Como surgiu o novo romance?
Eu escrevi, ao mesmo tempo que as histórias, como uma fuga ou jogo.
Além do formato, quais as diferenças mais evidentes entre As coisas que perdemos no fogo e Este é o mar?
O mais claro é o tom e, claro, o gênero. As coisas são histórias do que eu chamaria de terror realista, marcado pelo gótico, pela política e pela realidade social, especificamente a Argentina. Este é o mar é um romance fantástico, menos sombrio, sem elementos de terror e influenciado pela mitologia, rock e mitos antigos.
Como escritora, o que a atrai no universo do rock? Quais os nomes que mais a fascinam? Algum argentino entre eles?
Música acima de tudo. Eu escrevo com música, é uma grande influência na minha escrita e na minha literatura. E também mitologia: acho que o rock é o último mito do século 20, com suas narrativas épicas, seus mártires, seus heróis, sua estética. Eu sou fascinada por Nick Cave, Dirty Three, The Jesus & Mary Chain, Prince, Rolling Stones, Suede, Manic Street Preachers, Bruce Sprinsteen, Dylan, Iggy Pop, Cat Power, David Bowie, The Slits, Joan Jett, Sharon van Etten, PJ Havey, Kate Bush, Debbie Harry, Courtney Love, Nina Simone... Muitos. Em geral, não escuto rock em espanhol. Parece um pouco esnobe, mas é verdade. Portanto, não argentino em particular, embora eu goste de Spinetta, She Devils e Los 7 Delfines.
A expectativa dos fãs para um encontro com o ídolo James Evans rende uma das passagens mais impressionantes do livro. Descrever as reações das fãs, sem julgá-las, foi um dos objetivos de Este é o mar?
Não julgo os fãs. Eu entendo eles. Parte da escrita foi guiada pelo desejo de reivindicá-los, incluí-los no fenômeno como parte fundamental e dar-lhes um lugar que nada tinha a ver com zombaria ou desprezo.
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'Identidades' faz releitura do mito de Fausto e Mefistófeles diante de questões de gêneroMúsica vira mote para narrar história recente da Angola em 'Também os brancos sabem dançar'Em novo livro, Maurício Lara reflete sobre encontros e desencontros existenciaisAcho que há uma influência de Borges nas manipulações do mito – quando eu estava escrevendo, pensei em uma história como A casa de Asterión – então acho que é na tradição do Rio da Prata, mas com elementos pop contemporâneos.
Você seria a pessoa mais indicada para criar a lenda de Mike Scott? Teria interesse em escrever a biografia do líder dos Waterboys?
Eu era fã dos Waterboys e ele parece um personagem fascinante. This is the sea é um dos meus álbuns favoritos e é por isso que escolhi o título uma vez que decidi que Helena e as Luminosas eram criaturas marinhas. Mike Scott tem que ser escrito por alguém escocês, eu não sou a pessoa certa, ele é um artista muito local e muito influenciado pelo seu ambiente e pela história e música do seu país.
Como a atividade jornalística alimenta a sua ficção?
Nem tanto, eu acho. Talvez pelo estímulo constante de ter acesso a informações e objetos culturais; sou muito curiosa.
O que conhece e aprecia na literatura brasileira?
Conheço menos do que gostaria. Gosto de clássicos como Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, gosto muito de Adélia Prado, (Ronaldo) Correia de Brito, Ana Paula Maia, Luiz Ruffato. Eu quero ler (mas não sei se eles já foram traduzidos) Antônio Xerxenesky e Santiago Nazarian. Acho que vou gostar muito.
Onde está o terror na América do Sul nos dias de hoje? No sobrenatural, no cotidiano ou em todas as partes?
Especialmente no cotidiano.
Trecho do livro
“Era verdade que James estava cansado. Porém, sem a intervenção de Helena, chegaria à velhice, apesar da asma e da cocaína.
Este é o mar
De Mariana Enriquez
Intríseca
R$ 29,90