Brasília – A partir deste sábado (19/11), o Brasil adotará nova classificação para microcefalia - grave malformação cerebral em recém-nascidos que pode ser causada pelo zika vírus, substâncias químicas e agentes biológicos (infecciosos), como bactérias e radiação. Mulheres grávidas com suspeita de infecção por zika devem fazer pelo menos dois exames de ultrassom durante a gestação e os bebês de mães que tiveram suspeita de zika terão de ser acompanhados até os 3 anos de idade. Isso porque muitas crianças apresentam, com o passar do tempo, problemas auditivos, visuais e de locomoção que não haviam sido identificados no nascimento (todas alterações relacionadas à infecção pelo zika vírus).
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Com a nova classificação no Brasil, a microcefalia passa a ser um sintoma da infecção congênita provocada por zika. “Há casos de bebês que nascem com perímetro cefálico considerado normal que, numa outra etapa, podem apresentar sintomas da doença”, acrescentou o ministro. A adoção do perímetro cefálico agora será mais restrita, segundo o Ministério da Saúde (MS). Serão considerados com microcefalia meninos com perímetro cefálico menor ou igual a 30,5. Até agora, a marca era de 31,9 centímetros. No caso das meninas, a queda na classificação também ocorreu: de 31,5 centímetros atuais para 30,2 centímetros. A síndrome pode ser diagnosticada até os 3 anos.
“Há ainda algumas dúvidas que precisam ser esclarecidas sobre o vírus”, afirmou Wanderson Oliveira, coordenador geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública do MS. Oliveira disse não ser possível ainda avaliar qual o comportamento da circulação do zika este ano. Como até agora não havia um teste rápido para identificar a infecção pelo vírus, os números sobre a doença registrados até então são pouco confiáveis. Além de não se saber qual população foi atingida até o momento, não há certezas sobre os efeitos do vírus no organismo de quem já teve infecção. “Essas pessoas podem ter uma proteção. Mas será que ela é permanente, duradoura?”, questionou Wanderson Oliveira.
SEGUNDO CICLO DA DOENÇA
O governo brasileiro decidiu manter a condição de emergência sanitária pelo menos até o fim deste verão, quando se encerra o ciclo de maior risco de transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti – zika, chikungunya e dengue. A estratégia de autoridades sanitárias brasileiras é aguardar o comportamento do vírus em 2017 e verificar a extensão de um eventual segundo ciclo de nascimentos de bebês com microcefalia. Esse segundo ciclo poderia representar um aumento da ocorrência de microcefalia de forma mais expressiva entre julho e novembro deste ano. Um fato que até agora não se confirmou. Entre outubro e novembro, foram notificados em média 82 casos suspeitos de microcefalia por semana. Uma marca 86% menor do que a registrada no mesmo período do ano passado. A maior parte dos casos está concentrada no Nordeste. Quando se analisa os dados por município, verifica-se que a maior marca de casos está em Salvador, com 154 casos confirmados. Em seguida vem o Rio, com 110, e Recife, com 64.
Comprovadamente, o zika pode ser transmitido pelo mosquito infectado e em relações sexuais onde um dos parceiros está contaminado. Mas esta semana, a divulgação de pesquisa internacional acendeu o alerta da comunidade médica: Steve Zhou, diretor de Virologia e Biologia Molecular dos Laboratórios Microbac, em Pittsburgh (EUA), afirmou que o vírus permanece ativo em superfícies duras e não porosas por até oito horas, o que representaria uma situação alarmante para a proliferação do zika.
ALERTA GERAL HÁ UM ANO
Em entrevista em Genebra, o diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS, Peter Salama, afirmou ontem que “a OMS não minimiza a importância do vírus zika”, mas o Comitê de Emergências considerou que é necessário um mecanismo técnico estável a longo prazo para organizar uma resposta global ao zika e aos problemas causados pelo vírus. “O zika continua sendo um problema muito importante (...) mas já não é uma emergência de saúde pública em nível mundial”, declarou David Heymann, presidente do Comitê de Emergências da OMS. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, comentou a decisão da OMS: “Vamos manter o status de emergência no Brasil até que estejamos completamente tranquilos com a situação. As consequências da microcefalia são muito graves. O Brasil está acumulando conhecimento sobre o assunto e precisamos manter a vigilância”, afirmou Barros. A situação de emergência nacional foi declarada em novembro de 2015, diante do aumento súbito de casos de microcefalia na Região Nordeste. Em fevereiro de 2016, foi a vez de a OMS declarar emergência mundial.