Ele surgiu como vilão que queria dominar o mundo com superpoderes a partir de um andarilho usado como cobaia por um professor, que deu a ele, diluído num café, um elemento químico descoberto num fragmento de meteorito. Sequestrou, matou, perdeu os superpoderes e voltou a ser miserável. Assim nasceu o Super-Homem há 80 anos, da imaginação do roteirista Jerry Siegel (1914-1996) e do desenhista Joe Shuster (1914-1992), ambos americanos. Ícone da cultura pop em quadrinhos, desenhos animados, séries de TV, filmes e produtos incontáveis, o pioneiro dos super-heróis da indústria norte-americana logo passou por mudanças radicais, que incluíram até viagem no tempo, até chegar ao seu perfil definitivo bem conhecido, disfarçado na pele do desajeitado repórter Clark Kent.
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Depois do sucesso inicial do Super-Homem, publicado pela primeira na modesta revista Art Comics, Jerry e Joe, ingenuamente e sem vislumbrar o potencial do personagem às vésperas da Segunda Guerra Mundial num mundo faminto por heróis, venderam os direitos autorais por apenas US$ 130. Enquanto editores, produtores e suas companhias, detentores dos direitos do super-herói, ficaram milionários, Jerry e Joe tiveram uma vida de grande dificuldade financeira, principalmente Shuster, que chegou a passar fome. A HQ de Voloj e Campi reconta em traços primorosos uma das mais importantes guerras judiciais por direitos autorais da história.
Apenas em 1975, já aos 61 anos, Jerry e Joe, com a saúde abalada, conseguiram finalmente ser reconhecidos nos tribunais como criadores do Super-Homem. Isso depois que Jerry – ao descobrir que a editora National Periodical Publications receberia milhões de dólares pela produção do filme Superman para o cinema –, conseguiu sensibilizar produtores de HQs e parte da mídia com uma longa e dramática carta pública contando sua luta e a de seu parceiro pelo reconhecimento da paternidade do Super-Homem.
“A National Periodical Publications Inc. matou meus dias, assassinou minhas noites, sufocou minha felicidade, estrangulou minha carreira. Considero os executivos da National assassinos econômicos, monstros malucos por dinheiro. Joe está parcialmente cego. Minha saúde não é boa. Nós dois estamos com 61 anos. A maior parte das nossas vidas durante o grande sucesso do Superman foi passada na necessidade”, desabafou Jerry na extensa carta. A pressão funcionou e parte da mídia iniciou exitosa campanha publicitária pelo reconhecimento dos dois artistas que chegou aos tribunais. A Warner Bros concordou em dar crédito a Jerry e Joe todas as vezes que usasse o personagem, às vésperas de produzir o filme, lançado em 1978 e estrelado por Christopher Reeve (1952-2004). O livro de Voloj e Campi não revela, mas a DC Comics, também dona dos direitos, assinou acordo para remuneração vitalícia de US$ 20 mil por ano aos dois.
A graphic novel de Voloj e Campi conta e ilustra muito bem uma história de vida emocionante e revela o que muitas vezes passa despercebidodo grande público: a falta de reconhecimento de artistas mundo afora que veem suas criações engolidas pela ganância do lucro, neste caso superganância, que deixou milionária parte da indústria cinematográfica americana.