Inventor da técnica Preview Long Hair ou Transplante Folicular com Fio Longo - usada por médicos da Rússia, Índia, Canadá, EUA e América do Sul - o cirurgião plástico mineiro Marcelo Pitchon corrobora a experiência de Jorge: “o paciente calvo é muito preocupado com a discrição. Ele não quer que as pessoas saibam que ele fez transplante”. Segundo o especialista, hoje em dia, o tratamento começa cedo, e são muito raros os casos de calvície total. Por isso, o efeito natural é imprescindível. “As pessoas acham o paciente mais jovem, mais relaxado, mas não conseguem descobrir o que é. Emagreceu? Tirou férias? Essa questão da indetectabilidade, da discrição, da privacidade da cirurgia é crucial”, explica.
Incidência
Calvície não é exceção, queda de cabelo muito menos. Segundo Pitchon, entre 20 e 30 anos, 30% dos jovens têm algum grau de queda de cabelo. Na faixa dos 50 anos, a porcentagem sobe para 50%. Entre 70 e 80, a incidência chega a 80%.
No caso das mulheres, 30 a 40% delas apresentam queda de cabelo em torno dos 50 anos. A porcentagem dobra aos 60. Segundo o dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Rubem Mateus Miranda está ocorrendo uma mudança nessa tendência, ainda sem estudo para comprovar e explicar. “Mulheres mais jovens têm procurado tratamento”. Segundo Pitchon, 25% dos pacientes da clínica dele são mulheres. “O diagnóstico na mulher é mais complexo, condições várias camuflam e simulam uma queda de cabelo comum e esses distúrbios têm que ter avaliação plena e completa”. O especialista diz também que a negação do problema é maior em relação ao homem. “Para elas, é mais difícil conceber que estão tendo o problema e muitas vezes se deprimem”, afirma. Outra especificidade é o fato de a maioria das mulheres ter cabelo fino. “Elas vão perceber um raleamento do couro cabeludo quando já perderam 50% do que elas estão vendo”, completa Pitchon. Esses distúrbios que não são comuns nos homens precisam ser avaliados cautelosamente para saber qual procedimento adotar. “Não fazer nada às vezes é o melhor caminho”, declara ele.
Por outro lado, segundo Miranda, quanto antes começar o tratamento melhor, mesmo que ele se resuma à observação médica. “São mais de cem causas de calvície na mulher. A consulta médica especializada é crucial para tirar do caminho as causas que não são. Tem que descartar 99. É um trabalho muito meticuloso o de avaliação”, reforça Pitchon.
Alguns sintomas podem ajudar os pacientes a perceberem se a queda é normal ou não. “Qualquer mulher que note uma queda acima da normalidade - o cabelo está sempre 10% morrendo e 10% nascendo - que veja fios quebrando, que veja uma área mais clara no couro cabeludo ou que consiga ver o fundo do couro cabeludo, tenha um prurido intenso no couro, queimação, ardor, escamação ou secreção, já está tendo sinais de alguma alteração”, assinala o cirurgião.
O dermatologista Rubem Miranda salienta que as pessoas que têm casos de calvície na família podem procurar um especialista para avaliação e prevenção. Uma dica simples é observar quantas voltas se dá no elástico para prender o cabelo. Se tiver aumentando, é bom ficar atenta.
TIPOS DE TRANSPLANTES:
Transplante Capilar de Unidade Folicular (FUT)
A base de qualquer nova técnica de transplante capilar é e sempre será a FUT. O método mudou o curso da qualidade do implante de cabelo na história entre 1988 e 1992, segundo Pitchon. “Ele foi desenvolvido por um cientista americano do Texas e tornou-se pré-requisito mínimo para qualquer clínica que queira ter qualidade em transplante de cabelo”, explica. A técnica demanda o uso de microscópios para a produção e colocação dos fios transplantados. “Sem o uso do equipamento, até 50% dos fios podiam ser perdidos durante o processo”, diz o cirurgião plástico. Segundo ele, a FUT tornou-se a cirurgia mais eficiente com os resultados mais eficientes. “É o carro-chefe do transplante de cabelo no mundo hoje”, completa.
Follicular Unit Extraction (FUE)
A técnica FUE também é americana e há três anos chegou ao Brasil. No entanto, seu uso ficou mais usual de um ano para cá. “Quero confirmar para todos os meus seguidores que fiz um implante de cabelo. Estava ficando careca aos 25, então porque não tentar isso? Estou feliz com o resultado”. Foi assim que o atacante inglês Wayne Rooney anunciou aos seus seguidores no Twitter em junho de 2011 sua decisão. Ele ainda prometeu divulgar o resultado na sua conta no microblog e cumpriu.
Jorge também optou por essa técnica que preencheu a área de calvície da região frontal dele. Caso bem parecido com o do astro da seleção inglesa. “As entradas de calvície que eu tinha todas desapareceram”, afirma. Se ele recomenda? “Eu indicaria com a condição de um profissional com experiência e bem habilitado”, responde. O resultado máximo acontece entre o sexto e nono mês. “Os fios implantados caem e nascem os novos, que são os definitivos”, relata.
O dermatologista Rubem Mateus Miranda foi o responsável pela cirurgia de Jorge. Ele explica que a técnica usa fios do próprio corpo do paciente. A região mais utilizada é a nuca ou região occipital, para usar o termo médico. “Retiramos uma fatia de 1,5cm e separamos com microscópio bulbos com um, dois, três e quatro fios”, explica. A cirurgia é delicada, minuciosa e demorada, aproximadamente 6 horas. O paciente recebe anestesia local e sedação leve. “Fazemos microincisões na área afetada para colocar os fios”, explica. O procedimento custa R$ 12 mil e é referente a uma seção. Uma vez plantado, o cabelo não cai. “A tendência é permanecer para sempre”, afirma o especialista. Ele explica que a escolha pela região occipital não é aleatória: “é muito raro caso de pessoa que tenha receptores que levam à calvície nessa área”.
Rubem diz que em alguns casos é necessário repetir o procedimento. “Toda a área de calvície tem que ser plantada”, explica. Nesses casos, o intervalo mínimo que precisa ser respeitado é de 9 meses. A habilidade do profissional interfere diretamente no resultado. “O desenho tem que respeitar a anatomia da pessoa”, completa.
Uma microlâmina circular motorizada tem sido usada nesse tipo de transplante capilar. “O aparelho tira fio por fio de outras regiões do corpo como o peito ou a barba. Esses fios – que são um pouco mais grossos - são implantados na região mais posterior da área atingida e geram um volume maior e mais naturalidade”, esclarece o especialista.
A nova evolução aguardada é a chegada no Brasil de um robô para fazer a retirada desses fios. Atualmente, cerca de seis instrumentadores fazem o trabalho de retirada dos fios da fita doadora da região occipital. “A previsão é de a Anvisa liberar no ano que vem”, diz Miranda.
Pitchon enxerga a evolução tecnológica com ressalvas. “Mesmo quando for aprovado é importante entender o papel do robô, se é uma forma de diminuir o trabalho humano ou se ele traz vantagens para o paciente. A posição que a pessoa fica por longo tempo é uma posição incômoda . Sem o robô, o paciente pode mexer. Com ele, a cabeça tem que estar fixada, totalmente presa”. O cirurgião observa o que já aconteceu nos Estados Unidos. “Lá, a propaganda médica é autorizada e por causa disso, o profissional é obrigado a incorporar algumas tecnologias mesmo que seja para ele não usar”. Ele relembra a década de 90 quando se começou a fazer transplante a laser. “Todas as grandes clínicas compraram aparelhos a laser que em pouco tempo ficaram obsoletos. Comprovou-se que não era melhor para o paciente”.
Preview Long Hair
A técnica de transplante de fios longos, desenvolvida em 2004, promete uma precisão de qualidade artística e foi apresentada em inúmeros congressos internacionais com demonstrações ao vivo feitas por equipes mineiras. “Comparando grosseiramente é como se o médico fosse um paisagista. Antes só se trabalhava com a semente da flor”, defende o inventor do procedimento, o brasileiro e belo-horizontino Marcelo Pitchon. “Hoje, o profissional enxerga o que está fazendo. Antes, se exagerava no plantio de sementes, seja por não estar vendo o efeito estético que ia ter e também por que se colocava a mais para compensar as perdas por problemas técnicos”, explica o especialista que há 20 anos trabalha exclusivamente nessa área.
Nessa técnica, os fios também são retirados prioritariamente da região occipital só que não são cortados. A vantagem, nesse caso, é que o paciente sai da mesa de cirurgia sem mostrar as cicatrizes causadas pelo procedimento porque o tamanho dos fios é suficiente para tampá-las. “A recuperação do ponto de vista médico e do ponto de vista do paciente são inigualáveis. Do ponto de vista social, o paciente sai da cirurgia sem curativo porque o próprio cabelo esconde as marcas”, detalha Pitchon. Essa seria uma vantagem apontada pelo cirurgião em relação à FUE.
No entanto, é importante observar que os fios também caem para nascer os definitivos. “Quando a técnica foi inventada, já contávamos com isso. O importante é que com o fio longo conseguimos um monitoramento do que estamos fazendo”, encerra.
A cirurgia é feita com anestesia local e sem internação por um especialista e mais seis pessoas.
Pós-operatório
“O paciente quase não tem dor no pós-operatório e vai para casa no mesmo dia”, afirma o dermatologista Miranda. É proibido tomar sol durante um mês após o procedimento e em uma semana já se pode voltar a trabalhar. No tema atividade física, é preciso esperar três dias no caso de caminhada e uma semana para quem corre em esteira, por exemplo.
“Não senti dor ou desconforto. Logo depois do procedimento, aguardei um pouco e já estava liberado”, relata Jorge.
Mitos e verdade
- A alimentação pode influenciar na queda de cabelo. “Sabemos que os vegetarianos apresentam mais tendência porque tem menor quantidade de ferro no organismo”, afirma Miranda. No entanto, outros nutrientes são importantes e é preciso uma avaliação médica para ver a deficiência e tratar a causa.
- Terapias alternativas – como a carboxiterapia e a mesoterapia - são usadas sem nenhuma evidência científica. “É sempre bom procurar um dermatologista ou cirurgião plástico”, adverte Miranda.
- Xampus e cremes não interferem no quadro de queda de cabelo. “É mais lenda. A seborreia pode aumentar a quantidade de caspa e contribuir com a queda de cabelo”, afirma o dermatologista.
- Os tipos de escovas – como a progressiva, para citar a mais conhecida - podem causar danos físicos ao cabelo, mas apenas queimaduras químicas podem provocar a queda definitiva dos fios em alguma região da cabeça. Outra exceção é no caso de uma pessoa extremamente sensível ou alérgica. Mesmo assim, Pitchon acredita que nesses casos seria um erro de amador na concentração dos produtos químicos utilizados para alisar os cabelos. “A mulher tem que se precaver e procurar produtos adequados e profissionais responsáveis”, alerta o cirurgião plástico.
* A pedido do entrevistado, o nome foi trocado.