“É comum as pessoas acharem que a dor é resultante apenas do clima frio, mas, nesse período, há um aumento significativo do diagnóstico de doenças que podem parecer assintomáticas nos dias quentes, como a artrose e as artrites em geral”, detalha Julian Machado, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da regional do Distrito Federal. A resposta por trás do aumento da dor no frio está na musculatura. Segundo a fisioterapeuta Íris Oliveira Dutra, o tecido se contrai involuntariamente, principalmente pelo fato de o indivíduo ficar mais tempo parado. Existe ainda o fato de as pessoas andarem mais encurvadas para tentar se proteger da baixa temperatura. Com isso, surge a vasoconstrição — processo de constrição dos vasos sanguíneos que reduz a irrigação muscular e faz com que o músculo leve mais tempo para exercer suas funções, ocasionando a rigidez muscular.
De acordo com o especialista em dor Carlos Gropen, por causar contratura muscular, o frio pode piorar uma dor preexistente, mas o desconforto causado unicamente pelo frio pode ser devido a algum problema clínico ainda não diagnosticado, chamado alodínia. “São sensações de dor provocadas por mecanismos não dolorosos, como tato, pressão e variações bruscas de temperatura”, explica.
Wesley Martins, de 50 anos faz parte da lista dos que necessitam de cuidados ainda mais especiais com a coluna durante as baixas temperaturas. “Tem que tratar e se cuidar. É nesse período de frio que os sintomas são mais presentes. Se eu não tivesse descoberto a tempo, hoje poderia estar em uma cadeira de rodas”, diz. O técnico em redes de telefonia demorou até descobrir que as crises eram sintomas de três hérnias de disco. “Foi difícil o diagnóstico. Eram atestados médicos um atrás do outro. Tomava injeções e voltava para casa”, lembra. “Um exame de ressonância magnética constatou que eu estava no início de uma quarta hérnia de disco.” Wesley acabou fazer uma cirurgia para reverter o quadro e se dedica às aulas de hidroterapia.
Postura inadequada, ganho de peso, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, controle inadequado de problemas clínicos, como o diabetes mellitus, e sobrecarga são alguns fatores que podem desencadear a dor nas costas. Mas o problema também pode estar associado ao fator genético. Segundo Gropen, existe um predisposição familiar a algumas patologias na coluna, como a artrose e a hérnia de disco. “Já foram identificados genes específicos, como o GDF5, o MCF2L e o FRZB, na predisposição à artrose mais grave e precoce”, afirma. A Organização Mundial da Saúde estima que 80% da população mundial teve, tem ou terá dor nas costas ao longo da vida.
Rotina equilibrada Entre os cuidados com a coluna, o ortopedista Julian Machado enfatiza a importância da prática de atividade física, além do uso de agasalhos para evitar a exposição prolongada ao frio. O alinhamento postural previne alterações na musculatura da coluna, mas é necessária uma adequação nos hábitos diários. “Alguns métodos podem ajudar na reabilitação, como o pilates, a reeducação postural global (PRG) e a hidroterapia”. Especializada em terapias manuais, Iris Oliveira Dutra também atesta a eficácia de outros métodos, como a mobilização neural, que consiste em avaliar os problemas neurais da irradiação da dor para determinadas partes do corpo; o método Mckenzie para tratamento na dor lombar; o Iso Stretching, que corrige as alterações musculoesqueléticas, disfunções de coluna e na postura; e a crochetagem, que usa um instrumento que lembra um gancho e é indicado para estimular a circulação sanguínea. “Vale frisar que essas técnicas não devem ser isoladas, elas atuam no complemento uma da outra para alívio da dor e tratamento”, diz.
Como a indicação é não ficar parado, a pintora Helena Vieira, de 43 anos, recorre ao balé para amenizar as dores nas colunas que ficam mais fortes durante o clima frio. “Descobri com um especialista que não tenho patologias, mas percebo que os alongamentos e os inúmeros exercícios ajudam a trabalhar a coluna”, diz ela, que frequenta a aulas duas vezes por semana. A professora de Helena, Flávia Tavares, confirma os benefícios. “Por se tratar de um exercício aeróbico, trabalha em conjunto a musculatura da coluna. Possibilita mais elasticidade, força muscular e o equilíbrio do quadril”.
A alimentação também é coadjuvante nesse processo. Para conter os estímulos dolorosos, a nutricionista Joana Lucyk sugere equilíbrio no consumo de ômega 6, presente em alimentos como óleos vegetais, milho, linhaça e gergelim. “O indicado é que seja uma dieta que contenha ômega 3, encontrado na linhaça, na canola, na semente de abóbora, no atum, na sardinha, no brócolis, na gema de ovo e no cassis”, pontua. Sobre o aumento da fome durante o tempo frio, Lucyk explica que, para driblar os excessos e aquecer o corpo, vale apostar em sopas que contenham substâncias bioativas presentes na cebola, no alho, no aipo, na soja, no pimentão vermelho e no tomate. “Uvas roxas e cupuaçu também atuam no controle da dor”, completa.