Esse tipo de ocorrência é mais comum do que parece e tem crescido. Em reação ao número crescente de doenças do coração que levam ao óbito, a Federação Mundial do Coração (FMC), alinhada com a Organização Mundial de Saúde (OMS), deu início ao projeto global “Reduzindo a mortalidade global em 25% até 2025” no Brasil. As entidades visam conscientizar a população da gravidade das doenças cardiovasculares (DCVs) e a importância da prevenção.
As DCVs são as maiores causadoras de mortes prematuras em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,3 milhões de óbitos por ano, 31,3% de todos os casos. No Brasil, esse número chega a 300 mil anualmente, ou uma morte a cada dois minutos. Os dados de toda a América Latina, incluindo o cenário brasileiro, também são preocupantes: 40% das mortes precoces ocorrem durante os anos mais produtivos de uma pessoa, antes dos 60 anos de idade. Entre as DCVs mais comuns estão o infarto, a insuficiência cardíaca e a hipertensão. Esta última tem um dia nacional dedicado à ela, que é na sexta-feira, quando ações de mobilização e conscientização da sociedade serão divulgadas.
No Brasil, os principais fatores de risco com alta incidência na população e que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares são o tabagismo, maus hábitos alimentares, hipertensão arterial, uso abusivo do álcool, obesidade e colesterol alto. “O tabagismo mata 50% de seus usuários. Sem contar os danos à saúde do fumante passivo. A proibição de fumar em locais públicos, em nível nacional, é fundamental. Assim como o acordo com a indústria para reduzir o sódio em seus produtos”, alerta a CEO da FMC, Johanna Ralston.
Jagat Narula, professor de medicina e cardiologia no Mount Sinai Hospital, de Nova York, diz que as pessoas precisam repensar seus níveis de colesterol. “Um bebê, que precisa de colesterol para crescer e desenvolver o cérebro, nasce com níveis em torno de 30 miligramas por decilitro (mg/dl). Com 3 anos, já atingiu níveis acima de 100mg/dl. Somos os únicos animais na Terra em que o colesterol supera a casa dos 100. O que definimos como normal, não é”, aponta.
Poucas frutas, legumes e exercícios
De acordo com a pesquisa telefônica nacional (Vigitel) feita em 2011 com adultos brasileiros pelo Ministério da Saúde, apenas 15% fazem atividade física de lazer; 18,2% comem frutas e verduras cinco ou mais dias por semana; 34% comem alimentos ricos em gordura; e 28% tomam refrigerantes em cinco ou mais dias por semana. Esses fatores de risco estão associados ao aumento do sobrepeso e da obesidade, que atingem, respectivamente, 48% e 14% dos adultos.
A doença cardiovascular é a principal causa de hospitalização no país, gerando o maior custo para o sistema nacional de saúde. Segundo levantamento feito em 2010 pela Global Burdenof Disease Study sobre a Carga Mundial de Doenças (CMD), a doença isquêmica do coração e o derrame foram, respectivamente, a segunda e a terceira causas mais comuns de mortes prematuras no Brasil naquele ano. A doença isquêmica do coração representou 9,9% da mortalidade prematura, enquanto o derrame, 7,3%.
De acordo com a médica Márcia de Melo Barbosa, que em junho será empossada presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia, há uma falsa ideia de que doenças cardíacas são coisa de gente rica. “Isso não é verdade. Está provado que as doenças não transmissíveis (DNT’s) são, efetivamente, as mais prevalentes na população de baixa renda. É a que tem menor controle dos fatores de risco como obesidade e pressão arterial elevada”, afirma.
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De acordo com o Ministério da Saúde, fatores de risco como tabagismo e obesidade são mais comuns entre a população de menor escolaridade e renda.
Embora a incidência de doenças cardiovasculares e doenças não transmissíveis (DNT) permaneça elevada, as políticas e os programas reforçados durante a última década alcançaram sucessos notáveis. Houve uma redução de quase 20% entre 1996 e 2007 nas taxas de mortalidade por DNT no Brasil, o que tem sido atribuído à expansão da saúde básica, à melhoria da qualidade dos serviços de saúde e a uma redução no consumo de tabaco (de 1989 a 2010, as taxas de tabagismo diminuíram de 34,8% para 15,1%).
As quedas nos índices de mortalidade foram especialmente notadas nas doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas. É importante ressaltar que a diminuição de mortes relacionadas às DNTs entre 1996 e 2007 foi menos acentuada nas áreas mais pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são as regiões com as maiores taxas de mortalidade por doenças não transmissíveis.
ESTRATÉGIA O plano de ação brasileiro deverá agora dar um passo à frente para que atinja seu objetivo geral: serão incluídos objetivos aprovados pela OMS sobre a pressão arterial alta, o principal fator de risco para as DCVs, bem como o tratamento medicamentoso para prevenir ataques cardíacos e derrames. Como o Dia Mundial da Saúde (7 de abril) teve seu foco na hipertensão, o plano brasileiro deverá reconhecer essa e outras metas da OMS.
O objetivo geral é alcançar uma de redução de 2% ao ano na mortalidade prematura por DNTs, o que está alinhado com os 25% da meta mundial da OMS para 2025. O atendimento básico de saúde foi ampliado significativamente nos últimos anos, com cobertura a cerca de 60% da população brasileira. Os indivíduos em alto risco e aqueles que apresentam doenças cardiovasculares podem ser tratados com medicamentos genéricos de baixo custo. Por exemplo, o uso de ácido acetilsalicílico (AAS), estatinas e anti-hipertensivos pode reduzir significativamente a ocorrência de eventos vasculares. Esses medicamentos são considerados "melhores compras" pela OMS. “Foi implementada no Brasil uma série de políticas e programas que ampliam cada vez mais o acesso a medicamentos para doenças cardiovasculares e outras DNTs. Elas são importantes também para os cofres públicos. Em 2011, 22% da verba do SUS com internações foi para pacientes com doenças cardiovasculares”, diz Débora Malta, coordenadora geral de Vigilância de Agravos e DNT do Ministério da Saúde.
As doenças cardiovasculares também estão entre os principais causadores de ônus econômico para as famílias e sociedade brasileira. De acordo com um estudo do Ministério da Saúde de 2007, a perda de produtividade e queda da renda familiar devido a diabetes, doenças do coração e acidente vascular cerebral no Brasil deverá causar prejuízos estimados em US$ 4,18 bilhões para a economia brasileira entre 2006 e 2015.
Prevenção
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) realiza, esta semana, ações comemorativas do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, celebrado em 26 de abril, centradas nas escolhas que as pessoas fazem ou podem fazer para viver mais. A campanha “Eu sou 12 por 8”, organizada pelo Departamento de Hipertensão da SBC, traz o slogan “Viver mais é uma escolha que você faz”. O material de divulgação fala da importância de fazer a medição da pressão arterial, consultar um médico periodicamente e ter um estilo de vida saudável. O pré-lançamento será amanhã, em Brasília, e, em BH, a ação ocorre no sábado, pela manhã, no Parque Municipal Américo René Giannetti, na Avenida Afonso Pena.
Saiba mais sobre a pressão alta
A hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença que ataca os vasos sanguíneos, coração, cérebro, olhos e pode causar paralisação dos rins. Ocorre quando a medida da pressão se mantém frequentemente acima de 140mmHg por 90 mmHg. O coração é a “bomba” responsável por fazer o sangue circular por todo o nosso corpo. A força com a qual esse potente órgão bombeia o sangue através dos vasos é chamada de pressão arterial. Ela é determinada pelo volume de sangue que sai do coração e a resistência que ele encontra para circular pelos vasos. A pressão considerada normal é aquela que, na média, é igual ou inferior a 12 por 8, ou seja, máxima em 120 milímetros e mínima em 80 milímetros de mercúrio (mmHg).
A hipertensão ocorre quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). Valores entre 12 por 8 e 14 por 9 são considerados limítrofes, ou pré-hipertensão, e podem merecer tratamento em alguns casos, conforme recomendação médica. Após os 55 anos, mesmo as pessoas com pressão arterial normal têm 50% de chance de desenvolver a hipertensão.
Metas globais até 2025
Uso nocivo do álcool: pelo menos 10% de redução relativa do uso nocivo do álcool, conforme o caso, dentro do contexto de cada país
atividade física insuficiente
Consumo de sal/sódio: 30% de redução relativa do consumo
médio de sal/sódio da população
Tabaco: 30% de redução relativa do atual predomínio do consumo de tabaco em pessoas de 15 anos de idade ou mais
Pressão arterial: 25% de redução relativa da predomínio de pressão arterial elevada ou contenção da predomínio de hipertensão arterial, de acordo com as circunstâncias de cada país
Diabetes e obesidade: frear o aumento de ambas as patologias
Terapia medicamentosa para prevenir ataques cardíacos e derrames cerebrais: recebimento, por pelo menos 50% das pessoas suscetíveis, de tratamento com medicamentos e aconselhamento (incluindo controle de glicemia) para a prevenção de ataques cardíacos e derrames
Medicamentos essenciais e tecnologias básicas para o tratamento das principais doenças não transmissíveis: disponibilidade, tanto nas unidades públicas como nas particulares, de 80% das tecnologias acessíveis básicas e medicamentos essenciais, incluindo genéricos, necessários para tratar as principais doenças não transmissíveis