Sua avó pode até falar que é coisa de dançarina exótica. E que natação é o único esporte completo. Mas pole dance é uma dança (ou seria um exercício?) que traz, em pouco tempo, corpo definido, pernas e braços tonificados, equilíbrio e autoconfiança. A atividade pode ser encarada como um esporte – o chamado pole dance fitness, que conta até com campeonatos mundiais – mas também como uma expressão artística. Alguns estúdios reúnem as duas coisas, delicadeza e força, em uma aula completa.
Com movimento muitas vezes semelhantes aos do balé, só que suspensos pelo poste, a prática exige o trabalho dos músculos da barriga para ajudar na sustentação quando se está de cabeça para baixo. Em uma hora, é possível perder entre 300 e 500 calorias e, além de trabalhar respiração, postura e equilíbrio, o pole exercita bíceps, abdômen, glúteos, pernas e musculatura da região pélvica.
Embora Rio de Janeiro e São Paulo concentrem o maior número de atletas de Pole Fitness, com foco em campeonatos, Belo Horizonte ganha espaço com a modalidade que privilegia também os movimentos mais coreográficos. É o caso do Studio Naiara Beleza, fundado por uma ex-ginasta e designer que hoje se dedica exclusivamente ao pole dance.
Qualquer pessoa pode praticar. “Uma das minhas piores alunas de aula experimental é hoje professora no meu estúdio”, brinca Naiara. Mas esse “qualquer pessoa” inclui os homens. Que o diga Matheus Rocha Moreira (28), designer e restaurador. Ele frequenta as aulas há um ano e conta que buscava algo não convencional, que trabalhasse a musculatura, a flexibilidade e resistência. Estimulado pelo pole dance, há quatro meses ele começou a fazer também aulas de circo.
Para a personal trainer Sabrina Kuroda Reis (27), praticante de pole dance há um ano, a paixão pelo esporte foi tanta que ela frequenta duas academias. “Em função dos horários diferentes, optei por ir a dois estúdios. Assim consigo praticar mais vezes”, conta.
Praticante de esportes há vários anos, ela buscava uma atividade diferente. “Eu trabalho com isso e sei que muitas pessoas, principalmente mulheres, não têm tanta paciência com a musculação. Como nenhuma aula de Pole é igual à outra, a quebra da rotina favorece a continuidade do aluno”, explica.
Matheus revela ainda um outro benefício. “O Pole favoreceu minha concentração e disciplina. Quando fico algum tempo sem treinar, percebo que fico mais disperso e tenso. A competição que travamos internamente para conseguir fazer uma acrobacia me ajuda a ter consciência do que meu corpo é capaz, e isso faz muito bem à autoestima”, revela o jovem, que já convenceu outros amigos a participarem de uma aula experimental.
Por enquanto, além dele, só um homem está na turma.
A professora
Ginasta desde os 8 anos, ela conheceu a dança aos 17, mas encarava como brincadeira. Simulava alguns movimentos em uma boate – comum – que frequentava com os amigos. Aos 18, já mais interessada nos benefícios que atividade poderia trazer, comprou alguns DVDs e passou a frequentar aulas no Vertical Studio, da professora Rinara França, pioneira no ensino do Pole Dance em Belo Horizonte.
O primeiro passo para a profissionalização foram as apresentações em eventos culturais de Belo Horizonte. A primeira foi no bar Nelson Bordello, próximo à Praça da Estação, há três anos. O bar fica em frente à Serraria Souza Pinto e logo abaixo do Viaduto Santa Tereza, onde os MC’s realizam duelos de rap e os jovens articulavam o movimento Praia da Estação. A Pole Dance de Naiara acabou integrando esse cenário efervescente, que logo depois desaguou no carnaval de rua. “Eu queria mesmo mostrar o Pole à cidade. Acontece que, com essas apresentações, sempre vinha alguém e me me perguntava: você dá aula?”, conta.
Naiara já estava fazendo alguns cursos. “De muitos, nem guardei o certificado, porque não achava que chegaria a ser professora e viver só disso”, conta, modesta. De pergunta em pergunta, ela acabou dando aulas em uma academia na região da Pampulha. Mais alguns cursos depois, abriu seu próprio estúdio, há exatamente um ano. “O Pole Dance, além de uma mudança de carreira, significa para mim, acima de tudo, diversão. É um exercício, sim, mas até o aquecimento é divertido”, diz Naiara, que aos 25 anos exibe seu corpo mignon e absolutamente definido em acrobacias quase inacreditáveis.
“O Pole trouxe mais autoaceitação. Eu era muito tímida, tinha vergonha de conversar com as pessoas. Tinha inclusive problemas com minha imagem corporal e cheguei a me achar gorda, sendo que sempre fui super magra. Outra coisa muito interessante é que, quando comecei, eu tinha uma energia represada que muitas vezes se manifestava em forma de raiva; e aos poucos essa energia foi canalizada na dança”, explica Naiara.
Isso não é para você
Matheus sabe bem o que é isso. “Sempre escuto que ‘isso não é para homem’, mas, na verdade, por ser homem, tenho até mais facilidade em fazer vários movimentos que empregam força. Sempre gostei de enfrentar desafios, e o preconceito é um deles”, revela. Sabrina também fala do preconceito. No início, o namorado viu com desconfiança. Hoje, ele apoia. Ela não contou de cara para o pai, mas isso acabou acontecendo naturalmente. “Agora, quando consigo fazer algum movimento mais complexo, tiro a foto e coloco imediatamente no Facebook. Meus amigos curtem e isso ajuda a quebrar esse preconceito”, conta. “No Pole, você compete com você mesma, e vencer cada desafio é muito gratificante. No início, você acha que não vai tirar o pé do chão. Agora eu já quero instalar um poste para treinar em casa”, comemora.
A estudante de psicologia Natália Dantas (21) não sentiu esse olhar crítico, nem entre a família, nem entre os amigos. Ela procurou a Pole Dance por ter interesse na estética burlesca e, principalmente, por ser um exercício completo. “Fiz apenas três aulas e acho que os resultados foram muito melhores do que em meses de academia”, comemora.
Entretanto, o estigma permanece. Em matéria recente sobre o Campeonato Pan-Americano de Pole Dance, realizado no Rio de Janeiro no último fim de semana, dentro da feira esportiva trazida ao Brasil pelo ator Arnold Schwarzenegger, as praticantes se revoltaram com os comentários deixados em diversos portais que destacaram a notícia.
Os internautas foram de “isso é falta de uma pilha de roupa para lavar” até “este é o esporte mais antigo do mundo”, passando por várias outras grosserias. Por essas e por outras, uma das alunas de Naiara, que trabalha na área de saúde, disse que mantém seu álbum de fotos de Pole Dance no Facebook fechado para um público selecionadíssimo.
Naiara Beleza não esconde que tem como uma de suas metas na vida desmistificar a Pole Dance. “Vou ficar satisfeita mesmo quando toda cidade mudar sua opinião. Ambição minha? Não, necessidade. Quero um dia, enfim, continuar com o que amo, receber respeito e conquistar respeito também para todas as praticantes. Que ninguém tenha que passar pelas situações que passei e passo", desabafa ela no site do estúdio.
Cuidados
Além de não se deixar levar pelos conceitos antiquados e limitados, são necessários alguns cuidados. Caso haja alguma lesão pré-existente nas articulações, principalmente do pulso, ombro ou coluna, uma avaliação médica é necessária. Pessoas com histórico de labirintite também precisam ser avaliadas. Por outro lado, os pré-requisitos não existem: mesmo que o iniciante seja sedentário, é possível pegar o ritmo aos poucos. “Eu mesma, que sofri lesões no joelho por causa da ginástica olímpica, me sinto bem no Pole porque não há impacto”, revela Naiara.
As aulas contemplam alongamento e aquecimento iniciais, e nenhum dia é igual ao outro, ou seja, perfeito para quem detesta a rotina da academia e de outros esportes. Por outro lado, se a pessoa já tem alguma experiência com ginástica olímpica, circo e outras danças, como o balé e o jazz, ela poderá evoluir mais rápido.
Se o objetivo for apenas aprender a dançar, uma vez por semana é suficiente. Mas, caso haja a intenção seja de perder peso e reduzir medidas de forma mais rápida, a carga pode ser aumentada para dois ou três dias na semana, de forma intercalada - com um dia de descanso - e contínua. Os resultados vêm em cerca de três meses.
A Pole Dance compreende o nível básico, que vai fornecer a resistência e o preparo dos movimentos iniciais de sustentação, equilíbrio e giros para que o aluno passe à segunda fase. No nível intermediário, a musculatura é mais exigida e algumas inversões já podem ser feitas. Nos níveis avançado e master, o preparo físico do aluno permite realizar acrobacias complexas na barra vertical.
Antes de arriscar a aula, alguns depoimentos no site do estúdio davam pistas animadoras: é um ótimo esporte para quem não está conseguindo sair do sedentarismo e odeia exercícios repetitivos. Outra aluna diz que a mãe a matriculou em todos as danças e esportes quanto era pequena – me indentidiquei com essa – e nada foi para frente. Acabou odiando educação física. Em outro depoimento, uma das alunas revela que tem fibromialgia – uma síndrome caracterizada por dores musculares no corpo todo, rigidez e problemas de sono – e que o Pole Dance a ajuda a enfrentar a doença e outros fantasmas. Bem, se a coisa toda é até terapêutica, eu, que em teoria sou saudável, posso arriscar, não é?
É chegar no estúdio, numa noite fria do mês de abril, e já tirar as roupas pesadas. Afinal a aula já vai começar e os alunos já estão todos devidamente vestidos – os homens, de sunga, as mulheres, de top e shorts curtos. Mas quem acha que o figurino é puro charme, saiba: é mais uma necessidade. Para que os exercícios no poste sejam bem sucedidos, é necessário o atrito da pele com o metal. Isso é tão importante que algumas alunas, mais experientes, utilizam um tipo de líquido aderente específico para ginastas e dançarinas.
Observo se as colegas têm manchas ou hematomas, porque ouvi dizer que isso é bem comum. Para minha surpresa, nada me chama a atenção. Talvez os roxos sejam mais frequentes entre as atletas dos campeonatos mundiais, cheios de regras e penalidades. Aqui, o clima é tranquilo, mesmo com a música agitada. Ninguém se lembra mais que está frio lá fora ou que tem qualquer insatisfação com o corpo. O sorriso é a expressão mais fácil. Ganha até do olhar ansioso de quem está tentando realizar uma acrobacia nova.
Embora os alunos digam que cada um começou por um motivo, nesta turma de quinta-feira, 19h30, pelo menos, ninguém apontou outro interesse que não a atividade física e o exercício completo. A sensualidade está ali também, claro. Mas, na verdade, acho que esse ingrediente tem mais a ver com a sensação de bem-estar. Quem está feliz é sensual sem esforço.
Já na primeira aula, é possível fazer os primeiros movimentos de giro e sustentação. Ainda que os primeiros giros não saiam perfeitos, a professora acalma: ‘é assim mesmo, com o tempo você perde o medo’. O que é incrível, porque a coisa toda parece impossível para uma marinheira de primeira viagem. Não é.
É claro que, logo de cara, você não vai conseguir fazer movimentos mais complexos de ponta-cabeça. Mas, a despeito do que os outros vão pensar sobre essa dança/arte/esporte ainda pouco convencional, a felicidade no rostinho que encabeça os corpos bem definidos de quem já é praticante do pole faz pensar que a persistência vale muito a pena.
Quer ir também?
O quê? Pole Dance
Onde? Naiara Beleza Pole Dance Art Fitness - Av. do Contorno, nº 5826 sl 213 Savassi – www.naiarabeleza.com e www.facebook.com/naiarabeleza.poledance - 8801-6510
Preço? Uma vez por semana: R$ 150/mês. Duas vezes por semana: R$195/mês
Investimento em equipamentos? Não é obrigatório, mas vários alunos utilizam o líquido aderente Max Grip, da pRoGrip Brazil (que também fabrica produtos para escalada), que custa em torno de R$25; e o líquido para limpeza do poste, por R$35. Outros praticantes preferem usar sapatilhas e luvas próprios, com valores entre R$30 e R$60. Além dos tops e shorts, é claro.
Pré-requisitos: Não tem. Mesmo.
Contraindicações: Gestantes, pessoas com histórico de labirintite e lesões graves nas articulações. Mas cada caso é um caso, então o ideal é consultar um médico antes de começar.
Dicas: Agende uma aula experimental e vá sem medo. A surpresa boa é garantida. Caso decida levar a prática adiante, esteja preparada também para brincadeiras maldosas no início. "Não adianta tapar o sol com a peneira": esta frase feita está aqui para lembrar que é necessário enfrentar (ou ignorar solenemente) as pessoas que ainda estão presas a estereótipos.
Avaliação final: O resultado da aula - não só para a aluna iniciante - é de riso fácil. Com endorfina no topo, mas correndo em rios de autocontrole, fica aquela sensação de “puxa, eu consigo!”
Outros estúdios em Belo Horizonte:
Vertical Studio – Rinara França – Rua Kepler, 488, São Bento - 2514-1664 | 2514-1665 www.verticalstudio.com.br
Spaço Femininaz - Rua Timbiras, 2.764 - Esq. com Av. Amazonas. Sobreloja 106 - Barro Preto - 3072.8062 www.spacofemininaz.com.br
Studio Helo Hallak - Rua Boaventura, 1.557, sala 214, Jaraguá - 9302-1140 www.facebook.com/studiohelohallak
Studio Kel Lacerda - Rua Nilo Aparecida Pinto, 48 - Bairro Planalto - 3492.4077 www.studiokellacerda.com.br/
A série Manual do Iniciante vai fazer um 'test drive' de atividades ligadas à saúde e ao bem-estar. Se você quiser sugerir um tema, mande uma mensagem para saudeplenauai@gmail.com