A prevenção das doenças cardiovasculares foi dividida classicamente em primária (para indivíduos assintomáticos) e secundária (para pacientes que já sofreram evento cardiovascular), mas atualmente essa classificação é considerada arbitrária, tendo em vista a sobreposição observada, por exemplo, em pacientes diabéticos. Portanto, as medidas de prevenção podem ser mais bem divididas em "prevenção a nível populacional" e "estratégias de prevenção em indivíduos de alto risco vascular".
Doença cardiovascular e câncer
A doença cardiovascular e o câncer continuam sendo as principais causas de morte em todo o mundo e têm mais em comum do que se pensava anteriormente. Na realidade, ambas as doenças compartilham muitos fatores e mecanismos predisponentes, com um histórico comum de inflamação de baixo grau. Portanto, tanto os cardiologistas como os oncologistas devem classificar os fatores de risco cardiovascular e de câncer e desenvolver estratégias para redução do risco em seus pacientes.
Tabagismo
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A estratégia mais importante na prevenção cardiovascular é manter um estilo de vida saudável. A dieta mediterrânea é considerada umas das estratégias mais custo-eficientes para a prevenção da doença cardiovascular.
Importante analisar o perfil metabólico do paciente, pois através dele posso permitir a estratificação dos indivíduos com base na resposta dietética e no risco de doença, o que facilita, portanto, intervenções dietéticas individualizadas.
Notadamente, a sobrecarga de ferro agravou enormemente os danos ateroscleróticos em estudos em animais, mas a deficiência de ferro associou-se a pior resultado em pacientes com insuficiência cardíaca. Dependendo do contexto, tanto o excesso como a deficiência de ferro podem ser prejudiciais à saúde cardiovascular.
Exercício
A atividade física se associa a uma redução dose-dependente da mortalidade por todas as causas e por doença cardiovascular. A atividade física deve ser iniciada na infância, uma vez que baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória em 1.078.685 adolescentes do sexo masculino foram associados mais tarde à incapacidade cardiovascular.
Obesidade
Mais de 66% das mortes atribuíveis a um elevado índice de massa corporal devem-se às doenças cardiovasculares, principalmente doença coronariana. Entre as dietas usadas para perder peso, o jejum intermitente ganhou maior popularidade, uma vez que se supõe que não apenas ajuda a diminuir o peso corporal, como também reverte o envelhecimento, aumenta a expectativa de vida e melhora várias outras condições crônicas, embora a maior parte das evidencias seja pré-clinica. A cirurgia bariátrica reduziu em até 60% os maiores eventos cardiovasculares, quando comparado em um grupo controle.
Diabetes
Na última década, grandes estudos de mortalidade cardiovascular em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 forneceram dados robustos sobre a eficácia dos agonistas do receptor do peptídeo-I, semelhante ao glucagon (representado aqui no Brasil pela semaglutida e outros), e inibidores do cotransportador de sódio-glicose do tipo 2 (representado aqui no Brasil pela dapaglifozina e outros) na redução de eventos cardiorrenais.
Como doença reconhecidamente vascular, o diabetes foi dividido pela Sociedade Européia de Cardiologia em três níveis de risco cardiovascular, que seja risco muito alto, alto ou moderado, e com seus níveis de LDL colesterol correspondentes. Essas drogas se mostraram muito eficazes em controlar o diabetes e reduzir a mortalidade cardiovascular.
Distúrbios do sono e depressão
Evidências emergentes têm sugerido a duração do sono e a depressão como fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Um estudo com 385.292 participantes no Reino Unido relatou que 10% dos eventos cardiovasculares podem ser atribuídos a distúrbios do sono. Em contrapartida, um padrão de sono saudável reduziu em 34% o risco de doença coronária e derrame cerebral.
Outros fatores do estilo de vida
Considera-se também que baixa escolaridade, baixa renda e estresse no trabalho são fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Para finalizar, nós, cardiologistas, estamos hoje diante de uma mudança radical na abordagem do paciente, seja ele portador de patologia cardiovascular ou não, tendo a mudança no estilo de vida e as novas drogas como os grandes estandartes na redução do risco cardiovascular.