Não proíba, dê exemplo
No âmbito privado, o ponta-pé é encarar o cardápio da família – com a ajuda do pediatra ou nutricionista da criança – e fazer as mudanças necessárias. “O componente genético existe sim, mas a cultura familiar é mais determinante. O que a comida representa para aquela família? É um prazer ou uma necessidade nutricional?”, questiona a pediatra alergista e pneumologista Marisa Lages Ribeiro. “É complicado querer que a criança coma algum alimento se os pais não comem. Elas precisam ver os exemplos no dia a dia”, completa Dias.
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Escola
“Os pais devem orientar que certos alimentos não devem fazer parte da rotina, só na base da exceção”, afirma Marisa Lages Ribeiro. Mas quando se fala em escola, as especialistas são mais rígidas. “Na escola não pode nunca. A escola é lugar de criar hábitos saudáveis”, pontua a pediatra.
Cláudia cita, por exemplo, a limitação da lei que impede que as instituições de ensino proíbam os pais de levarem o que quiserem. “Ainda tem pai que acha que o filho deve comer o que quiser”, reforça. Por isso, para escolher onde colocar os pequenos para estudar a nutricionista recomenda observar a visão do lugar sobre os conceitos de saúde e alimentação. “Ser bonzinho para poder agradar os pais e não os deixarem chateados, não é por aí. Todos nós somos influenciados pelo contexto e a escola é um importante parceiro da família. Ela pode trabalhar os conteúdos no tema alimentação, ter uma cozinha experimental, explicar para que serve qual alimento”, complementa Marisa.
Ainda segundo Cláudia Dias, o ideal é que a escola tenha uma nutricionista que elabore uma lista contendo sugestões do que levar para o lanche e indicar os alimentos que não são permitidos. “Várias escolas oferecem lanches coletivos e saudáveis. Nesses casos, a hora da merenda se torna mais uma oportunidade de ampliar o consumo de alimentos saudáveis pelos alunos, além de facilitar a vida dos pais”, conta.
O que colocar na merendeira
“É comum observar que muitos dos lanches enviados de casa para a merenda são inadequados - tanto quanto a má qualidade nutricional, quanto aos riscos de contaminação microbiológica. São alimentos ricos em sódio, em açúcares e em gorduras, como os biscoitos recheados, chips, refrigerantes, pão com carne (que fica algumas horas fora da geladeira), balas e chicletes”, relaciona Cláudia Dias.
Veja exemplo de cardápio semanal:
Comportamento
A pediatria é uma especialidade médica de natureza preventiva. “É questão de necessidade que toda criança tenha o seu pediatra”, defende Marisa Lages Ribeiro. “Cabe ao médico a avaliação nutricional, de crescimento, desenvolvimento e vacinas. São nos atendimentos que o profissional detecta e orienta quando percebe os desvios de padrão”, completa.
No entanto, o atendimento médico a crianças tem cada mais se restringido a situações de urgência e emergência tanto na saúde pública quanto na privada. “Como as mães também estão no mercado de trabalho e não existe liberação do funcionário para consultas de rotina, o horário em que os pais estão disponíveis, os pediatras que fazem o acompanhamento já não estão trabalhando”, analisa.
Ela explica ainda que quando o profissional de saúde nota o ganho de peso além do desejado, vai investigar o cardápio familiar, como está a dinâmica da alimentação - quem compra, quem cozinha - se a menina ou menino come junto com a família, na frente da televisão ou fazendo as tarefas escolares. “Todos esses itens são importantes de serem avaliados”, salienta.
Com essas informações, o especialista orienta quais os alimentos indicados, a forma como se deve comer, a importância de estabelecer um horário certo para as refeições. Se mesmo assim, o pediatra nota a dificuldade da família em se adaptar, sugere o acompanhamento do nutricionista. Caso exista algum componente emocional junto com o sobrepeso, um psicólogo também vai contribuir e ajudar a identificar o que está por trás daquele quadro.
Novos alimentos, como introduzí-los
“Se a criança fala que não gosta uma vez, não é motivo para não oferecer novamente”, alerta Marisa. Ela explica que é preciso comer várias vezes o mesmo alimento para que se passa a gostar dele. “Se no primeiro contato, ele ou ela rejeitou, espere e ofereça depois de uns 15 dias”, sugere. Obviamente que ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas uma outra dica da profissional é variar a forma de oferecer o mesmo alimento. “Se não aceitou cenoura ralada, da próxima vez faça um purê, ou ofereça o alimento cozido”, indica.
“São necessárias dez experimentações para que a criança aprenda a gostar do alimento. Se recusou, não quer dizer que ela não gosta, quer dizer que ela ainda não aprendeu a gostar”, pondera Cláudia. Ela reforça também que é preciso que a novidade seja apresentada de uma forma tranquila e envolvida num clima de brincadeira. Outra recomendação é não chamar a comida pela cor e sim pelo nome correto dela. “Se tem um verdinho que a criança não gosta, ela vai acreditar que não gosta dos outros. Elas levam tudo muito ao pé da letra”, explica.
“Vale a brincadeira de desenhar carinha com os alimentos no prato e dizer: ‘não come meu olho’, por exemplo. A criança vai querer na hora”, sugere também. Levar os filhos para fazer as compras da casa, deixá-los participar ou observar o preparo do alimento é também uma forma de estimular o interesse dos pequenos pelo tema da alimentação.
Esconder a couve em um suco ilustra uma estratégia que muitos pais utilizam para que seus filhos comam alguns alimentos. A nutricionista não é totalmente contra, mas ressalta que essa não deve ser a única maneira de oferecer o nutriente. “É uma forma, sim, de fazer a criança ir se acostumando com o sabor, mas é legal dizer depois o que tinha no suco desde que a criança esteja receptiva para isso”, diz.
Indicação
Para quem ainda não viu, o Sáude Plena recomenda o documentário Muito Além do Peso, da diretora e roteirista Estela Renner.